São 15h30 e o cortejo finalmente começa. Na Rua da Restauração, já são muitos os que cantam as músicas de curso. Antes disso, formam-se filas de alunos que parecem não ter fim à porta dos cafés em busca de água, pois o sol está forte e o calor faz-se sentir intensamente.

Medicina dá o pontapé de saída. Seis anos de trabalho estão prestes a terminar, e para trás vão ficar não apenas os estudos, como também os laços criados entre os alunos. Joana Lemos, de 24 anos vai dizer adeus à Faculdade de Medicina: “É o culminar de uma experiência muito bonita que durou seis anos. Foram anos de muito trabalho e dedicação”. A estudante não vai esquecer os amigos: “Sem dúvida que fiz amizades para a vida. Para além do curso, levo pessoas muito especiais comigo”.

A ordem do cortejo permanece ano após ano. Para uns ainda suscita dúvidas, mas depois de Medicina surge Ciências. Bárbara Ribeiro, estudante de Bioquímica, partilha da opinião de Joana e vê no cortejo uma importância enorme para os finalistas: “É algo muito simbólico. Até agora participei sempre, acho que é uma oportunidade importante para nos despedirmos da academia”. Sobre o futuro, Bárbara diz que quer “trabalhar”, mas que continuar a estudar é uma possibilidade.

Engenharia é a terceira faculdade a percorrer o caminho do cortejo. Renato Pinto Velho está prestes a concluir o curso de Engenharia Civil aos 31 anos e veio celebrar com os colegas. A “formação pessoal adquirida é importante”, mas as amizades são igualmente valorizadas porque “nunca se poderá ser um bom profissional” se os alunos “se ficarem apenas pelas competências técnicas na faculdade”. A academia, na opinião de Renato, deve “ser transversal e construir princípios cívicos e de união com os outros”.

Se Renato é a prova que nunca é tarde para estudar, que dizer de Nuno Silva? Com 39 anos, estar “finalmente no cortejo é o resultado de uma luta muito grande”. A concluir Ciências da Comunicação, a presença no cortejo é o concretizar “de um sonho que já vinha desde a década de 90”. Nuno tem um filho de sete anos, e quer que o mesmo veja no pai um exemplo, pois “nunca é tarde para aprender” e os estudantes devem “terminar o curso e procurarem sempre o seu caminho”.

O Cortejo não vive apenas dos cânticos pela academia

Ainda falta um pouco para chegar à tribuna, mas os estudantes não se limitam a cantar pelos cursos que representam. À medida que o tempo vai passando, são muitos os abraços, desejos de sucesso e bengaladas nas cartolas. “Felicidade”, “sucesso” e “saúde” são as palavras mais repetidas entre os cartolados, seguindo-se abraços duradouros entre amigos.

Do alto dos carros alegóricos, os mais velhos vão puxando pelos caloiros, que lhes respondem com cânticos, saltos e gritos.

Os pais, não conseguem contar a emoção e o orgulho nos filhos. “Parabéns” diz Miguel Freitas ao seu filho, também Miguel, prestes a concluir a licenciatura em Economia. “Lá porque vais ser médico não significa que não devas ter cuidado”, afirma Maria Graça ao seu neto Tiago entre risos, enquanto lhe coloca protetor solar na cara.

São 16h30. O sol continua forte e alguns aproveitam a demora no avanço do cortejo para irem tomar bebidas. O Café Piolho e a Adega Leonor apresentam filas grandes de estudantes. Muitos saem com garrafas de água, outros com sumos, mas o propósito é o mesmo: hidratarem-se porque o caminho que falta ainda é longo.

A vender pipocas encontra-se Luís Gonçalves. Não tem muitos alunos a irem ao seu encontro porque “os estudantes preferem beber que é mais o seu estilo”, afirma, sorridente.

O tempo solarengo que se vê em plena baixa do Porto foi motivo para alguns saírem de casa. “Tinha amigos em Engenharia que iam ao cortejo e por isso aproveitei para os vir ver”, diz Henrique Teixeira, estudante de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Já Bernardo Tavares, estudante de Engenharia Civil no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), veio ao cortejo “porque estava um dia espetacular”. “Queria ver como era o cortejo este ano, e estava tanto sol que achei que valia a pena vir ver”, acrescenta.

O tão aguardado momento

Faltam dez minutos para as 18h00. A Avenida dos Aliados está cheia de gente. O camião de Medicina é o primeiro a chegar à tribuna. Os presentes saúdam a vinda dos que estudam no São João, elogiando-lhes o longo caminho até à conclusão do curso. Os pais olham com entusiasmo. “O teu irmão é médico!”, alguém grita.

Fiel à ordem, Ciências passa pela tribuna. “Saber se deve ser Medicina ou Ciências os primeiros a passarem, é como perguntar o que nasceu primeiro, se a galinha ou o ovo”, diz o “speaker”, entre risos, aos presentes. Em menor número que Medicina, passam rapidamente para o outro lado da Avenida. Seguem-se os engenheiros e depois Letras. E muitos outros vão passando.

Chegar à tribuna tem um simbolismo sem descrição para aqueles que concluem o curso. Risos, abraços e algumas lágrimas marcaram os últimos anos e este momento tão importante nas suas vidas. Se para alguns é o fim de um ciclo, para outros será certamente uma nova etapa nos seus caminhos.

Artigo editado por Sara Gerivaz