Para Portugal, a aventura olímpica começou em Estocolmo, há mais de 100 anos. A primeira medalha foi conquistada no hipismo. O JPN passa em revista os momentos-chave da participação lusa na competição.

Foi em maio de 1912 que os dirigente do Comité Olímpico de Portugal (COP) decidiram que Portugal ia estar presente nos Jogos Olímpicos de Estocolmo e anunciaram uma seleção composta por 14 atletas. Cinco desistiram por motivos profissionais e outros cinco não aceitaram o convite. Mesmo assim, o grupo era demasiado grande, tendo em conta que só havia verba para três atletas.

Posto este cenário, alguns membros do COP não desistiram da causa e, através de contributos privados e algumas iniciativas, conseguiram angariar dinheiro suficiente para aumentar o número para seis atletas e garantir a primeira participação portuguesa nos Jogos Olímpicos, em 1912, na capital da Suécia.

Primeira participação de Portugal nos Jogos Olímpicos 

Armando Cortesão, António Stromp, Francisco Lázaro, António Pereira, Joaquim Vital e Fernando Correia compuseram a primeira comitiva olímpica portuguesa. Os três primeiros competiram no atletismo, Pereira e Vital na luta greco-romana e Fernando Correia na esgrima. Da primeira participação de Portugal nos Jogos Olímpicos não ficaram resultados para recordar. A missão portuguesa ficou, aliás, em memória por um triste motivo, a morte de Francisco Lázaro.

Carpinteiro de profissão, Francisco Lázaro era um promissor atleta português, considerado um herói nacional por ter vencido várias competições e maratonas em Portugal e pela dedicação com que treinava.

Seis semanas antes dos Jogos Olímpicos, Lázaro venceu a maratona nacional e completou a prova em menos três minutos do que tinha feito o vencedor da prova nos Jogos Olímpicos anteriores.

Francisco Lázaro era, assim, considerado um dos principais candidatos à vitória olímpica. O sonho deu, contudo, em tragédia. O atleta perdeu os sentidos ao quilómetro 29 da maratona, acabando por morrer algumas horas depois já no hospital. A causa de morte diagnosticada foi desidratação extrema, para a qual contribuíram vários fatores.

Num dia com 32 graus de temperatura, Francisco Lázaro untou o corpo com sebo e com isso bloqueou a respiração da pele, quando pretendia proteger-se do sol. Para o desfecho trágico terá também contribuído o facto do atleta consumir o que na altura se chamava de “emborcação”, uma espécie de suplemento que misturava claras e gema de ovo, água, essência de terebentina e ácido acético para evitar a dor, fadiga e as cãibras. Uma curiosidade é que, antes da prova, Francisco Lázaro terá afirmado: “Ou ganho ou morro”. Lázaro ficou para a história como a primeira vítima mortal de uns Jogos Olímpicos.

Entre a primeira comitiva olímpica nacional, encontrava-se ainda António Stromp, campeão nacional dos 100 e 200 metros e do salto com vara. Nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, António Stromp não conseguiu passar às meias-finais. O seu sobrenome é ainda recordado no panorama desportivo nacional, mas por causa do irmão Francisco, fundador do Sporting Clube de Portugal.

Armando Cortesão participou também nas provas de atletismo, tendo sido apurado para a meia-final. Contudo, não pôde completar a prova devido a uma lesão. Já António Pereira e Joaquim Vital competiram nas lutas greco-romanas mas foram eliminados. Fernando Correia representou Portugal na esgrima mas também não conseguiu nenhuma medalha. Algumas das prestações dos atletas portugueses ficaram marcadas por problemas com a arbitragem.

Outra curiosidade: apesar da República Portuguesa ter sido implementada há dois anos, o hino que tocou na cerimónia de abertura não foi “A Portuguesa”, mas sim o monárquico.

A primeira medalha foi de bronze

Um dos maiores marcos da participação portuguesa nos Jogos Olímpicos foi a conquista da primeira medalha. Durante os Jogos Olímpicos de Paris, em 1924, uma equipa de oficiais da cavalaria conquistaram uma medalha de bronze no hipismo. Esta medalha era tão inesperada que não havia uma bandeira da República portuguesa para hastear. Os cavaleiros portugueses recusaram-se a subir ao pódio sem o símbolo nacional e foi improvisada uma bandeira com um pedaço de tecido verde e outro vermelho.

A participação portuguesa na VI Olimpíada ficou também marcada por vários entraves à chegada dos cavalos a França, sendo que a violência da viagem provocou problemas físicos nos animais.

Apesar dos contratempos, a combinação dos resultados dos três cavaleiros colocou a equipa portuguesa no terceiro lugar e Portugal conquistou a medalha de bronze no Prémio das Nações, a primeira medalha olímpica portuguesa.

