“O que interessa não é tanto qual é o problema. O que interessa é como o problema está a fazer sentir a pessoa. É é isso que temos de escutar em primeiro lugar”. É assim que José Paulo Leal, membro da atual direção do Telefone da Amizade, resume aquela que é a base de todo o trabalho desenvolvido pelo projeto.

Ativa há 34 anos e formada unicamente por voluntários, a associação sobreviveu até hoje sempre com o mesmo objetivo: ouvir e apoiar, de forma anónima e sem fazer julgamentos, pessoas em sofrimento e em risco de se suicidar.

Para José Paulo Leal, também ele voluntário no Telefone da Amizade há 22 anos, “encontrar alguém que não julge, que aceite o tipo de problemas e que dê a oportunidade da pessoa explicar o que sente é difícil”, até porque “as pessoas querem ser escutadas mas nem sempre estão disponíveis para escutar os outros”, explica.

É neste sentido que o Telefone da Amizade procura ouvir os problemas das pessoas e perceber de que a forma eles as fazem sofrer. “Privilegiamos a palavra escutar. É isso que nós temos para oferecer: a oportunidade da pessoa explorar tudo aquilo que sente”, conta ao JPN o voluntário.

O que estas pessoas precisam é de “recuperar a estabilidade emocional que lhes permita tomar as opções mais adequadas para o seu caso”, nota José Paulo. “O que é difícil é ter de lidar com escolhas que aparentemente são todas más. Não vai ser simples. Nunca vai ser simples”, acrescenta.

A associação é contactada por todo o tipo de pessoas, mas o meio escolhido difere entre elas. Enquanto os mais novos normalmente optam pelo email, os mais velhos são os que mais telefonam. Para além disso, as pessoas que ligam tendem a ter problemas relacionados com a solidão, enquanto que as que contactam a associação por email expressam mais intenções suicidas. José Paulo Leal destaca ainda que os mais jovens manifestam o sofrimento de outras formas: “Há mais comportamentos que antes não se notavam. Não tanto ao nível de suicídio, mas ao nível da automutilação”.

O responsável do Telefone da Amizade defende que “as pessoas falam muito pouco sobre o suicídio” e o tema ainda é tabu na sociedade. Um facto que considera piorar ainda mais a situação. “Não é um assunto falado, o que faz com que as pessoas com este problema se sintam excluídas, diferentes, estranhas e pensem que o que sentem não é válido, não é real”, explica ao JPN.

As chamadas são muitas e os voluntários poucos

O Telefone da Amizade funciona das 16h às 23h, um horário que poderia ser alargado, se o número de voluntários fosse maior. O número de chamadas e emails é grande e os voluntários “são muito poucos”, sendo essa a maior dificuldade apontada por José Paulo Leal.

A associação Telefone da Amizade está sempre à procura de pessoas que se juntem ao projeto, não havendo restrições ao nível de candidaturas. Segundo o responsável pela associação, apenas tem de “haver disponibilidade para escutar as outras pessoas”.

Os interessados recebem formação durante algumas semanas. Primeiro é feita uma formação em grande grupo, com simulações do tipo de atendimento para as pessoas perceberem o trabalho que é feito. Posteriormente, entram num processo mais individualizado, em que acompanham os voluntários mais experientes no seu trabalho. Numa fase seguinte estas pessoas começam a trabalhar de forma mais ativa, com a supervisão dos voluntários com mais experiência, “até se sentirem aptas para atenderem autonomamente”.

Para além do voluntariado, é possível contribuir para a associação Telefone da Amizade através de donativos através de transferência bancária. A partir deste ano vai ser possível ajudar a associação através do IRS.

 

Artigo editado por Sara Gerivaz