Há um novo clube na cidade do Porto e está à procura de adeptos. Chama-se Cine Futebol Clube e dá o pontapé de saída esta sexta-feira, nas Galerias Lumiére, onde vai rolar a bola do primeiro Festival de Cinema e Futebol.

Durante dois dias, sexta e sábado, vai ser possível espreguiçar a vista para além das fronteiras do Euro e espreitar as histórias que mostram o lado universal do futebol.

A iniciativa parte de um grupo de jornalistas, que há muito equacionava arranjar espaço para dar visibilidade a filmes, documentários e curtas-metragens que têm o futebol ao centro.

“Há muita coisa boa. Coisas que estão fora do circuito, que comercialmente não são viáveis aqui, não chegam às salas. Então, tivemos a ideia de fazer o primeiro Festival de Cinema e Futebol, inspirados nos que acontecem lá fora”, conta ao JPN Francisco Ferreira, da organização.

Esta primeira edição é apontada como “um ano zero”, à procura da solidez que viabilize o regresso. Mas procuram-se outros ganhos: “Uma vitória para nós seria que as pessoas, além de conhecerem estes conteúdos, encontrassem aqui um ponto de partida para desenvolverem um bocadinho a paixão pelo futebol, já com outra perspetiva”, prossegue o jornalista, para quem Portugal é um pais onde se gosta de futebol mas que “não tem grande contacto com outras realidades do futebol”.

No cartaz desta mostra há três filmes e um debate em cada noite. O primeiro dia do evento é mais dedicado ao futebol enquanto fenómeno social e o segundo “aos derrotados crónicos”, os que, como Francisco nota, são capazes de despertar “um certo romantismo”.

Assim, na noite de dia 8, sexta-feira, além da curta “Ernesto no País do Futebol”, há dois documentários para ver. “Um argentino, que se chama ‘El otro fútbol’, que é sobre futebol amador na Argentina. Em termos de imagens, é uma das melhores coisas que já vi; e teremos o ‘Pelada’, que é um documentário de dois americanos que se juntaram e viajaram pelo mundo a participar em jogos de rua”, descreve Francisco Ferreira.

No dia seguinte, sábado, destaques para “The Other Final”, um documentário sobre um jogo, organizado por um holandês, que opôs as seleções do Butão à de Montserrat. Frente-a-frente, as duas piores seleções do ranking da FIFA à altura, a enfrentarem-se apenas oito horas antes da final do Mundial de 2002 entre o Brasil e a Alemanha.

Neste dia há ainda para ver “The Mouse that Scored” sobre a fase de apuramento para o Mundial de 2008 de uma seleção, a do Lichtenstein, formada por jogadores amadores. “Mostra como é jogares sabendo que vais perder”, resume o jornalista da TVI.

No futebol nem sempre é fácil concordar, mas um ponto gera consenso: o melhor da cinematografia do futebol está no documental e não na ficção. Francisco Ferreira ensaia algumas razões: “O primeiro é o fator comercial. Nos Estados Unidos, que são o grande produtor de cinema ao nível mundial, não há indústria do futebol. O ‘soccer’ é uma coisa residual. Veem-se muitos filmes dos heróis do basebol, do futebol americano, do basquetebol. O futebol não lhes diz muito”, observa.

A isto acrescenta-se o facto de ser “muito difícil recriar um jogo de futebol” do ponto de vista técnico. Para fechar, “há um terceiro fator que, dizia o Freitas Lobo há uns dias e eu concordo, é que o futebol ultrapassa largamente a ficção. As melhores estórias do futebol conseguem ser mais interessantes que as histórias da vida real”, enfatiza.

Exemplos? A história da seleção da Zâmbia vítima de um acidente de aviação em 1993 quando se deslocava ao Senegal para uma partida de apuramento para o Campeonato do Mundo do ano seguinte. Dezoito ano depois, em 2012, a Zâmbia conquista a Taça das Nações Africanas em Libreville: “Foi inacreditável porque a final foi a 10 quilómetros do local onde o avião se despenhou e lhes matou a seleção e dizimou o futebol da Zâmbia e eles, 18 anos depois, ganham ali. É uma coisa que não se consegue ficcionar”.

O primeiro Festival de Cinema e Futebol tem entrada livre e arranca nas duas noites às 21h00.