O desemprego e a exclusão social partilham entre si uma relação cada vez mais próxima. No entanto, querer mudar de vida e ingressar de novo no mercado de trabalho são objetivos possíveis de concretizar.

Armando Leite e Miguel Morgado são dois dos 23 exemplos de sucesso, que ao fazerem parte da iniciativa “Capacitar Hoje (CAHO)”, promovida pela associação CAIS, viram a sua vida tomar um novo sentido e conseguiram assim deixar para trás o longo tempo de espera por uma nova oportunidade de emprego.

Aos 46 anos, Armando Leite é um dos muitos rostos do desemprego prolongado em Portugal. Há três anos, quando ficou sem o emprego como repositor, Armando viu na associação CAIS a oportunidade de voltar a viver. Aqui tirou uma formação no “CAIS Lava Auto”, uma microempresa que privilegia a lavagem ecológica de automóveis, através da não utilização de água e de produtos ecológicos que a substituam.

O projeto, entretanto descontinuado devido à inviabilidade financeira, vai ser o novo local de trabalho de Armando. Aproveitando a sua formação na área, Armando tomou a iniciativa de reavivar o projeto, que “felizmente vai avançar”.

Os vários micronegócios da associação CAIS acabam por ser, muitas vezes, o ponto de partida para alguns utentes na mesma situação de Armando. Para além da “CAIS Lava Auto”, a Revista pode ser uma alternativa para que muitos encontrem a sua autonomização.

Embora ligados pelo CAHO, a história de Miguel Morgado assume contornos distintos à de Armando.

Miguel chegou ao CAIS há cerca de quatro anos, altura em que a sua vida parecia estar em pausa. Depois de perder o emprego, nada foi como antes: “Fiquei sem trabalho, sem nada, dormia na rua e um colega aqui do Porto falou-me na associação CAIS”, conta Miguel Morgado ao JPN.

Ao recordar os tempos difíceis que se seguiram à perda do emprego, o utente revela ainda que a associação não só lhe deu de imediato um “sítio para dormir”, como também o ajudou a enfrentar um problema há muito conhecido por si: a dependência do álcool.

Depois de uma formação em pequenos eletrodomésticos na Lipor, uma das parceiras da CAIS, Miguel integrou o projeto “CAHO” e trabalha atualmente na Câmara Municipal do Porto (CMP) na área da reciclagem.

Armando e Miguel são o espelho de uma iniciativa que, de acordo com Cláudia Fernandes, coordenadora do Centro CAIS Porto, tinha como objetivo partir “de uma metodologia que fosse inovadora e que pudesse capacitar as pessoas, envolver a sociedade civil e as empresas inserias neste projeto”.

23 pessoas empregadas graças à CAIS

Com o projeto terminado, a coordenadora do Centro CAIS Porto faz um balanço positivo destes dois anos: “Foram dois anos de muito trabalho, até porque não é um formação com uma bolsa e nós sabemos que isso é um incentivo para as pessoas” considera.

A realização do “Capacitar Hoje” dividiu-se em três fases. O primeiro passo consistiu em formações para qualificar os técnicos e voluntários que aderiram à causa. Depois foi dado inicio à formação dos utentes, com idades compreendidas entre os 18 e os 59 anos e com uma escolaridade média de 8º ano. Estes beneficiários tinham experiência em áreas como restauração, construção civil, limpezas e atendimento ao público.

Numa terceira fase e em paralelo com a formação, os utentes foram acompanhados pelos seus mentores e durante 30 horas “tinham a oportunidade de experienciar, observar e acima de tudo perceber se estavam aptos para integrar o mercado de trabalho”.

Os técnicos voluntários também precisaram de uma formação prévia. Estes cursos abordaram vários conteúdos, importantes para perceber a essência da CAIS e, de acordo com Cláudia Fernandes, “desmistificar o estigma que há em relação às pessoas que se encontram na situação de desemprego prolongado”.

Apesar do número de pessoas empregadas ser inferior às expectativas iniciais, Cláudia Fernandes realça outras vitórias do projeto. “Superamos as expectativas na questão dos voluntários e das pessoas que conseguimos capacitar, vamos continuar a trabalhar com elas para que o processo continue e se consigam autonomizar mesmo que não seja pela via do trabalho”, esclarece a coordenadora.

O projeto “Capacitar Hoje” teve início em 2012 e durante dois anos empregou 23 pessoas, em Lisboa e no Porto, em áreas como o atendimento ao público, limpezas, construção civil, refeitórios e cantinas, recolha de resíduos, artesanato e administração.

 

Artigo editado por  Sara Gerivaz