O TEDxOporto voltou no passado sábado à Alfândega do Porto. “Enigma” foi o tema discutido por nomes como Laurence O’Rourke, Mário Daniel e Pedro Abrunhosa, com uma plateia composta por mais de mil pessoas.
A sétima edição do TEDxOporto contou com quatro painéis, fechados por um momento humorístico de Nilton. Os espetadores puderam refletir sobre tópicos palpáveis, como a física quântica e a imensidão do universo, ou sobre o racional e o emocional humano, na busca pela verdade.
Territórios
O evento abriu com um vídeo que colocou em perspetiva a dimensão do universo, seguido de uma performance da cantora Emmy Curl. O apresentador Norberto Amaral subiu ao palco para introduzir o tema do dia, revelando alguns enigmas pessoais anteriormente revelados por espetadores. A vida, a felicidade e o universo predominaram, mas houve também espaço para mistérios, como os impostos ou a cerveja.
O também organizador do evento expressou que o TEDxOporto tanto visava “dar palco às pessoas do Porto, como pegar em novas ideias de outras pessoas e trazê-las à cidade”.
O primeiro orador do dia foi Laurence O’Rourke, cientista da European Space Agency (ESA) e um dos intervenientes da Rosetta Mission, a primeira missão espacial a colocar uma sonda num cometa. O cientista abordou a formação de corpos espaciais e o processo da missão Rosetta e deu acesso a uma fotografia exclusiva do cometa, selecionada especialmente para o evento. O enigma escolhido por O’Rourke foi a imensidão do universo e tudo aquilo que falta descobrir.
“Desvendar os enigmas do cérebro” foi o título da segunda “talk”, pela voz de Paulo Rodrigues, membro de um projeto para mapear o cérebro humano e diagnosticar lesões cerebrais, aplicando tratamentos cada vez mais eficazes a doenças neurológicas como o Alzheimer ou o Parkinson.
Já Leonardo Pereira, chefe de renome em Portugal, incentivou os presentes a “escolherem o que realmente querem comer”, implantando coletivamente uma “soberania alimentar” em que se rejeite os produtos de fraco valor nutricional que a indústria alimentar propõe.
Sónia Cunha, psicóloga do INEM, abordou o tema da depressão e do suicídio. A especialista muniu o público de “um ‘kit’ de primeiros socorros” para ajudar aqueles que se encontram numa situação em que contemplam tirar a própria vida.
Segredos
O segundo painel teve início com uma atuação de Ricardo Salazar, da Outline Gorila. Depois foi Carlos Mauro, professor da Católica Porto Business School, quem subiu ao palco falar sobre “A irreal racionalidade humana” e a necessidade de validar o lado emocional das pessoas em contexto de trabalho.
Nuno Coelho, com a exposição “Segurança informática: o parente pobre da tecnologia”, forneceu uma visão renovada sobre a segurança informática. Com a partilha de duas histórias pessoais, lançou luz sobre um assunto frequentemente encarado como “desnecessário”, mas que pode salvar vidas. Nuno levou o público a refletir na quantidade e tipo de informação pessoal que partilhavam nas redes sociais e nas consequências que a partilha exagerada pode trazer – “Quantos dos vossos amigos no Facebook confiavam para ficar uma hora com o vosso filho?”.
“Imagine, explore, ‘break the rules’” foram os passos dados para “medir aquilo que não conseguimos ver”. O enigma do espaço voltou ao palco do TEDxOporto com Steven Goldfarb, físico do CERN, o laboratório europeu de física de partículas. O cientista norte-americano expôs a composição do universo e arrancou risos do público ao comparar o universo a uma cerveja preta, já que 23% deste é constituído por matéria negra e 73% por energia escura.
Conexões
A Academia de Dança da Boavista inaugurou a tarde de palestras, com uma performance mista de ballet e “b-boying”. O primeiro orador foi Mário Daniel, mágico conhecido do público português e autor, apresentador e ilusionista do programa “Minutos Mágicos” da SIC.
Segundo Mário, “a arte da magia é criar enigmas”, e foi isso mesmo que fez: com a ajuda de uma voluntária, fascinou o público com múltiplos truques de cartas, finalizando a apresentação com um “cubo de rubik” que, sem qualquer toque, se completou sozinho.
Francisco Marques Teixeira, diretor clínico do departamento de Neurofeedback no Instituto de Neurociências – Neurobios, foi o segundo orador da tarde que apresentou o protótipo de um dispositivo capaz de controlar máquinas através do pensamento do utilizador.
Esta tecnologia, aparentemente simples, poderá vir a ser aplicada nas mais diversas vertentes, fornecendo liberdade criativa a “designers”, escritores ou músicos. Aliás, poder alterar instantaneamente a cor da roupa que usa de acordo com o humor é uma realidade expectável num futuro próximo. “Entrámos numa era em que somos seres biónicos” e o espaço entre ser humano e máquina é cada vez menor.
