Há menos um muro “feio” em Matosinhos. O muro vizinho à galeria e leiloeira P55, na Rua Brito Capelo, começou a ganhar vida esta terça-feira com a intervenção de Hazul Luzah. Apesar de ser o primeiro trabalho por estes lados, o artista urbano vê-se “completamente em casa”.

Até porque, como contou ao JPN, “uma boa parede num sítio central e numa rua bastante importante de Matosinhos é uma boa forma de começar”.

O tema? Esse é fácil. Com tão forte tradição marítima, só essa temática faria sentido. “Foi bastante óbvio tanto pedirem-me esse tema como eu concordar com ele”, disse o artista. Um tema que Hazul gosta “bastante” e que tradicionalmente já inclui nos seus trabalhos.

Há peixes e embarcações, mas, como já é habitual no seu trabalho, tudo isto aparecerá em formas abstratas e geométricas, numa alusão sem realismos. As cores passam por tons azulados e amarelos e as figuras femininas de Hazul encaixam que nem uma luva na alusão às varinas, as antigas vendedoras ambulantes de peixe. “Foi fácil aceitar o convite”, diz entre risos.

A obra de arte deverá ficar pronta até ao final desta semana, mas não vai ser a única marca de Hazul na cidade. Sobre este outro projeto as novidades ficam para “mais tarde”.

Para já, fica a iniciativa da P55 que vê na obra de arte urbana uma extensão da galeria, ou seja, “trazer aquilo que existe lá dentro cá para fora”. Quem o explica é Aníbal Pinto de Faria, presidente executivo da P55, que pretende “desmistificar aquilo que é a arte”.

Até porque quem pensa que aqui só encontra arte “antiga”, engana-se. A galeria vai desde o tradicional até ao trabalho de artistas emergentes, uma mistura entre o clássico e o contemporâneo que agora também está patente num dos muros exteriores do espaço. É “democratizar” a arte, declara Aníbal Pinto de Faria.

Aaposta de galerias em arte urbana ainda é escassa em Portugal, mas Hazul defende que “ter ao lado da loja um movimento de arte que é bastante recente vai proporcionar aos habitantes de Matosinhos, e por quem aqui passa, poderem disfrutar de bons trabalhos”.

 “É trazer vida e arte a um muro desqualificado”

Para o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Matosinhos esta iniciativa da P55 é de louvar, pois tornou um “muro feio e degradado numa obra de arte”. Fernando Rocha acredita que a arte urbana, uma forma de expressão emergente, é uma boa maneira de integrar edifícios e espaços públicos. Por isso mesmo, o autarca explicou ao JPN que este mural é o “pontapé de saída para o resto do conjunto de intervenções”, intervenções essas que vão ficar a cargo da autarquia.

No âmbito da nomeação de Matosinhos como Capital da Cultura do Eixo Atlântico, um conjunto de artistas nacionais e internacionais, a convite do município e do Centro Empresarial da Lionesa, vão intervencionar vários edifícios, num projeto que vai durar dois meses.

O vereador da Cultura sublinha que a base do projeto “é trazer para a cidade edifícios que hoje estão fora por degradação, por serem feios, por a empena ser agressiva. Por exemplo, numa das intervenções vamos intervencionar uma fachada de um bairro social da câmara, que é a forma de o integrar também na cidade e de o qualificar”.

Fernando Rocha, que há 30 anos deu por si em Bruxelas, onde trabalhava, “à procura de ver as empenas dos prédios onde tinha pinturas à volta das historias que eram do Tintin”, acredita que este é o efeito desta «nova» arte. “É criar um circuito de forma a que as pessoas percorram a cidade mas a cidade também lhes ofereça alguma coisa para verem”, explicou ao JPN.

Até porque o vereador acredita que “este muro vai tornar-se um foco de atração”. “É trazer cor, vida e arte a um muro desqualificado”, concluiu.

 

Artigo editado por Filipa Silva