Quando a 5 de abril recebeu um telefonema a anunciar que tinha ganho o primeiro prémio apexart International Franchise Program 2016-17, Marzia Bruno nem quis acreditar. “Foi uma surpresa porque sabia que era um concurso no qual participavam muitas pessoas. Foram 423 candidaturas e quando me candidatei sabia que não ia ser fácil”, contou ao JPN.

Marzia Bruno, que frequenta o doutoramento em História de Arte da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), já tinha estado em Cabo Verde em 2014 onde trabalhou com artistas locais e organizou uma exposição de arte contemporânea que teve um bom “feedback”. Mas foi quando regressou em 2015 e voltou a visitar o Campo do Tarrafal, que surgiu a ideia para o “A Glimmer of Freedom” [“Um vislumbre de liberdade”]: “Começaram a surgir algumas ideias naturalmente e decidi, então, criar este projeto para o apexart”, explicou a italiana.

O projeto de Marzia consiste na organização de uma exposição, que vai explorar a visão dos artistas sobre o Campo do Tarrafal, articulando o espaço físico com questões contemporâneas atuais. Entrevistas a ex-prisioneiros do campo, utilização de materiais locais, áudio, vídeo e mapeamentos de projeção digital (como “Video Mapping”) são objetivos da iniciativa de curadoria de Marzia, que vai decorrer de 8 de abril a 6 de maio de 2017.

O Campo do Tarrafal “ficou conhecido como o ‘Campo da Morte Lenta’ justificado pelas péssimas condições climáticas, saúde, alimentação e um regime prisional marcado por uma extrema violência” e nele “foram presos mais de 340 antifascistas portugueses e cerca de 230 nacionalistas africanos”, pode ler-se na descrição do projeto. Ainda segundo a explicação, “o nome do Tarrafal, por si só, refere-se a luta e liberdade”.

Ao JPN, Marzia Bruno salientou que “em cada cela estavam determinados presos e em cada cela haviam determinados tipos de tortura” e, por isso, o objetivo é “fazer um levantamento e estudo da génese de cada cela e trabalhar com os artistas para realizar os projetos em cada espaço”.

O júri do apexart International Franchise Program, composto por 200 elementos de todo o mundo, selecionou quatro propostas, mas foi a de Marzia que ficou em primeiro lugar. O concurso, que já vai na nona edição, é uma iniciativa da apexart, uma organização sem fins lucrativos norte-americana que tem como objetivo oferecer oportunidades a curadores independentes e artistas emergentes, bem como desafiar as ideias sobre a arte e a curadoria.

Artigo editado por Sara Gerivaz