O massacre deste domingo em Orlando, associado ao autoproclamado Estado Islâmico (EI), já motivou reações dos candidatos à presidência dos Estados Unidos da América (EUA). Donald Trump falou em “dureza”, “vigilância” e agradeceu “as felicitações por estar certo no [que diz respeito ao] terrorismo radical islâmico”. Hillary Clinton, por seu lado, afirmou tratar-se de um “ato de terror” e de “ódio”.

Manuel Loff, professor do Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) considera que “qualquer tipo de atentado de natureza jihadista favorece, permanentemente, os candidatos da direita e da extrema-direita, que é o caso de Donald Trump”. Germano Almeida, escritor e comentador de política norte-americana, não tem dúvidas: “Será importante que, pelo menos nos próximos tempos, a candidata Hillary Clinton consiga também aparecer, de alguma maneira, com ideias claras e uma posição firme em relação a esta questão, caso contrário poderá ter alguns problemas”.

Contactados pelo JPN, os especialistas são unânimes em considerar que a campanha do milionário sem papas na língua é beneficiada por acontecimentos deste tipo, pelo que Loff afirma: “A obsessão de Trump, a escolha clara de alimentar a islamofobia norte-americana através de simplismos inaceitáveis, será favorecida por isto”.

Germano Almeida fala numa “estratégia de lançar o medo”, por parte de Donald Trump. O autor do blogue “Casa Branca” e dos livros “Histórias da Casa Branca” e “Por Dentro da Reeleição”  pensa que o tema “vai certamente dominar, pelo menos, as próximas semanas”, já que Trump “acusa o presidente Barack Obama de não ter protegido a América nos últimos anos, nomeadamente da ameaça do EI”. Ao que o professor da FLUP acrescenta: “Toda a lógica da candidatura de Trump é descrever a administração Obama como irresponsável, cobarde, pusilânime e incapaz de tomar decisões à escala internacional”.

No passado mês de dezembro, na sequência do tiroteio em San Bernardino (Califórnia) que vitimou 14 pessoas – e que foi levado a cabo por um casal com ligações ao EI -, Donald Trump apelou a “uma total e completa interdição da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos até que os representantes do país consigam perceber o que está a acontecer”. Sobre isso, Germano Almeida é perentório: “Os Estados Unidos fundam-se na sua diversidade, têm milhões de muçulmanos perfeitamente legais a viver lá e é evidente que, nem o presidente dos EUA, mesmo que seja Donald Trump, terá esse poder”. Manuel Loff acredita que “o Supremo Tribunal nunca aprovará uma solução dessa natureza” mas não tem dúvidas que “neste momento qualquer viajante, turista ou residente no ocidente de aparência exterior, de nome árabe ou de países muçulmanos (…) é sujeito permanentemente a uma vigilância policial incomparavelmente superior a qualquer minoria”.

A meia centena de mortos e 53 feridos resultantes do ataque à discoteca Pulse, que, segundo Loff, foi obra de “um lobo solitário (…) sem qualquer laço organizacional com o Daesh”, fez relançar a discussão sobre a segunda emenda à Constituição dos Estados Unidos da América que dá o direito aos cidadãos “de possuírem e utilizarem armas”. O facto é um dos grandes pontos de discórdia entre democratas e republicanos.

Hillary Clinton declarou que é preciso “manter armas como as usadas na noite passada fora das mãos dos terroristas ou outros criminosos violentos”.

Mesmo assim, Manuel Loff e Germano Almeida acham difícil que haja uma alteração na lei caso a candidata democrata seja eleita para a Casa Branca, já que apenas o congresso pode alterar a legislação. Segundo Loff, e “mantendo-se uma maioria republicana e uma parte substancial dos congressistas democratas continuarem sensíveis a toda esta retórica em torno do direito ao porte de armas” é “muito difícil” haver uma mudança. Para Almeida, é “importante perceber, nas eleições de 8 de novembro, quem dominará o congresso: se continuará a ser os republicanos ou se os democratas têm algumas recuperações”.

As autoridades americanas estão a abordar o tiroteio ocorrido numa discoteca gay em Orlando como um “ato de terrorismo”. Omar Mateen, identificado como autor do massacre, tinha residência a 200 quilómetros da cidade da Florida. Este é o mais sangrento assassínio em massa da história dos EUA. O homem, de 29 anos, terá jurado fidelidade ao Daesh e fez uso de duas armas de fogo – uma pistola e uma espingarda – para atirar sobre mais de 100 pessoas. Depois de ter feito reféns, foi morto em confronto com a polícia, tendo deixado um dos nove agentes ferido. O cidadão americano, de origens afegãs, vinha a ser seguido pelo FBI por suspeitas de ligações terroristas.

Artigo editado por Filipa Silva