Os Óscares 2016 têm sido alvo de severas críticas por parte de toda a comunidade cinéfila. Realizadores, atores e fãs apoiaram-se na “hashtag” #ÓscaresStillSoWhite para mostrar o seu desagrado em relação ao facto de, pelo segundo ano consecutivo, nenhum negro constar dos nomeados nas principais categorias. Mas não é tudo: também as desigualdades entre homens e mulheres têm gerado polémica este ano.

Uma das questões apontadas é a falta de representação feminina nas nomeações. Um estudo do Centro Media para as Mulheres analisou as últimas dez edições dos Óscares e concluiu que o sexo feminino representa apenas 19% dos nomeados para as categorias que não envolvem representação. Ou seja, apenas 327 mulheres foram nomeadas, enquanto que os homens receberam 1387 indicações nessas áreas.

Uma proporção inferior a uma mulher para cada cinco homens, e que a presidente do Centro, Julie Burton, atribui “às políticas de contratação do meio”. “Há uma clara ligação entre o número reduzido de mulheres contratadas para empregos por trás das camaras e a parca representação feminina nas nomeações para os Óscares”, disse Burton, numa entrevista à revista Variety.

“Se eles não estão a contratar mulheres nestas áreas, elas nunca vão ter a chance de ser reconhecidas pela sua excelência”, frisou. O estudo referiu ainda que, se mais mulheres fossem contratadas, “a indústria cinematográfica ia refletir melhor o público”, maioritariamente feminino.

Depois de toda a polémica das nomeações, a Academia prometeu “novas regras para assegurar a diversidade nos Óscares”, algo que Pat Mitchell considera “tardio”. A representante do Instituto Sundance e WMC referiu à Variety que “a quantidade de realizadoras, produtoras e protagonistas no Sundance Film Festival, ano após ano, é prova suficiente de que não há nenhuma falta de talento, histórias ou filmes para comemorar”. “O problema é a visão de Hollywood, o que escolhem para premiar como representativo e como o melhor”, concluiu.

A representação feminina nos Óscares 2016

Os números falam por si: segundo as contas do JPN, apenas 24% dos nomeados deste ano são mulheres. Nas categorias de “Fotografia”, “Edição de Som”, “Mistura Sonora” e “Banda Sonora” não há participação feminina.

Também na categoria “Realização” não há nomeadas. Na verdade, a última e única vencedora mulher foi há seis anos. Kathryn Bigelow foi premiada pelo filme “The Hurt Locker” e faz parte do reduzido número de nomeadas na categoria: apenas quatro em toda a história dos Óscares. Algo que tem chocado os peritos, uma vez que nomes como Ava Duvernay (“Selma“), Andrea Arnold (“O Morro dos Ventos Uivantes“), Lisa Cholodenko (“Minhas Mães e Meu Pai“) e Debra Granik (“Inverno da Alma“) foram postos de parte nos últimos anos.

As restantes categorias são maioritariamente constituídas por homens. Nenhuma é dominada exclusivamente por mulheres, mas há uma maioria feminina na categoria de “Guarda-Roupa”.

No entanto, este ano a representação é bastante mais distribuída que nos anos anteriores. Nas categorias de escrita (“Argumento Original” e “Argumento Adaptado”) estão quatro nomeadas (Meg LeFauve –”Divertida-mente“, Andrea Berloff – “Straight Outta Compton –  A História do N.W.A“, Phyllis Nagy – “Carol” e Emma Donoghue – “Quarto“) e nas categorias de “Montagem” outras três (Maryann Brandon e Mary Jo Markey – “Star Wars: O despertar da força” e Margaret Sixel – “Mad Max: Estrada da Fúria“).

“Por que é que faço menos que o meu colega homem?”

Outra questão que tem vindo a assombrar os prémios da Academia é o facto das mulheres receberem muito menos que os homens, nomeadamente em filmes para os Óscares. Jennifer Lawrence, nomeada para “Melhor Atriz Principal” pelo filme “Joy“, tem sido uma das vozes mais ativas na questão da igualdade salarial.

Tudo começou em 2014, quando um ataque informático à Sony revelou que Lawrence e outras atrizes de Holywood recebiam muito menos que os seus colegas homens (inclusive em papéis de igual importância). Desde então que a atriz não tem poupado críticas à indústria do cinema e tal é visível num ensaio que escreveu para a “newsletter” feminista de uma amiga, ao qual deu o nome de “Por que é que faço menos que o meu colega homem?”.

“Quando descobri que estava a receber muito menos que os meus colegas homens, não fiquei chateada com a Sony. Fiquei chateada comigo própria. Falhei como negociadora porque desisti demasiado cedo”, confessou Lawrence.

Amy Pascal, na altura vice-presidente da Sony, revelou numa conferência que “cabe às mulheres, não aos estúdios, exigir o seu valor”. “O problema é: eu giro um negócio. Se as pessoas querem trabalhar por menos dinheiro, eu vou pagar menos”, esclareceu. Declarações que vieram levantar uma série de questões sobre a importância dos agentes. Lisa Kudrow, que participou na série “Friends”, disse ao The Guardian que “as mulheres e os seus agentes precisam de insistir”. “O que Pascal quis dizer às atrizes foi ‘façam-me pagar-vos mais’”, afirmou a Kudrow.

No entanto, já outras atrizes se queixaram da mesma questão: Patricia Arquette, no seu discurso dos Óscares 2015, foi uma delas.

Remunerações por filme

A discrepância entre o pagamento feito aos atores e atrizes é visível nos nomeados para as categorias de representação deste ano.

Nos dez primeiros lugares encontram-se apenas quatro mulheres. A mulher mais bem paga ocupa a terceira posição: Jennifer Lawrence arrecadou 10 milhões de dólares pelo filme “Joy”. Menos de metade do que o líder da tabela, Leonardo DiCaprio, recebeu pelo filme “O Renascido”.

A segunda mais bem paga foi Cate Blanchett, que conseguiu cinco milhões de dólares pelo filme “Carol”. A atriz ficou atrás de Christian Bale, que apesar de ter interpretado um papel secundário, recebeu mais dois milhões de dólares que Blanchett.

Brie Larson, nomeada para “Melhor Atriz” pelo filme “Quarto”, ocupa a última posição. Michael Fassbender, nomeado para a mesma categoria, foi o que recebeu menos do setor masculino. No entanto, arrecadou 24 vezes mais que a atriz.

O ator masculino que menos recebeu foi Sylvester Stalone pelo filme “Creed”, tendo arrecadado, ainda assim, quase o dobro do que a atriz no fundo da lista.

Contudo, é de salientar que Rachel McAdams recebeu mais que o colega Mark Ruffalo por papéis semelhantes, no mesmo filme.

“Uma mulher com mais de 40 anos tem sérias dificuldades em conseguir o papel de protagonista num filme”

George Clooney vai mais além. O ator concorda com o facto de as mulheres serem mal pagas, mas acima de tudo considera que “uma mulher com mais de 40 anos tem sérias dificuldades em conseguir o papel de protagonista num filme dos Óscares”. A escolha de protagonistas mais novas é algo normalmente visto como uma tentativa de agradar aos membros votantes da Academia, 77% dos quais homens entre os 60 e 70 anos.

Segundo as contas do JPN, a grande parte das nomeadas para “Melhor Atriz” nos últimos dez anos concentram-se, essencialmente, entre os 20 e os 40 anos. É de salientar que nas últimas edições a problemática apontada por Clooney parece tornar-se um tendência: em 2015, quatro das cinco nomeadas tinham menos de 40 anos; em 2016, são três.

 

Artigo editado por Sara Gerivaz