Conhece a lenda de Gaia? E o mito do Hotel Teatro? Estas e outras histórias são contadas por Pedro Vasconcelos, organizador do percurso “Porto Assombrado”. A um ritmo acelerado, a carrinha de sete lugares parte da Trindade pouco depois das 18h00. Conversa puxa conversa e, em dez minutos, já sabemos umas quantas fábulas.

“Diz-se que é assombrado”. Pedro refere-se ao Hotel Teatro. A tragédia do século XIX que ali se passou, no antigo teatro Baquet, parece que ainda está presente, pelo menos em espírito. Mais de cem pessoas morreram num incêndio e, por isso, há camarins que se abrem sozinhos e pancadas nas portas. Pelo menos, é aquilo que hoje se diz.

Mas o Hotel Teatro não é a única vítima de assombrações. Na Afurada, avista-se uma casa ao alto que é frequentemente visitada por caça-fantasmas. No início do século, vários investigadores do paranormal juraram ter registado a frase “Saiam daqui!”. Mas a autenticidade do acontecimento continua a ser um mistério.

Símbolos obscuros

Ao longo do percurso, que dura cerca de sete horas e inclui mais de uma dezena de paragens, apercebemo-nos de que as histórias são imensas, mas há curiosidades que se destacam. De facto, em todos os fenómenos sobrenaturais, estão presentes os quatro elementos (água, terra, fogo e ar) e os caminhos encruzilhados, em forma de cruz. Já as flores têm uma dupla função: dar um bom cheiro ao morto e fazer-lhe companhia, terminando também a sua vida.

“Quando se fala de magia e religião, falamos de mitos”, explica o organizador do percurso. As velas também estão em todos os locais que visitamos, mas Pedro realça que as pretas são sinónimo de magia negra. Nas serras, também é habitual ver-se uma cruz presa aos penedos. Isto acontece “para se estar mais perto do céu”, esclarece Pedro Vasconcelos.

Mas com possíveis adversidades no caminho, será que há assim tantos candidatos ao percurso? “Já tivemos turistas estrangeiros e nacionais. A ‘tour’ tem estado a arrancar, mas este ano percebemos que há procura”, diz o organizador ao JPN.

Quanto aos perigos, garante que estão controlados. “Qualquer atividade tem sempre riscos. Desde que nos mantenhamos nos caminhos certos, não acho perigoso”, afirma. Contudo, há um episódio que não esquece. “Estávamos a contar histórias e, de repente, ouviu-se um gemido lá no meio e foi um bocadinho incómodo. Toda a gente pensou que era alguém da nossa equipa mas garanto que não”.

O trajeto vai pela noite dentro, por isso, o medo pode ser o nosso maior inimigo. Mas para a organização, “o percurso é bom à noite, especialmente no inverno”. Na realidade, ninguém entra nos sítios mais obscuros sem que Pedro Vasconcelos verifique o espaço. Além disso, o responsável é da opinião que o melhor são grupos “entre duas a nove pessoas”, para que se criem laços e se consigam contar as histórias sem muitas distrações.

O que fazer no Porto?

O primeiro evento da equipa foi o Halloween Late Harvest, em 2014. A partir daí, aperceberam-se que este percurso “poderia ter uma capacidade interessante em termos de comercialização” e refizeram-no de forma a fazê-lo mais extenso e “com mais pontos de paragem”, conta Pedro. Adicionalmente, a organização acha que, ao fim da tarde, depois de passearem nos barcos rabelos e de visitarem caves de vinho do Porto, muitos turistas pensam: “o que fazer agora?”. Assim, nasceu a atividade ideal e complementar a uma escapadinha na cidade Invicta.

Para colecionar histórias e locais com atividade sombria, procuraram espaços ditos assombrados e, simultaneamente, fizeram uma pesquisa sobre lendas ligadas ao Porto. Foi  o conjunto destes elementos que os levou ao “Porto Assombrado”.

Até agora, a faixa etária que mais procura o percurso são pessoas com 30/40 anos de idade. O francês, o inglês, o espanhol e o português são as línguas que disponibilizam. No preço, 69 euros, está incluído o transporte, o jantar e muito “suspense”. Para os interessados em lendas, histórias, mitos, bruxarias e assombrações, as reservas são por telefone ou email, e podem ser feitas através do site e Facebook. É aconselhável que os participantes levem roupas confortáveis e se preparem, porque o final da “tour” pode mesmo ser de cortar a respiração.