Terminou a experiência contra-corrente do jornal britânico “the New Day”, um jornal que tinha a particularidade de apenas ter versão impressa. O JPN falou com Elizabeth Holloway, diretora de Comunicação da Trinity Mirror, sobre o encerramento. Elizabeth considera que a empresa teve muita disciplina financeira com esta experiência.

“O produto era correto. O grande desafio consistia em mudar o comportamento das pessoas”, conta a diretora de comunicação. Num mercado mais pequeno do que estavam à espera, “era muito difícil fazer com que as pessoas comprassem o jornal todos os dias e não só uma ou outra vez”.

A Trinity Mirror, companhia responsável pelo Daily Mirror e dezenas de publicações nacionais e regionais, pretendia remar contra a digitalização da informação. Lançava então o “the New Day” (tND), diário de quarenta páginas em média, com matérias concisas e um espírito otimista que pretendia atrair leitores, sobretudo femininos, de “copo meio cheio”.

O preço definiu-se nos 50 pences (0.64 euros) e a companhia esperava vender 200.000 cópias diariamente, mas as vendas só chegaram aproximadamente às 30 mil cópias por dia. A última quinta-feira trouxe a reunião anual da Trinity Mirror, que declarou que o lançamento e o subsequente fim da publicação trouxe “novas perceções para o melhoramento dos jornais”.

O “the New Day” não teve site próprio, mas marcou presença no Facebook e Twitter. O objetivo não era para publicar artigos, mas sim para interagir com os leitores. Na página de Facebook, a editora Alison Phillips disse nunca ter sentido um “envolvimento tão grande dos leitores, que não eram os suficientes [para uma base financeira estável]”. A editora refletiu que se não tivessem tentado, seria como “ver e aceitar o declínio da imprensa britânica”.

O jornal foi editorialmente dirigido a pessoas que tipicamente não compravam jornais e, na verdade, parece ter resultado. Os leitores que comentaram a última publicação do Facebook do jornal comprovam isso mesmo. Um dos utilizadores afirmou ter reconhecido a “frescura” da prática jornalística: “Depois de hoje, volto a não comprar papel [jornal]. Nenhum me dá o gozo que quero.”

Muitos são os utilizadores que também destacam as características positivas: visão imparcial, artigos interessantes e rápidos. “Há muito tempo que não comprava um jornal – lia o Guardian – e agora vou ter que voltar a não ler nenhum”, escreveu uma seguidora.

O tND vinha a remar contra a maré. Mesmo grandes e antigos títulos caíram no meio impresso e tiveram de se render à Internet, por todo o mundo. No Reino Unido, antes do “the New Day”, o último lançamento no setor impresso tinha sido em outubro de 2010. O jornal “i” é, desde então, uma versão mais pequena do “The Independet”, que deixa de existir em formato físico. “The Independent” esteve em papel durante três décadas, desde 1986, e o seu número final saiu no dia 26 de março de 2016.

Artigo editado por Sara Gerivaz