Os moradores do Bairro do Leal enfrentam problemas de higiene há mais de dois anos. A resposta da Câmara Municipal do Porto é insuficiente.

O Bairro do Leal situa-se no centro do Porto, mas é agora uma pequena “aldeia” perdida na cidade. Alguns moradores chamam-lhe o “Iraque”. A zona a que se referem trata-se de um espaço de casas destruídas ou vandalizadas, que ninguém ocupa. “Aqui no bairro moravam à volta de mil pessoas”, conta Aurélio Simões, secretário da Associação de Moradores do Bairro do Leal.

Processo SAAL

O Processo de Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) visou construir os Bairros da Bouça, Leal, Antas e São Vítor. Trata-se de uma organização que data do pós-25 de Abril, que foi criada por Nuno Portas e que tinha como objetivo construir casas a preços reduzidos para moradores de baixos rendimentos.

Hoje, o bairro já não é o que era: os moradores conhecem-se, mas nem por isso o bairro é pacato. Datam de 2013 as primeiras queixas sobre um grupo de moradores, que os habitantes do Bairro do Leal apelidam de “romenos”, que ocupa uma casa sem saneamento básico.

Devido à falta de condições, estes moradores do antigo café fazem as necessidades básicas na rua, incomodando os residentes do espaço envolvente. “A sanita deles é aqui. Eles querem fazer a vida deles, vêm fazer. Outras vezes fazem ali. Já fizeram à minha porta”, acusam.

O proprietário do espaço é desconhecido pelos moradores do Bairro que não têm certezas sobre a situação. “O contrato está feito no nome de um indivíduo que acho que depois subaluga aos outros”, refere António Castro, morador do bairro.

António Castro é um dos mais afetados pelo problema: mora ao lado da residência do grupo de imigrantes e considera a situação insuportável. Por essa razão, decidiu andar para a frente com o processo: depois de várias queixas apresentadas à Câmara Municipal do Porto (CMP), à Polícia Municipal e à delegação de saúde, António decidiu ir a uma reunião de câmara expor a situação.

A resposta oferecida tem sido sempre a mesma: quando o estado da via pública se encontra pior, a autarquia envia um grupo de trabalhadores que limpa toda a zona para que esta se torne habitável. Mas não é esse o tipo de resposta que os moradores procuram: querem um fim para a situação que se arrasta há quase três anos e que se tem vindo a tornar insustentável. “Custa-nos porque eles fazem porcaria todos os dias. E somos nós que estamos a pagar para depois se limpar”, lamenta António Castro. 

Nos dias em que a resposta demora mais a chegar, é Alice, uma das moradoras mais afetadas, que trata das limpezas: “Tive que começar a limpar eu. Cheguei a vir três dias seguidos fazer a limpeza. Vim para aqui às 6h00 da manhã”. É muitas das vezes à sua porta que a situação ocorre. A moradora contou ao JPN que chegou a passar muito tempo à porta de casa, para evitar que lhe sujassem o patamar.

Na Polícia Municipal, não têm conhecimento do processo, muito embora os moradores afirmem que “a Câmara atira para a Polícia Municipal”. “Quase todos os meses eles vêm cá”, garante António. O JPN questionou a autarquia sobre a existência de um processo, mas não obteve resposta até à data de publicação do artigo. No entanto, uma fonte da Câmara que não se quis identificar, garantiu que o processo foi arquivado. 

Quanto à delegação de saúde, que António Castro acredita ser a única entidade com “força legal” para resolver o problema, o processo encontra-se em curso. Por essa razão, não puderam prestar qualquer tipo de declarações ao JPN.

Mas o problema não fica por aqui. Não se trata apenas do saneamento básico. Também no que toca à comida e ao lixo acumulado, o problema tem vindo a piorar. “Isto está cheio de gordura. Tudo o que fazem da cozinha vem para aqui”, acusa Aurélio Simões apontando para a tampa de esgotos que os inquilinos do antigo café têm em frente à casa. O problema, como referiu António Castro, é que com a chegada do calor, o mau cheiro torna esta situação, mais uma vez, insuportável.

O comércio local envolvente não se queixa. Todos referem que o grupo de cidadãos estrangeiros não causa qualquer tipo de distúrbios. “De vez em quando entram, mas só para usar as casas de banho”, conta o proprietário do café Flor do Bonjardim.

O grupo de cidadãos que habita o Bairro do Leal e que é alvo de queixas por parte dos vizinhos não é sempre o mesmo, dificultando também a resolução do problema. “Eles hoje são uns, para a semana já são outros. No mínimo, trocam todos os meses.”, refere António Castro.

O JPN tentou entrar em contacto com os residentes do antigo café, no entanto sem sucesso.

Artigo editado por Filipa Silva