Palavra puxa palavra e à porta da Livraria Lello há uma “passadeira” delas. Por entre nomes, verbos, adjetivos, advérbios e até neologismos, há mais de mil palavras pintadas no chão da Rua das Carmelitas.

O Bairro dos Livros e a Livraria Lello, em parceria com as Tintas CIN e a Porto Lazer, quiseram “celebrar a leitura e dinamizar a cidade do ponto de vista dos livros, cruzando várias artes”, conta Maria Inês Castanheira, fundadora do Bairro dos Livros.

O desafio de definir a cidade, os livros e a literatura foi aceite por milhares de portuenses e não só: a “homenagem” estende-se à cidade e aos que nela vivem, mas também aos que já não moram mas “têm no Porto uma referência”.

Maria Inês conta ao JPN que este “gesto público” colheu a participação de milhares de pessoas e que por isso houve um processo de seleção das palavras “porque não cabiam todas”. Para a organizadora da iniciativa, a adesão foi “extraordinária”. “Nós tínhamos inicialmente previsto quinhentas palavras. Mas de repente percebemos que, mesmo com atrasos, as pessoas queriam participar  e tivemos mesmo que fechar a plataforma”, explicou.

Inebriante. Estonteante. Impressionante. “Inolvidable”. Reinventiva. Acolhedora. Revolucionária. Intensa. Vocábulos que tanto caracterizam a leitura, como a própria cidade, e que fazem parte do rol de palavras gravadas à entrada da Lello.

“Quando estamos a definir livros, quando estamos a definir a cidade, também nos estamos a definir. Acho que é um desafio interessante”, defende Maria Inês Castanheira.

Tainã é estudante de mobilidade e aceitou o desafio. Escolheu a palavra “Libertação”, mas ainda não a encontrou, por entre as mais de mil, que se estendem pela passadeira. “Eu leio muitos livros, desde a infância, e através deles, eu tive muita libertação. Libertação de preconceitos, libertação do senso comum, libertação de pensar os espaços como só uma alternativa”, refere a estudante de Porto Alegre, no Brasil.

O Porto foi uma libertação: “Estou de Erasmus aqui há quase um ano e às vezes quando estás na tua própria realidade, não consegues notar coisas como quando estás longe”, conta Tainã. “Também é um tipo de libertação sobre  a minha reflexão sobre coisas que eu já pensava mas que ressignifiquei estando aqui no Porto”, acrescenta.

Nas palavras de Tainã, a arte é um “ponto muito forte de chamamento” para as pessoas. A aluna da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) acredita que “através da Passadeira de Palavras as pessoas podem sentir-se convidadas a entrar e a ver o que está a ser escrito”, alertando assim para as livrarias como locais com interesse turístico.

Nos próximos seis meses, a Passadeira de Palavras vai poder ser atravessada. É uma “obra artística” que tem a contribuição de todos. A iniciativa integra o Programa de Arte Urbana do Porto e as comemorações do 110º aniversário da livraria, celebrado em janeiro, e do sexto ano do Bairro dos Livros.

 

Artigo editado por Filipa Silva