Joe Santos, fundador da associação Vencer Autismo e orador no TEDxOporto 2015 deu o seu contributo e revelou-se esperançoso nos avanços feitos em relação à cura do autismo e a sua emoção pelo projeto garantiu-lhe inúmeros aplausos.
Joana Carravilla abordou a “Sociedade líquida”, relacionando as marcas com o consumidor, num mundo cada vez mais ligado às redes sociais. Entender o consumidor como utilizador individual das redes sociais passa por uma “humanização das marcas”, que “têm de estar onde os consumidores estão”. Este caminho vai levar, segundo Joana, a que no futuro o produto seja tão personalizado que se torne exclusivo de uma só pessoa.
O último orador deste painel foi Rogério Martins, que iniciou a sua “talk” com a pergunta “por que é que a matemática é um bicho-papão?”. Estudos confirmam que a matemática assusta, de facto, as pessoas, e as editoras asseguram que “livros com equações quebram as vendas em até 50%”.
O método de ensino errado da matemática, a ideia de que é necessária uma pré-disposição para se obterem bons resultados e o desenvolvimento de uma “ansiedade matemática” ao longo da aprendizagem são alguns dos aspetos a mudar. Rogério concluiu que “o bicho-papão da matemática existe mesmo, mas só dentro da nossa cabeça”.
Caminhos
O quarto painel iniciou-se com Zia Weise, uma jornalista alemã que partilhou a sua experiência com refugiados nos Balcãs. Zia contou a história de uma afegã que viajou 500 quilómetros em direção à Europa, pois enquanto mulher e médica foi perseguida pelas autoridades do seu país.
A sua única alternativa foi atravessar um mar para alcançar a Hungria, protegendo a vida dos seus filhos. Zia realçou que a Turquia já acolheu 2.5 milhões de refugiados, propondo assim que o Estado europeu se unifique num programa de recolocação internacional. Se no passado, em contexto de Guerra Fria, a Europa conseguiu acolher refugiados vietnamitas, “certamente conseguirá voltar a fazê-lo” em 2016.
Já há tema para o ano
No evento de sábado foi já desvendado o tema para o TEDxOporto do próximo ano. Já mais para o final do dia o tema foi descodificado. “Verdade ou Consequência” deverá ser a temática do TEDxOporto de 2017, a acontecer no dia 1 de abril.
Entre a segunda e a terceira palestras deste painel descodificou-se a TedxOporto de 2017, que deverá incidir sobre o tema “Verdade ou consequência”, a realizar-se no dia 1 de abril.
Na segunda “talk”, a jornalista da RTP Soraia Ramos falou da dificuldade em chegar à verdade. A jornalista relatou algumas reportagens que fez em países como a Bielorrússia, a Síria ou a Etiópia. Soraia apontou que foi preciso trazer “a verdade do país escondida para passar uma fronteira”.
A jornalista explicou a realidade da mulher na Síria: “Na Síria ser mulher é ser invisível, é não ser nada. E por ser invisível consegui mostrar a vida dos outros. A minha verdade é feita da verdade dos outros”.
Seguiu-se o orador Tiago Reis Marques, que recomendou uma solução para travar o envelhecimento cerebral. Para Tiago “o cérebro é um enigma”, um órgão super desenvolvido que se degenera ao longo da vida, afetado por doenças neurológicas e mentais.
O mais importante fator de proteção contra a perda cognitiva é o exercício físico, catalisador de mudanças estruturais no cérebro ao nível do hipocampo, com aperfeiçoamento da memória. Tiago Reis Marques terminou o discurso recriando uma famosa citação – “corpo são em mente sã” – , e cunhando a “hashtag” “run for your brain”.
O último orador do dia foi o cantor e compositor Pedro Abrunhosa que partilhou opiniões sobre “o lugar onde a música e o pensamento são feitos”. O músico indicou que é tortura viver-se com uma banda sonora não escolhida, ou seja, ser diariamente bombardeado pelo ruído de informação alheia.
Abrunhosa relembrou os recentes atentados de Paris e a ausência da “música” caraterizadora da cidade nos dias seguintes: o riso das crianças, a fala dos turistas, os abraços perdidos. O compositor portuenses abordou também o fenómeno Trump, enquanto burburinho que se faz ouvir através pela comunicação social. Para terminar Abrunhosa exaltou o conhecimento, a arte e literatura como formas de silêncio e de enriquecimento interior.
O quarto painel fechou com o “stand up” de Nilton e com a atuação musical de Gao Percussion. O sétimo evento TEDxOporto terminou com agradecimentos ao público por parte da equipa de produção e de voluntários do evento, prometendo inovação ano após ano.
Artigo editado por Sara Gerivaz
