A falta de iodo nas crianças e as implicações desta carência foram os temas centrais do seminário “Iodo e Saúde” organizado pela IoGeneration. Na quarta-feira, o Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto (UP) reuniu mais de 150 especialistas médicos e responsáveis das mais diversas organizações relacionadas com a saúde para discutir o problema.

Os resultados preliminares do estudo da equipa de investigadores do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) da Universidade do Porto, sobre os níveis de iodo nas crianças portuguesas, serviram como mote para uma discussão aberta e dinâmica acerca de um micronutriente essencial.

 

As primeiras conclusões do estudo revelam que mais de 30% das crianças da região Norte apresentam níveis deficitários de iodo. O facto de esta moderada deficiência hormonal estar relacionada com atrasos no desenvolvimento cognitivo levou o painel a organizar, numa “sala tão emblemática”, – como os próprios consideraram – uma tertúlia sobre a influência e o futuro do iodo na alimentação dos portugueses.

No debate da tarde, subordinado ao tema “Suplementação com iodo em Portugal”, participaram representantes da Organização Mundial de Saúde (OMS), Direção-Geral da Saúde (DGS), Direção-Geral da Educação (DGE), Direção Regional da Saúde dos Açores, Ordem dos Nutricionistas, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), Federação das Industrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA) e da restauração coletiva.

Feita a introdução e apresentação dos convidados, teve a palavra João Breda. O gestor do programa de nutrição, atividade física e obesidade no escritório regional europeu da OMS reforçou a importância dos resultados apurados pelo CINTESIS e acrescentou que Portugal é um dos países europeus que se encontra em pior situação em termos de níveis dos seus habitantes. Este “verdadeiro problema de saúde pública” é, na ótica de João Breda, “o único com uma solução miraculosa – a iodização universal do sal”.

Pedro Graça, da Direção-Geral da Saúde e responsável pelo Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável revelou que existe “uma proporção muito elevada de grávidas com défice de iodo”, mas acrescentou que nos últimos cinco ou seis anos Portugal tem dado”passos muito positivos nesta discussão”.

“Há que trabalhar a montante pois não podemos apenas ser reativos”. A opinião foi de Rui Lima, da Direção-Geral da Educação. O nutricionista envolvido em diversos programas de saúde escolar afirmou que a DGE está “muito focada em transformar escolas em escolas saudáveis”.

Açores com maior nível de insuficiência de iodo

Os Açores são a região portuguesa mais afetada pela insuficiência de iodo. Ainda assim, têm sido feitos esforços para travar esta carência. João Soares, especialista na questão, declarou que no território açoreano tem vindo a ser feito “um cerco completo de 360 graus na luta contra este défice”.

As parcerias estreitas com departamentos de endocrinologia, o uso obrigatório de sal iodado nos serviços tutelados pela Região Autónoma e o suplemento de iodo gratuito para grávidas tem ajudado a combater o cenário. “Anteriormente, nos Açores, nenhuma grávida tinha valores adequados e 74% das crianças apresentavam défices de iodização”, lembrou Rui César, também especialista na região.

A bastonária da Ordem dos Nutricionistas também teceu comentários sobre o problema. Alexandra Bento considera que a “consciencialização do problema” já existe e que o “poder político pode e deve legislar a iodização do sal”. Mesmo assim, a bastonária assinalou que “a operacionalização de medidas legislativas não pode acabar com a vigilância”, algo que foi reforçado por Fernando Almeida do INSA.

Pela ASAE, Ana Sofia Mil-Homens não pôde estar presente, mas entregou um comunicado escrito onde referiu que a autoridade verifica a execução das medidas, mas que “não está a ser respeitada a implementação de sal iodado nas escolas”. Catarina Dias, representante da FIPA, afirmou que “a substituição do sal é a via a seguir” e que a “indústria é um parceiro importantíssimo nesta envolvente”.

“Uma necessidade para toda a família”

O iodo “é uma necessidade para toda a família”, segundo Beatriz Oliveira. Do ponto de vista da restauração coletiva há que “passar à prática, pois este é um problema transversal”. Depois de parabenizar os Açores pelas medidas tomadas, Beatriz Oliveira deixou um desejo: “Gostaria que daqui saísse uma normativa e regulamentação”.

Por fim, Isabel Braga da Cruz enunciou que há um crescimento de 140% na oferta de produtos com iodo. Apesar da Ásia ser a região com mais lançamentos nesta área, é seguida pela Europa. “Sal iodado ou não, há outros caminhos, como algas ou outros ingredientes naturais como algas, chá, água ou alimentação dos animais”, declarou a responsável da Portugal Foods.

Apesar do apoio geral dos participantes, o custo do sal iodado é o dobro do equivalente marinho. Mesmo assim, o debate “Suplementação com iodo em Portugal” funcionou como pontapé de saída na descoberta de uma solução para um grave problema de saúde pública em Portugal.

Artigo editado por Sara Gerivaz