“Um laboratório para as Ciências urbanas à escala duma cidade”. Este foi o mote para a sessão do programa “30 anos, 10 debates” que aconteceu na segunda-feira na Faculdade de Engenharia na Universidade do Porto (FEUP).

O Reitor da Universidade do Porto deu início à sessão. Seguiu-se a secretária de Estado de Assuntos Europeus, Margarida Marques. Os 30 anos de Portugal na União Europeia, segundo afirmou, constituem uma “profunda mudança” para o país. “É na Europa que se situa a nossa pertença”, defendeu.

Margarida Marques evocou Mariano Gago, que considera ter sido o impulsionador da ciência em Portugal. A mudança traduz-se em números. “Há 30 anos, havia mais de 400 artigos científicos com participação portuguesa. Hoje, ultrapassam os 17000”, exemplifica a secretária de Estado.

Para a evolução científica, Margarida Marques acredita serem importantes programas que apoiem, ao nível financeiro, projetos na área da ciência. “Investir em ciência é investir em Portugal”, assegurou. A secretária dá o exemplo do programa Horizonte 2020, que assenta em três pilares: excelência científica, liderança industrial e desafios sociais. No total há 420 projetos portugueses que já foram auxiliados pelo programa.

No fim da intervenção, Margarida Marques lembrou que “o debate é essencial, pois há mais de 20% de portugueses que têm má imagem da União Europeia”. Com esta série de debates, o objetivo é “ouvir todos os cidadãos e é isso que estamos a procurar fazer em todo o país”, referiu.

“Ainda temos Ciência a menos”

Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, abriu a discussão. “Não temos instituições a mais, temos estudantes a menos”, começou por afirmar. O ministro comparou Portugal a outros países da União Europeia e lembrou que “somos a região da Europa com menor ‘stock’ de doutorados”. No país, há 20 doutorados em cada 10 mil habitantes.

Passada a palavra a Nilza de Sena, a deputada defendeu que a austeridade não prejudicou a evolução da Ciência. “É possível manter a evolução numa situação de crise”, garantiu. O antigo Governo, segundo a deputada, nunca deixou de apostar na Ciência: “O desafio que temos já foi iniciado pelo antigo governo: aumentar a produção científica e a qualidade dessa produção”.

Carlos Zorrinho discorda da deputada. “Nalguns indicadores chave, nos últimos anos, perdemos muito”, corroborou. “Não podemos querer que a Ciência evolua e depois fazerem-se cortes”, acrescentou.

Em primeira mão, o eurodeputado revelou o conteúdo da Avaliação de 2016 Ciência e Tecnologia da União Europeia. “A UE reconheceu que nos últimos cinco anos, Portugal perdeu potencial”, esclareceu. Na sua opinião,”o debate de fazer muito com pouco é muito perigoso”.

O ministro vai mais longe e afirma que “a sociedade portuguesa deve estar orgulhosa por os investigadores terem conseguido fazer tanto com tão pouco”. Para o eurodeputado, as prioridades europeias são tecnológicas. Portugal deve seguir o exemplo e definir políticas que apostem na ciência. “Há hoje no país áreas de excelência que se afirmaram por elas próprias, mas as políticas têm que apoiar estas causas”, defendeu.

É precisamente na definição de políticas que Carlos Zorrinho considera estar um dos pontos fracos de Portugal, por acreditar que “não se dá continuidade às políticas”. O eurodeputado acrescenta: “Se vamos ter uma cidade 4.0 também temos que ter também uma política 4.0”.

No seguimento da ideia do eurodeputado do PS, Manuel Heitor afirmou que “a Ciência é diferente de Política, mas precisa da Política”. O ministro garantiu que se deve começar de raiz, na formação da população: Há que “qualificar a força de trabalho” e “criar valor na ciência que produzimos”.

Nilza de Sena concordou com a ideia:“Precisamos de ter mais Ciência de qualidade para podermos ser competitivos”. A aposta deve ser feita na inovação. Além disso, a social democrata notou que a Ciência não deve ficar nos laboratórios ou nas faculdades: “A ciência deve ser devolvida à sociedade”. “Nós não temos ciência a mais, crescemos muito, mas ainda temos ciência a menos”, conclui o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

“O Porto está preparado para ser um laboratório para as ciências urbanas?”

A questão foi lançada pelo professor universitário João Paulo Cunha. Ele mesmo responde e considera que “o Porto está preparado para fazer parte de um laboratório vivo”. Carlos Zorrinho acredita que “no nosso país, há muita tendência para as desculpas”, mas “o Porto está bem posicionado” e que “pode sim ser um laboratório vivo”.

João Paulo Cunha, docente da FEUP, falou sobre o Future Cities Project, projeto que introduziu redes sem fios em veículos em movimento. A iniciativa passou por colocar monitores de onda cardíaca em condutores da STCP, com a finalidade de prevenir desastres. O objetivo do projeto, segundo o professor universitário, é tornar o Porto “mais sensível e sensorizada” e “oferecer a cidade como um laboratório”.

Esta conferência insere-se no programa “30 anos, 10 debates”. A iniciativa vai passar por dez cidades diferentes e tem como tema as políticas europeias que influenciaram as locais.

Artigo editado por Sara Gerivaz