O Governo pretende pôr fim às disparidades entre homens e mulheres no mundo de trabalho. Nos próximos três anos, o objetivo é que pelo menos um terço das mulheres exerça cargos de gestão nas empresas. Para já, a medida está pendente de aprovação. Será apresentada à Concertação Social, de modo a ser discutida pelas entidades patronais e pelas centrais sindicais.

Os CTT são uma das empresas cotadas na Bolsa portuguesa e, como tal, terão a obrigatoriedade de aplicar a medida do Governo, caso venha a ser aprovada. Helena Campos, chefe de um dos gabinetes financeiros da empresa, acredita que esse caminho já tem vindo a ser feito e dá um exemplo: “No que respeita ao diretores de primeira linha, [nos CTT] é metade metade” entre homens e mulheres”, afirma ao JPN.

A trabalhadora dos CTT acredita que a divisão de trabalho entre os dois géneros “está extremamente bem equilibrada”, no caso daquela empresa, e defende que tal não deveria ser visto como uma imposição, mas sim como “uma situação natural, pelo papel que a mulher vem a desempenhar”. A mulher deve “afirmar-se enquanto profissional e não enquanto mulher”, declara Helena Campos.

A diretora da Associação de Exportadores de Vinho do Porto, Isabel Marrana, acredita que a proposta do Governo não terá impacto nas empresas que, como a que lidera, não estão cotadas em bolsa nem mesmo nas empresas abrangidas pela medida. “Não é assim que as mulheres vão conquistar os lugares. Não é por o Governo [assim] decidir”, segundo afirma.

Também Sandra Lopes, que foi coordenadora do projeto “Empreender no Feminino”, preferia “que não houvessem quotas para nada e que as mulheres tivessem igualdade de oportunidades”. Apesar disso, considera a ideia “uma discriminação positiva”.

A empreendedora do projeto lembra que já foi feito um grande percurso no que respeita à situação laboral das mulheres em Portugal e que hoje “há uma boa taxa de empregabilidade feminina”. No entanto, ressalva: “ela aplica-se nas profissões menos bem remuneradas e mais básicas”.

Isso traduz-se nos dados do Instituto Nacional de Estatística, que indicam que, em 2011, o salário médio mensal das mulheres era 20,1% mais baixo do que o dos homens. Hoje, as empresas cotadas do PSI-20, não têm nenhuma mulher na liderança. A última foi a presidente-executiva da EDP Renováveis, Ana Fernandes, em 2012.

Sandra Lopes reconhece que “as mulheres têm mais dificuldades em chegar a esses cargos” e isso é justificado “muitas vezes porque as mulheres não têm a mesma disponibilidade, porque têm filhos, por exemplo”. É uma realidade do mundo laboral, mas que resulta, segundo a coordenadora do “Empreender no Feminino”, de um “fator cultural que está muito entranhado na sociedade, o de achar que os homens são naturalmente melhores, mais disponíveis, mais capazes.”

Neste sentido, antes de uma mudança no mercado de trabalho, tem de se agir na igualdade entre os géneros na sociedade em geral, na opinião de Sandra Lopes, pois “enquanto a mulher for a ‘cuidadora’, isso também a vai prejudicar no mercado de trabalho”.

Que caminho falta percorrer?

A intenção do Governo é que a medida se aplique, numa primeira fase, às empresas cotadas em bolsa. O objetivo é chegar a todas, a longo prazo, de modo a alcançar o fim da precariedade no trabalho feminino. As mulheres ouvidas pelo JPN dizem ser já um avanço. Há, porém, ainda um longo caminho a percorrer.

A coordenadora do projeto “Empreender no Feminino” afirma que “as empresas não têm muita consciência desta temática”. Falta chegar às “empresas pequenas” e, para isso, “tem de haver um esforço de sensibilização ainda maior, senão passará despercebido”.

Sandra Lopes considera ainda que deviam ser implementadas outras medidas, como “medidas de conciliação, de trabalho/família”, “uma distribuição mais equilibrada [nas licenças de maternidade]”, “medidas que obriguem a distribuir as idas ao médico [entre homens e mulheres]” e uma “revisão do salário das mulheres”.

Já Isabel Marrana, da Associação de Exportadores de Vinho do Porto, não crê que o caminho seja esse, pois “o tecido empresarial não se forma por decreto”. A diretora da empresa diz “não fazer sentido algum haver dificuldades de acesso pelo género”. O acesso à profissão deve, na sua visão, fazer-se “pelas capacidades” de cada um.

Paula Santos, Sandra Lopes e Isabel Marrana partilham a opinião de que a mudança da situação laboral das mulheres tem início na mutação da cultura. A esperança é a de que “as gerações vindouras farão naturalmente este papel”, como conclui Paula Santos.

Infografia por: Mónica Moreira

 

 

Artigo editado por Filipa Silva