Perceber a influência do treino musical no desenvolvimento cognitivo das crianças. Este é o propósito da investigação que está a ser levada a cabo por investigadores da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), em específico pelo grupo de Neurocognição e Linguagem do Centro de Psicologia. No entanto, o projeto também conta com a colaboração de investigadores alemães, da Universidade de Jena.

O estudo está a ser realizado desde janeiro do ano passado, por cerca de dez investigadores. Entre eles está a principal responsável pelo projeto, São Luís Castro, que contou ao JPN que a proposta de investigação ganhou vida devido ao interesse da bióloga Marta Martins, que quis “aprofundar a relação de atividades ligadas à música, com a possibilidade de haver uma vantagem na aprendizagem da leitura e da escrita”. São Luís Castro já tem publicados alguns estudos sobre o efeito da música e do treino musical no processamento da fala: “Interessa-nos, sobretudo, as relações entre o cérebro e os comportamentos”.

A investigação sobre o impacto do treino musical, em comparação com o treino em desporto, em crianças de oito e nove anos, está dividida em quatro fases. Antes da primeira, “é necessário fazer todo um trabalho prévio de contactos com as escolas, professores e entidades de gestão das escolas”, explica São Luís Castro, “só depois das autorizações das comissões de ética e de garantidas as condições materiais é que começa a primeira fase do estudo”.

A primeira fase, o “pré-teste”, consiste na recolha de dados comportamentais, através de ressonâncias, de crianças que partilhem os mesmos valores e índices gerais como a inteligência (QI), leitura, escrita e desenvolvimento cognitivo. Na segunda fase, chamada de “treino”, um grupo de crianças é submetido a uma formação musical e o outro grupo a uma formação em desporto. A terceira fase, o “pós-teste”, é uma avaliação dos possíveis efeitos do treino. “Dependendo dos resultados, estamos a prever ainda uma quarta fase, que é a fase do ‘follow-up’, ou seja, vamos perceber se os efeitos do treino se mantêm ou se são temporários”, acrescenta São.

Para “treinar” as crianças e ajudar na formação musical e desportiva, o projeto conta com investigadores da Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo (ESMAE) e da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP). “Os investigadores vão ajudar a desenvolver atividades e tarefas que são úteis neste trabalho, porque temos que ter sempre em conta o efeito do treino, mas também as aptidões prévias das crianças”, informa a principal responsável pela investigação.

São Luís Castro prevê a saída dos resultados concretos para 2017, mas acredita que “entretanto, à medida que se analisam os dados, se vão publicando resultados relevantes até ao final deste ano”.

Para além do apoio de investigadores da ESMAE e da FADEUP, o “Projeto Impacto” conta ainda com as parcerias da Câmara Municipal de Matosinhos (CMM), que facilita o acesso às escolas, e com o Serviço Médico de Imagem Computorizada (SMIC), que permite o acesso às ressonâncias das crianças. O grupo de investigação contou ainda com o apoio financeiro, na segunda fase do estudo, da Fundação Bial e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

 

Artigo editado por Sara Gerivaz