O décimo aniversário da fundação veio mostrar ao Porto, esta terça-feira, “O Que De Verdade Importa”. A Casa da Música (CdM) recebeu o congresso que foi assistido por mais de mil pessoas.

O músico Miguel Araújo foi novamente presidente honorário, depois da experiência no ano passado. “Calculava que quem esteve no ano passado, quisesse repetir”, afirmou. Ao JPN, mostrou-se convicto em continuar a juntar-se à causa, depois de uma primeira experiência que o impressionou ao máximo.

Som da Rua”, projeto da casa anfitriã, foi o que construiu o primeiro momento do dia. O projeto de inclusão social da Casa da Música mereceu, no culminar da apresentação, uma plateia inteira de pé. O grupo é dirigido por Jorge Prendas, diretor do serviço educativo da CdM.

Ana Agostinho, a apresentadora, aludiu à ficção televisiva para constatar que “nas novelas, a história é previsível”, mas na vida não. E foi isso mesmo que o congresso provou, através de três histórias de vida diferentes, contadas na primeira pessoa.

“A minha história de super-heróis”

Paulo Azevedo mostrou como tudo depende da autoestima e motivação. Nascido sem membros superiores e inferiores, encara todos os desafios com força de vontade e otimismo.

Paulo acredita que tudo o que vivenciou foi partilhado com os “super-heróis” com quem se cruzou. Cada “poder especial” que reconheceu nas pessoas são “valores básicos da vida” que se devem elevar. O primeiro “poder especial” atribui-o à mãe, que com uma gravidez na adolescência, teve o “poder da aceitação” ao dizer que o bebé era “perfeito”, sem mãos e sem pernas. Paulo falou também do seu filho, que representa a “perfeição”, nascido de uma “completa imperfeição”.

A família foi pedra basilar na formação de uma pessoa “diferente”, mas que nunca foi “inferior” aos outros. Ao longo do percurso, Paulo Azevedo fixou os seus objetivos e sonhos: cumpriu o sonho de ser futebolista e teve o primeiro amor quando se determinou a conquistar alguém. “Não preciso de braços para abraçar um coração”, contou. Acima de tudo, sentiu-se realizado ao seguir o desejo de ser ator. Quase a acabar a licenciatura em jornalismo, Paulo inscreveu-se num curso de representação.

Paulo conclui que todos devem ter o direito de experimentar o que quiserem: “Primeiro deixem-nos tentar. Se não conseguirmos, a culpa é nossa”. “Vou ensinar-vos um truque” disse o atleta, a propósito da forma como contorna a diferença. A sua principal carta na manga é o humor e é assim que responde a situações insólitas.

Coragem e determinação mudam o mundo

Para o segundo orador, o que de verdade importa é “ser útil aos demais” e criar felicidade. Jaume Sanllorente era jornalista em Barcelona e levava uma vida confortável, mas deixou os bens materiais para melhorar a vida de outras pessoas.

Deslocou-se de Espanha a um país de “terceiro mundo”e concluiu que “o mundo é um só”. Jaume Sanllorente conheceu os problemas mais graves da sociedade indiana nas várias viagens que fez ao país. O que mais o afetou foi ter visto crianças escravizadas sexualmente desde os primeiros anos de vida, como o menino que encontrou encostado a uma parede “com um preservativo na boca”. O ex-jornalista contou como a inquietude, o choque e a preocupação lhe tiraram noites de sono e o proibiram de baixar os braços. Os “absurdos da vida” fizeram-no avançar com determinação.

Em Mumbai ou Bombaim, tornou-se cada vez mais próximo dos perigos, chegou aos ambientes familiares, viveu durante algum tempo em favelas. Ainda assim, construiu uma instituição protetora de crianças. Atualmente Jaume vive na Índia para preencher necessidades e direitos básicos das crianças, oferecendo roupa, comida e educação. Como principal arma deu sorrisos à população.

A instituição Sonrisas de Bombay, fundada por Jaume Sanllorente, funciona há dez anos e, com uma equipa de mais de uma centena de habitantes locais. Jaume sente-se confiante e não quer ser indispensável em nenhuma ocasião. O seu maior medo? “Medo de ter medo”, que o impeça de avançar.

“Fiz de tudo no processo das drogas”

“Traí amigos e aldrabei os meus pais. Fiz de tudo no processo das drogas”. Foi o testemunho de Pedro Castro que foi toxicodependente durante grande parte da sua vida. Ainda “emocionado e triste”, Pedro falou do “buraco” que sentia quando era novo. Refugiou-se nas drogas por não se sentir feliz. A heroína era a sua “droga de escolha”.

Casou com Sofia, também toxicodependente e tiveram duas filhas enquanto se tentavam reabilitar. Passaram por três centros profissionais, mas só, anos mais tarde, no Reino Unido é que Pedro encontrou a cura.  Entre a vida e a morte, Pedro Castro teve “um despertar espiritual”: agarrou-se “a um poder superior” que não mais largou, era o seu “amigo”.

Enquanto Pedro se tratava, a sua esposa tomou conta das crianças. Regressado a Portugal, Sofia partiu para se curar. Uma vez juntos, Pedro afirma que tiveram de se reconhecer: A nova realidade após o tratamento “era um choque”. “O que temos dentro de nós é de tal maneira rico que não precisamos de tomar nada”, descobriu Pedro após o tratamento.

Agora, Pedro é CEO numa empresa. Tem uma carreira de sucesso e afirmou que todos os que lutam contra droga têm de procurar ajuda profissional. O empresário acredita que “a vida é para viver como ela é”. “Haja o que houver, nem que chovam picaretas, podemos ser felizes”, ressalvou.

O congresso “foi um êxito”

O silêncio reinou enquanto os oradores rebuscavam memórias na sua mente. Com palavras que tocavam na consciência, o público reagia com aplausos. As palmas foram muito ouvidas durante o dia.

Na visão de Mónica Barber, presidente da fundação “O Que De Verdade Importa” em Portugal, o congresso no Porto“foi um êxito” porque foi feito “com paixão”.

Pilar Cánovas, presidente da fundação internacional, revelou ao JPN que estava “encantada e feliz com a excelente organização do congresso do Porto”. Ainda que Portugal seja um país desenvolvido e com “muitos valores”, a implementação foi “fácil, desde o início”.

A nível de espetadores, organizadores e patrocinadores, a equipa tem sido “fantástica”, com resposta muito positiva desde o primeiro momento.

A iniciativa levada a cabo pela fundação O Que De Verdade Importa” aconteceu, pela primeira vez há dez anos, em Espanha. Expandiu os seus horizontes e agora marca presença com congressos em diferentes locais, na Europa e América Latina. No ano em que se assinalam três anos da entrada em Portugal, o Porto recebeu, pela segunda vez, o evento.

O encontro contou com pessoas de todas as idades e encerrou com um mini concerto de Miguel Araújo.

Artigo editado por Sara Gerivaz