Alexander já é um trompetista conhecido do público portuense e dos turistas que visitam a cidade. O instrumento musical, que pensa ter a sua idade, 46 anos, eleva as notas com força e leva-as à distância.

Em conversa com o JPN, Alexander não esconde o seu caráter de humorista, trocista até, contador de histórias e declamador de poesia, mas, acima de tudo, intitula-se de “salvador”.

“Estou aqui porque há muitos turistas, e onde há muitos turistas eu posso salvar mais gente”, revela. Não é por acaso que a “Ave Maria” ou “Santa Lucia” se distinguem entre os barulhos urbanos: Alexander toca quando acha que a cidade e as pessoas precisam de mais “pureza”.

Diariamente, o músico visita vários sítios do Porto, como a Sé ou a Praça da Batalha. A Avenida dos Aliados e as ruas circundantes assistem com muita frequência à sua manifestação artística.

O trompetista sabe de cor mais de duzentas partituras, às quais dá a sua interpretação especial, sem nunca esquecer o caráter e a origem da música. Desse reportório internacional, toca músicas de um dado país quando reconhece a nacionalidade dos turistas. Inspira-se na multiculturalidade do Porto e dedica cada música a uma pessoa que passa, ouve e observa. Quando passar por Alexander, não se esqueça que a música pode ser para si.

Nascido no Cazaquistão, na antiga União Soviética, de pais russos, foi para a Ucrânia aos seis anos. Há 15 anos em Portugal, é com alguma revolta que reconhece que lhe confundem a nacionalidade e dizem que é ucraniano. “Porquê trocarem a minha nacionalidade? Eu sou russo”.

“Não sei o que os guias turísticos falam de mim”, reflete Alexander, que faz soar o trompete sempre que vê grandes grupos, mas muitas vezes não recebe nenhuma moeda. Apesar de o facto lhe causar estranheza, só baixa os braços quando precisa de descansar, porque de resto, a prática do instrumento e a “salvação das pessoas” são os seus principais objetivos.

O trompetista completou o ciclo de estudos de trompete, que vai até ao 8º grau, e nunca toca menos de seis horas por dia. Reafirma que desde pequeno que a música é a sua verdadeira paixão.

Alexander experimentou várias profissões, mas admite que nada lhe dá mais gozo e nada lhe faz mais sentido do que a música. Ficou com mãos ásperas do trabalho nas obras, mas o trompete também lhe deixa muitas marcas.

Esteve no exército soviético e diz que tocar na rua é como uma guerra, por se travar uma nova batalha todos os dias. Com isso, Alexander diz que cresce.

Debaixo do sol, o instrumento de sopro com origem na República Democrática da Alemanha também falha notas e não consegue chegar aos registos mais agudos.

A cada família que encontra, Alexander pergunta se os filhos estão a aprender música ou dança, porque quando crescerem, “todos podem mudar fraldas a velhotes, mas dançar, cantar ou tocar não é para todos”. O russo considera que quem estuda música é mais fiável e “tem mais sentido de orientação na vida”.

Por isso mesmo, Alexander tem nos planos abrir uma escola de artes gratuita e quer tocar ao ar livre até chegar a um nível de excelência absoluto e poder entrar numa orquestra profissional. Revela que ainda vai gravar um disco quando estiver preparado.

O músico não deixa ficar sonhos a meio e conta como podia comprar um avião privado para chegar a qualquer parte do mundo, “da Hollywood à Rússia”, em meia hora. Também promete, entre risos, que ninguém se vai queixar da sua música quando se tornar estrela. “Quero treinar, quero ser estrela de Portugal, depois da Espanha, depois da Rússia, depois estrela mundial. Nunca vou trabalhar em mais nada”.

“No Porto, já salvei 150 mil pessoas em três anos”, conta o músico ao JPN. Alexander “Salvador” tenta ajudar os que não conseguem ver o mundo de uma maneira aberta. No dia de terça-feira até a meio da tarde, o músico considerava ter salvado cerca de 40 pessoas – aquelas que gostaram de abrir ouvidos à sua música e lhe deixaram uma moeda.

 

Artigo editado por Filipa Silva