No ciclismo diz-se que os corredores geralmente não se dão bem com os dias de descanso nas provas mais exigentes. Quebra-lhes o ritmo. Aos adeptos do futebol, grandes roladores do sofá, 48 horas de pausa para ver o próximo jogo também maçam. Sobretudo quando se aproximam as grandes decisões e mais ainda quando permanece na corrida a seleção que se apoia.

Esta terça e quarta-feira, as horas são de preparação e descanso para os jogadores. Quinta-feira arrancam os quartos de final e depois disso é sempre a andar: um jogo por dia, sempre às 20h00, até domingo. Espreitemos os jogos no calendário.

Polónia-Portugal (quinta, 20h00, RTP1)

A seleção nacional sobreviveu ao Euro, mais do que o viveu. A verdade é que dos quatro apurados a partir do terceiro lugar na fase de grupos, a equipa lusa foi a única que se manteve na competição, graças ao golo marcado aos 117’, frente à Croácia, por Ricardo Quaresma.

A equipa de Fernando Santos ainda não venceu um jogo no tempo regulamentar e ainda não convenceu o mundo da sua ideia de jogo. Da bancada pede-se mais organização, mais acutilância, mais segurança.

A Polónia anda bem e recomenda-se. Depois de uma fase de grupos sem mácula – duas vitórias e um empate frente à Alemanha – a seleção do leste europeu bateu a Suíça, nos oitavos de final, e colocou-se, pela primeira vez na sua história, nos quartos de final de um Europeu.

Lewandowski, o melhor mercador da fase de qualificação do Euro, ainda não marcou – leva aliás sete jogos sem acertar com a baliza -, mas o facto, como se vê, não impediu a seleção bem organizada da Polónia de estar a fazer o seu melhor europeu de sempre.

As duas equipas já se defrontaram por 10 vezes. A última num amigável, em 2012, que redundou num empate a zero. O jogo de melhor memória para os portugueses, a envolver as duas seleções, remonta a 2002, no Mundial da Coreia/Japão. Portugal ganhou 4-0, com três golos de Pauleta, naquela que será, provavelmente, a única boa memória lusa desse campeonato.

País de Gales-Bélgica (sexta, 20h00, RTP1)

Tal como a Polónia, também o País de Gales está, pela primeira vez, nesta fase da competição, ou não fosse esta uma estreia em fases finais do Euro para os galeses. São também os únicos representantes do Reino Unido depois das saídas de Irlanda do Norte e de Inglaterra, esta última derrotada pela Islândia, provavelmente a maior surpresa destes quartos de final.

É um jogo que promete muitos calafrios aos adeptos. Frente a frente estão as duas equipas que mais golos marcaram até esta fase – oito para a Bélgica e sete para Gales -, sendo que os belgas são também quem mais rematou e quem mais ocasiões de golo criou de acordo com as estatísticas da UEFA.

A verdade é que nenhuma das seleções inspira uma grande confiança. O futebol de Gales, tendo sido eficaz, não foi até aqui convincente. E a Bélgica também não descola da ideia de um conjunto de grandes individualidades num coletivo com um futebol um tanto caótico, a beber da inspiração de Hazard, Bruyne e companhia.

De assinalar, que nos oitavos a Bélgica saiu-se melhor que Gales, ao bater com um claro 4-0 a Hungria, ao passo que a equipa britânica sofreu para bater a Irlanda do Norte.

Alemanha-Itália (sábado, 20h00, RTP1)

No sábado, decorre o jogo que ninguém quer perder nesta fase. A Alemanha tem dado mostras de ser a senhora do futebol mais sólido e esclarecido do torneio até aqui, mas foi a Itália quem passou uma prova de fogo ao mandar para casa, nos oitavos, a equipa que venceu os dois últimos Europeus de futebol: a Espanha.

Mais do que uma vingança – a Espanha eliminou a Itália nos últimos dois Europeus; em 2012, fê-lo na final –, a vitória italiana é apontada como o fim de uma era, aquela em que o futebol da Espanha mandava e inspirava a Europa.

A Alemanha bem pode ser a senhora que se segue, mas o futebol de Conte não é de desprezar. A ideia de jogo pode bem não ser a mais entusiasmante, mas a máquina azul parece bem oleada.

Na história dos confrontos entre as duas equipas, os italianos sairam-se melhor que os alemães. Aliás, a equipa germânica tem contas a ajustar com a “squadra azzurra”, responsável pelo afastamento da Alemanha nas meias-finais do Mundial que a “manschaft” acolheu em 2006 e no Europeu de 2012.

No último jogo em que as equipas se encontraram, a Alemanha venceu por 4-1 a Itália num amigável que teve lugar em Munique.

França-Islândia (domingo, 20h00, RTP1)

É a versão “David contra Golias” desta fase da competição. A França, que joga em casa, detentora de dois campeonatos da Europa (1984 e 2000) e um do mundo (1998) defronta a Islândia, estreante numa grande competição, nação mais pequena de todas as participantes, com 330 mil habitantes.

Mas a Islândia já ganhou. É o que dizem os islandeses: aconteça o que acontecer, a Islândia já ganhou. Afinal, estreou-se em europeus, passou a fase de grupos e deixou pelo caminho a Inglaterra. Não por acidente.

A equipa de Lars Lagarbeck marcou e sofreu golos em todos os jogos disputados até aqui. A França fez uma fase de grupos competente, mas titubeante. Esteve empatada frente à Roménia no jogo de abertura e fechou o grupo com um nulo diante da Suíça. Payet e Griezmann têm estado em evidência, mas há um nervosismo latente nos anfitriões que os islandeses “qui ça” podem aproveitar. Aconteça o que acontecer, ninguém vai respirar de alívio à saída do jogo porque o adversário que se seguirá se chamará Alemanha ou Itália.

As meias finais do Euro 2016 estão agendadas para os dias 6 e 7 de julho. Até lá, há quatro etapas de montanha para ver. No sofá, pois claro.