Depois do “grande projeto” do mandato de Rui Moreira, como assim o classifica o próprio, ter sido apresentado em Milão, seguiu rumo ao Porto, onde encheu uma das naves do antigo Matadouro Municipal do Porto.

Guilherme Blanc, adjunto da Cultura, recebeu as centenas de pessoas que ocuparam o espaço com curiosidade e deu a conhecer cada uma das valências e o plano que a Câmara Municipal do Porto (CMP) traçou para as mesmas.

O presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, Ernesto Santos, recheou o espaço com o sentimento de “ser campanhense”. Grato a Rui Moreira por dar uma segunda oportunidade à freguesia que muitos consideram ter ficado esquecida, Ernesto Santos referiu que o que lhe vai “na alma enquanto campanhense é um sentido de gratidão profundo à governança da cidade do Porto que demonstra finalmente que há, de facto, uma nova forma de fazer cidade”.

O presidente da junta de freguesia apelou também a um alargamento da visão sobre o projeto, justificando que este não é só um “projeto local, mas sim uma dinâmica de cidade”.

A escolha do arquiteto foi também debatida por Ernesto Santos. Por ser, também ele, campanhense, o presidente considera que vai haver outro empenho: “Tenho a certeza que qualquer arquiteto poria neste trabalho toda a sua vontade profissional, toda a sua sabedoria, mas não poria, se calhar, a sensibilidade de quem cresceu dentro deste matadouro. E o Jorge cresceu aqui em frente e tem a sensibilidade de ter visto este matadouro no seu auge e também na sua decadência”.

Foi com um abraço ao presidente da Câmara Municipal do Porto que Ernesto Santos se despediu. Rui Moreira, que tomou a palavra, expressou a esperança que deposita neste projeto: “Quero dizer que para mim este é um momento particularmente feliz deste mandato. Este trabalho resultou de muito pensamento estratégico dentro da vereação”.

Quando pensa no projeto e na sua preparação, o presidente da Câmara do Porto pensa naquilo que não pode mesmo faltar. “Acreditar que a cidade do Porto vai industrializar-se e que essa industrialização vai ter que dar trabalho e vai ter que contribuir para a economia dos portuenses é uma condição fundamental”, referiu.

Durante a apresentação, Rui Moreira focou também o que pretende para o Matadouro: “Um terço do matadouro será dedicado a empresas tecnológicas que vão trazer uma coisa muito importante: gente, trabalho, emprego. Nós queremos que este matadouro esteja cheio, durante o dia, de pessoas que aqui trabalham. Não queremos simplesmente estar a espera que venham cá para atividades culturais. Queremos também recuperar as antigas atividades tradicionais da cidade”, explicou Rui Moreira.

“O Matadouro vai ser uma rua do Porto”, concluiu o presidente da autarquia.

A dinamização e a apresentação estiveram a cargo da Escola Superior de Artes e Design (ESAD). A escola contribuiu com a elaboração e distribuição do livro “Porto Before Porto”, no qual é explicado ao detalhe a requalificação do Matadouro.

No final, houve tempo para “comes e bebes”, ao som de música ambiente.

O projeto que vai reavivar a zona “discriminada” da Invicta

Durante a cerimónia de apresentação, sorrisos e aplausos não faltaram. O antigo Matadouro Municipal ganhou cor e movimento, não só pela luz que clareava todo o edifício, mas pela agitação de todos os que passavam pelo corredor principal do espaço.

Áurea Silva era uma campanhense entre todos os que se ouviam no recinto. Porém, destacava-se pela emoção nítida no seu rosto: “Sou daqui de Campanhã e conheço isto desde a minha ‘meninice’”, confirma Áurea. A natural daquela freguesia mostrava-se orgulhosa pelo “bom caminho” que Campanhã está a levar: “Esta zona já foi discriminada, mas agora os tempos são outros”, apontou a campanhense. Áurea Silva carrega já 66 anos de vivências na zona oriental do Porto que, segundo a residente, “tem sido muito esquecida”.

Os elogios a Rui Moreira também se prolongaram até ao fecho das portas do Matadouro. Além dos três pilares do projeto político do atual presidente da Câmara do Porto (cultura, coesão social e economia), as palavras “contribuir” e “desenvolver” foram as mais ouvidas na sessão. Mas os aplausos não se dirigiram apenas ao autarca. Também a ESAD foi muito gabada esta quarta-feira. Fernando Vasconcelos não cresceu em Campanhã, mas há quase três décadas que vive o dia a dia daquela gente. O portuense contou ao JPN que o “projeto vai dinamizar bastante a zona” e que a “prestação da ESAD foi fantástica”.

O projeto Matadouro tem previsão de conclusão para daqui a dez anos e está orçado em cerca de dez milhões de euros. Para o presidente do município do Porto, o dinheiro não é um problema, uma vez que “as contas à moda do Porto foram devidamente pensadas”.

Em declarações à comunicação social, Rui Moreira esclareceu que os “acabamentos” do edifício estão a cargo das empresas que se vão instalar no espaço. “Vamos abrir concursos e iremos colocar isto no mercado, através de métodos normais”, anunciou o presidente, no que diz respeito à decisão das empresas que vão ocupar o antigo Matadouro de Campanhã.

Ao JPN, o presidente da Câmara Municipal do Porto referiu que já estava à espera da intensa adesão dos portuenses ao evento. “Esta requalificação do Matadouro é a realização daquilo que é o meu projeto político para a cidade. Queremos juntar a cultura, a coesão social, o emprego e a economia”, admitiu.

Satisfeito com a apresentação também se mostrava Manuel Pizarro, responsável pela pasta da Habitação e Ação Social da autarquia. “Como portuense que tem especiais responsabilidades na cidade, percebo a importância de devolver a zona oriental ao Porto ou o Porto à zona oriental, ou seja, esbater aquilo que é uma discriminação ancestral da zona oriental em relação à cidade”, apontou o vereador. Manuel Pizarro disse ao JPN que o “projeto do Matadouro de Campanhã tem todo o potencial e vai ser o centro do ressurgimento da freguesia como um grande pólo para o futuro do Porto”.

“Esta requalificação do Matadouro significa uma cidade que, com os pés bem assentes na sua história, na sua identidade, no seu passado, se projeta para o futuro, para ser uma cidade com mais qualidade de vida e com mais inclusão social”, concluiu Manuel Pizarro.

Artigo editado por Sara Gerivaz