Ana Sofia Silva é ex-aluna do programa doutoral MIT Portugal e foi distinguida com o prémio de melhor tese de doutoramento. A jovem foi galardoada, esta quarta-feira, no 16º Encontro Europeu de Fluidos Supercríticos, na Alemanha.

A tese de doutoramento premiada de Ana Sofia Silva propõe uma nova abordagem terapêutica para o cancro do pulmão

A tese de doutoramento premiada de Ana Sofia Silva propõe uma nova abordagem terapêutica para o cancro do pulmão, o mais comum e mortal em todo o mundo Foto: DR

Com a tese de doutoramento “Multifunctional nano-in-micro formulations for lung cancer theragnosis”, Ana Sofia Silva deu mais um passo na corrida da evolução científica. A “International Society for the Advancement of Supercritical Fluids” atribuiu-lhe, esta quarta-feira, o prémio de melhor tese de doutoramento.

Uma nova abordagem terapêutica para o cancro do pulmão é o cerne do trabalho desenvolvido ao longo de três anos na instituição LAQV-REQUIMTE, no grupo Polymer Synthesis and Processing, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. O projeto foi elaborado sob orientação da professora catedrática Ana Aguiar-Ricardo.

Ana Sofia Silva conta ao JPN que a ideia do tema da tese de doutoramento surgiu “na altura da dissertação de mestrado, onde investigava novos agentes à nano escala para terapia do cancro do pulmão”. Surgiram colaborações entre o grupo de investigação do mestrado e o grupo da Universidade Nova de Lisboa, “que investigava também arduamente novas formas de administração pulmonar e nos fez construir um plano de trabalhos que permitisse usar estas novas técnicas com os sistemas à nano escala para tratamento do cancro”.

A administração localizada de fármacos tem-se mostrado promissora no tratamento do cancro do pulmão e doenças pulmonares. Assim sendo, a investigadora combinou a engenharia de partículas com a administração pulmonar com o objetivo de desenvolver uma nova estratégia potencialmente efetiva na utilização de fármacos na zona específica do cancro do pulmão.

Depois de três anos no LAQV-REQUIMTE, Ana Sofia Silva passou cinco meses no Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde sistemas à nanoescala com elevada eficiência contra as células tumorais foram desenvolvidos e posteriormente encapsulados em micropartículas para administração pulmonar. Os nanosistemas permitem silenciar os genes-alvo associados à via genética do cancro.

O trabalho já avançado foi testado em ratos saudáveis de forma a avaliar a biodistribuição das partículas. “Foi no MIT que testámos os nossos ‘pós’ à escala ‘nano-in-micro’ em animais. Antes disso, testámos em células e só depois de reunidas as condições necessárias, passamos para uma escala ‘in vivo’. Conseguimos provar que é possível chegar à zona pulmonar, ao local onde queremos administrar os agentes terapêuticos”, contou ainda a investigadora.

Os resultados da tese não podiam ser mais motivadores: as formulações desenvolvidas provam que a via da administração pulmonar é, de facto, a adequada e tem as condições para aplicação futura em tratamento do cancro do pulmão.

Ana Sofia Silva confessou ao JPN que foi apanhada de surpresa ao ver a sua tese de doutoramento ser internacionalmente premiada.

A investigação foi desenvolvida com a colaboração com o grupo Biomaterials and Tissue Engineering do CICS, Universidade da Beira Interior (UBI), sob a supervisão de Ilídio Correia, professor auxiliar na instituição.

Depois da galardoação, o grupo de trabalho mantém-se empenhado no desenvolvimento da administração pulmonar para o tratamento do cancro do pulmão. Está a ser realizada uma forte aposta nestes novos campos tecnológicos.

Cancro pulmonar: o mais comum e mortal em todo o mundo

Apesar dos avanços clínicos e tecnológicos, a maioria dos pacientes é diagnosticada tardiamente com doença local ou metastizada. Os dados atuais indicam que 86% dos pacientes com cancro do pulmão morrem no espaço de dois anos, enquanto apenas 14% sobrevive durante cinco anos.

As terapias para o cancro do pulmão são ineficientes, uma vez que os agentes terapêuticos não chegam à zona mais profunda do pulmão.

Cada vez se sabe mais sobre as causas deste tipo de cancro, a forma como se desenvolve e cresce, ou seja, como progride. Estão, por isso, a ser estudadas novas formas de o prevenir, detetar e tratar, tendo sempre em atenção a melhoria da qualidade de vida das pessoas com cancro, durante e após o tratamento.

As terapias devem ser agressivas o suficiente para combater a doença, mas é necessário evitar os efeitos colaterais que podem ter um impacto negativo na saúde do paciente. Assim, e como a premiação da tese de doutoramento indica, a administração localizada de fármacos tem-se revelado das técnicas mais promissoras no tratamento do cancro no pulmão.