“Reaching for the heart” foi o nome da terceira edição da “YES Talks”, um evento dedicado à ciência, que convida especialistas de diferentes áreas da Medicina. Este ano, a palestra do “YES Talks” foi dedicada à cardiologia e contou com o cirurgião francês Alain Carpentier, autor do primeiro implante de coração artificial na Europa.

A convite de estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o vencedor do Prémio Lasker em 2007 veio dar a conhecer o caminho que tem vindo a percorrer desde há quatro anos, quando iniciou a investigação subordinada à temática do coração artificial.

O diretor do departamento de Cirurgia Cardiovascular do Hôpital Européen Georges-Pompidou, em Paris, espera conseguir produzir um coração artificial totalmente bioprostésico, uma tecnologia com potencial para salvar e prolongar vidas.

O que é a YES Talk?

A “YES Talk” é uma sessão de palestra e debate, integrada no Young European Scientists Meeting. O “YES Meeting” é um congresso dirigido a estudantes de Medicina e Biomedicina, organizado anualmente desde há 11 anos, com o objetivo de promover ciência a nível internacional.

Na palestra, Alain Carpentier identificou alguns passos para se ser inovador, sendo que o primeiro consiste em identificar um problema desafiante. No seu caso em específico, o problema que identificou foi a falência biventricular, um tipo de falência cardíaca que “afeta cinco milhões de pessoas nos Estados Unidos e que tem uma taxa de mortalidade de 45% por ano”.

A partir daí, tentou encontrar soluções. E se é verdade que o transplante cardíaco pode solucionar o problema da falência cardíaca, é também verdade que “não há dadores suficientes para a procura”, o que faz com que seja necessária “a criação de corações artificiais”.

Alain procurou estudos anteriores e aparelhos já desenvolvidos por pioneiros, neste caso, corações artificais e aparelhos de assistência, tendo sido confrontado com uma forte limitação: a formação de coágulos. Assim, era preciso arranjar solução para o problema. E Alain arranjou-a. O cardiologista descobriu que válvulas feitas de tecido animal impediam a formação de coágulos.

Foi com “paciência, perserverança e experiências prévias em animais” que Alain desenvolveu o CARMAT, um coração artifical formado por dois ventrículos, duas bombas pulsáteis, quatro válvulas bioprostésicas e duas membranas bioprostésicas.

Claro está que, sendo artificial, o coração precisa de energia. Para já, a única opção é o transporte de duas baterias capazes de garantir, ao todo, oito horas de energia, mas no futuro, “com as baterias de hidrogénio, o paciente vai poder ter 10 horas de energia sem mudar as baterias”.

Alain Carpentier efetuou o transplante de coração artifical em quatro pessoas com um quadro clínico de falência cardíaca que lhes dava “apenas semanas ou dias de vida”. Os pacientes acabaram por morrer mais tarde, sendo que o caso clínico que teve mais sucesso foi o de um homem que viveu 628 dias com o aparelho e que, nas palavras do próprio, viveu com “mais força, equilíbrio, pensamentos claros e qualidade de vida”.

Duas das mortes foram provocadas por disfunção eletrónica e duas por falência de órgãos, sendo que Alain não identificou formação de coágulos, hemólise (destruição prematura dos glóbulos vermelhos) e infeção em nenhum dos casos.

“O futuro é por aqui e é brilhante”

António Gaspar, cardiologista no Hospital de Braga, lembrou à plateia que os primeiros pacientes a serem submetidos a um transplante de coração morreram duas semanas depois da operação, e parabenizou a meta de 9 meses de vida que Alain conseguiu proporcionar ao seu paciente. “O futuro é por aqui e é brilhante”, salientou.

Além de Alain Carpentier e dos cerca de 200 alunos e professores que o ouviram, a Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Palácio de Cristal, recebeu João Lima, professor na Johns Hopkins School of Medicine.

O próximo congresso, subordinado à área da Cardiologia, vai acontecer entre 15 e 18 de setembro na FMUP, e pode contar com 450 inscritos. A presidente do 11.º “YES Meeting”, Ana Vaz, contou ao JPN que o congresso vai oferecer sessões científicas em cinco áreas, a apresentação de trabalhos científicos dos estudantes, “workshops” e a apresentação de um plano social para promover a cidade.

Artigo editado por Sara Gerivaz