Maria Ribeiro vive desde que nasceu, há 61 anos, no Bairro São João de Deus e ressalta o ambiente familiar em que se vivia. Alguns moradores até traziam um “cobertor e um travesseiro” e dormiam no exterior das suas casas, no verão.

Atualmente, a segurança é uma das queixas dos moradores. “Não vou para o metro porque tenho medo, porque há ali assaltantes”, conta Lídia. Não há luz em algumas ruas e existem espaços entre os telhados das casas por onde é possível passar de uma habitação para a outra.

A polícia já não anda tanto nas ruas. Lídia assegura que ainda na madrugada de sexta-feira “roubaram chapas e partiram o vidro a um trator”.

A humidade é outro problema das habitações que parecem feitas “para bonecas”. Há quase 40 anos que Manuela Cunha habita no bairro e conta que houve pessoas “que tiveram de sair das habitações porque tinham asma e não podiam por causa da humidade e do inverno”.

Há 39 anos que as habitações do Bairro São João de Deus não sofriam obras por parte da câmara. Maria Berta, moradora no local há 45 anos, explica que “só quem gastou muito dinheiro é que tem boas condições”.

Rosa Sousa, moradora do bairro há cerca de 40 anos, acrescenta que os saneamentos “estão todos a caír para a linha, assim como a casa”. “Estamos em perigo, realmente”, remata Rosa.

As obras, que foram na manhã desta sexta-feira inauguradas no Bairro de São João de Deus, são há muito ansiadas pelos moradores, que esperam melhores condições.

Um projeto que espera gerar um novo ponto de atratividade

O projeto, inserido no Programa Integrado de Reabilitação de Bairros Sociais do Porto, tem duas fases: ampliação e a reabilitação. Vão ser construídas 13 novas casas e transformados 144 fogos em 84 novas habitações. No total, o bairro será constituído por 97 casas, obra terminada “até ao final do ano de 2017”, conforme garantiu Manuel Pizarro, vereador da Habitação e Ação Social da Câmara do Porto.

Os moradores foram convocados para uma reunião no dia 12 deste mês e contactados também por carta. Foi dada a opção aos moradores de continuarem a viver no local, em contentores, enquanto a requalificação durar, ou mudarem provisória ou definitivamente para outros bairros. Apenas uma família decidiu mudar-se definitivamente, de acordo com a Câmara.

Quanto às rendas, vão ser avaliadas de acordo com os rendimentos de cada família.

Manuel Pizarro acredita que o projeto vai “gerar uma nova centralidade” na zona, “com grande qualidade de vida” e que vai ser um ponto de “atratividade”.

A zona foi “durante décadas” colocada “ao abandono”. Ernesto Santos, presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, acredita que estas obras são uma “forma de fazer cidade para as pessoas” e que marcam a altura em que “finalmente” alguém olhou para ela e cumpre o que prometeu.

Rui Moreira reforçou a ideia de que as alterações em Campanhã constavam do seu programa eleitoral, por isso, está “a cumprir” com o que tinha anunciado.

Na freguesia, o montante previsto a ser investido até ao final do próximo ano é de 26 milhões de euros, “esforço perfeitamente comportável pelas contas do município”, afirma Rui Moreira.

O presidente da câmara acredita que “é possível continuar a trabalhar, fazer casas novas e a reabilitar o edificado” e refere que a Câmara apenas gere o dinheiro dos portuenses. “Não é nenhuma dádiva nossa”, explica.

Ainda existem famílias à espera de casa

“Estão 700 famílias à espera de casa”, revela Manuel Pizarro, no entanto, o número é “dinâmico”, porque vai aumentando e diminuindo todos os meses.

Andreia Silva é um desses casos. Já morou no Bairro São João de Deus e agora habita no de Santa Luzia. A moradora está há um ano e meio à espera de casa e vive com uma pensão para duas filhas. Andreia afirma que a câmara lhe diz para aguardar. “Eles estão a dar casa a quem não precisa, é por isso que não há casa para os necessitados”, afirma.

“Percebemos que há muita pressão, há muitas famílias à espera de casa”, mas “temos de fazer isto de acordo com os recursos que a câmara tem e de acordo com as possibilidades que temos”, explica Rui Moreira.

O ano passado, Manuel Pizarro conta que a Câmara do Porto atribuiu 470 casas. Para este ano, o vereador e Rui Moreira esperam atribuir todas as casas que puderem e referem que algumas delas “resultam de pessoas que saíram por várias razões”, algo que não passa pelo controlo da câmara.

Os bairros onde já houve alterações foram o de São Vicente de Paulo, Lagarteiro e Contumil, que custaram, neste mandato, 3,2 milhões de euros.

Em curso, estão as obras de São Roque da Lameira e Machado Vaz, bem como as que foram esta sexta iniciadas no São João de Deus, num investimento total de oito milhões de euros.

As próximas intervenções a ainda em 2016 e no próximo ano, prefazem um total de 15,4 milhões, desta vez, nos bairros de Monte da Bela, Falcão e Cerco do Porto.

 

Artigo editado por Filipa Silva