Em 2013, o fumo branco da chaminé da Capela Sistina viria a mudar o nome de Jorge Mario Bergoglio para Papa Francisco e a vida da religião católica. Desde então, a homossexualidade, a pedofilia e a pena de morte deixaram de ser temas ‘tabu’ para a Igreja.

“Verdadeiramente, sobre o conteúdo, não mudou nada”. Esta é a opinião de Aura Miguel, vaticanista e jornalista da Rádio Renascença (RR) que entrevistou, em 2015, a figura máxima da Igreja. “O que mudou foi a maneira de fazer chegar a mensagem da Igreja”, indica. “Ele dá o exemplo, porque tem um estilo muito raro, dá abraços e beijos. O Papa João Paulo II já era muito próximo, mas o Papa Francisco ultrapassou-o”, acrescenta.

Já Pedro Mexia, cronista, também acredita que o segredo da popularidade do Papa Francisco está na mensagem: “Tem tornado a mensagem da Igreja mais audível”. Em 2013 o comentador afirmou ter muita esperança neste novo Papa.

O facto de ser o primeiro Papa da América Latina também acaba por ser uma das razões para se distinguir. Aura Miguel fala de “um homem com um estilo muito diferente”. “É da América Latina, não tem nada a ver com o estilo europeu”, afirma. Pedro Mexia fala, ainda, “da sua experiência pastoral”, que resulta “num lado mais ‘terra-a-terra’, direto, afetivo”.

Apesar do comportamento diferente, Pedro Mexia diz que Papa Francisco não está a pôr em causa nada do que é defendido pela religião: “O que mudou foi a perspetiva com que a Igreja é encarada”, mas garante: “Não está a quebrar a tradição”.

Aura Miguel acredita que esta mudança tem a ver com “o estilo de caridade ao qual não estávamos muito habituados, nos últimos tempos”.

Quanto à reação por parte dos religiosos mais conservadores, Pedro Mexia refere que “há algumas resistências nalguns setores, mas o Papa não diz nada que outros papas não tenham dito”. Aura Miguel reforça esta ideia e defende até que “o que o Papa Francisco está a fazer vem na consequência daquilo que os outros papas disseram”.

“A grande novidade do Papa Francisco é o seu estilo. É um estilo que desarma a rigidez que a Europa tem. Ele introduziu uma maneira muito solta de ser Papa. Essa vivacidade é que está, no fundo, a provocar, no sentido positivo, a Igreja”, assegura Aura Miguel.

“É um Papa popular entre os católicos e os não católicos”

Papa Francisco não tem feito mexer apenas a Igreja Católica. A proximidade às pessoas estende-se àqueles que não são crentes e desperta-os para a mensagem da religião. A “marca mais importante”, para Pedro Mexia, é o facto de ser “popular entre os católicos e os não católicos”.

Aura Miguel acredita que o estilo do Papa Francisco “surpreende muita gente que não estava sequer interessada naquilo que a Igreja diz e que agora têm mais sensibilidade, mais interesse”. A verdade é que “a estatística de católicos no mundo aumenta em todo o lado, menos na Europa”, lembra a jornalista.

Estes factos revelam que a influência do franciscano não se traduz em números. “Uma coisa é o que os media dizem, outra coisa é o que se passa no terreno”, defende Aura Miguel.

Pedro Mexia não tem a certeza de que a popularidade do Papa se traduza num maior número de crentes e que “a religião passa por uma questão mais íntima”.

No entanto, as considerações que Papa Francisco tece sobre Economia, Política ou questões climáticas têm tido impacto. Aura Miguel acredita que “o Papa é sempre uma voz da autoridade moral, ao nível internacional”. Por exemplo, “a questão da Ecologia nunca foi posta com tanta ênfase como agora”, refere Pedro Mexia.

O cronista vê “uma Igreja mais próxima, em vez de uma Igreja apenas dogmática”. Estes três anos marcam-se pela “abertura e pelo diálogo”, conclui.

Artigo editado por Sara Gerivaz