A primeira medalha de prata  

A primeira medalha de prata para Portugal foi conquistada pelos irmãos Bello, nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1948, na modalidade de vela. Duarte e Fernando Bello competiram com um barco “swallow”, que tinha sido emprestado pelos ingleses e não ganharam o ouro por uma questão de 14 segundos. Duarte Bello participou ainda em mais quatro Jogos Olímpicos, tendo sido o primeiro atleta português a conseguir o feito.

Primeira equipa feminina

Em 1952, nos Jogos Olímpicos de Helsínquia, Portugal apresentou, pela primeira vez, mulheres na comitiva olímpica, numa época em que a Mocidade Portuguesa defendia que as mulheres não deviam praticar “desportos prejudiciais à missão natural das mulheres”. Quarenta anos depois da primeira participação portuguesa nos Jogos Olímpicos, Dália Cunha, Natália Cunha e Lurdes Amorim fizeram parte da primeira equipa olímpica feminina de Portugal e competiram na modalidade de “ginástica aplicada”, que atualmente se intitula de “ginástica artística”.

O primeiro ouro foi de Carlos Lopes

Quanto à primeira medalha de ouro, foi conquistada apenas em 1984, passados 72 anos desde que Portugal participou pela primeira vez nos Jogos Olímpicos. Carlos Lopes venceu o ouro na maratona, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, tendo percorrido 42 quilómetros e 195 metros em 2 horas, 9 minutos e 21 segundos. O maratonista, com 37 anos, tornou-se no atleta mais velho a ganhar uma maratona e o seu recorde olímpico permaneceu durante 24 anos.

Foram ainda nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, que António Leitão e Rosa Mota ganharam as medalhas de Bronze, nos 5000 metros e na maratona feminina, respetivamente. Na edição olímpica seguinte, Rosa Mota viria a sagrar-se vencedora da maratona feminina.

A vez de Rosa Mota

Já a primeira medalha de ouro conquistada por uma mulher portuguesa, foi ganha pela portuense Rosa Mota nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, também na maratona.

No entanto, o ouro que foi de Portugal podia ter sido de Macau, tendo em conta que, devido a um desentendimento com a Federação Portuguesa de Atletismo, Rosa Mota chegou a considerar representar o antigo território português.

A história da atleta é de sucesso, sendo considerada uma das melhores corredoras do século XX. Foi campeã europeia (1986), mundial (1987) e olímpica (1988) da maratona, apesar dos vários  desentendimentos que manteve com a Federação Portuguesa de Atletismo ao longo da carreira.

Terceira medalha de ouro para Portugal 

Fernanda Ribeiro sagrou-se campeã olímpica nos Jogos de Atlanta, em 1996, nos 10 mil metros. A desportista foi a primeira atleta portuguesa a ganhar o título numa prova de estádio. Fernanda Ribeiro inspirou-se em Rosa Mota e decidiu seguir a carreira no atletismo depois de ter perdido uma maratona por alguns segundos para a portuense. Participou em cinco olimpíadas consecutivas, desde 1988 a 2004, e é a atleta portuguesa mais medalhada de todos os tempos, contando com um total de 12 medalhas arrecadadas nos Jogos Olímpicos, Campeonatos Europeus e Campeonatos Mundiais. Ainda nos Jogos Olímpicos de Atlanta, Francis Obikwelu fez a sua estreia olímpica pela Nigéria.

Em Sydney o ouro e em Atenas a prata

Nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, Portugal foi representado por 64 atletas. A participação portuguesa ficou marcada pela conquista de duas medalhas de bronze, uma delas ganha por Fernanda Ribeiro nos 10 mil metros, e a outra vencida por Nuno Delgado, no Judo. Curioso é o facto de ter sido precisamente nesta Olimpíada que Naide Gomes competiu pela primeira vez, dessa feita como atleta de São Tomé e Príncipe.

Já nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, Portugal conquistou duas medalhas de prata. Francis Obikwelu foi segundo nos 100 metros. O nigeriano nacionalizado português estabeleceu ainda um novo recorde europeu de 9,86 segundos.  Sérgio Paulinho conquistou também uma medalha de prata no ciclismo. Rui Silva venceu o bronze nos 1.500 metros.

A quarta de ouro

Nélson Évora é um exemplo de perseverança. Após uma participação fracassada nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, nos quais acabou em 40º lugar na classificação geral, Nélson Évora nunca desistiu e continuou a treinar exaustivamente.

Em 2007, ganhou o título de campeão do mundo no Japão e um ano depois, nos Jogos Olímpicos de Pequim, venceu a quarta medalha de ouro para Portugal, no triplo salto. Apesar de ter uma carreira marcada por várias lesões, o atleta português recuperou e vai competir nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.  Também em 2008, Vanessa Fernandes saiu de medalha ao peito: venceu uma medalha de prata, no triatlo.

Última exibição olímpica de Portugal 

Nos últimos Jogos Olímpicos, que se realizaram em Londres, em 2012, foram os atletas Fernando Pimenta e Emanuel Silva que arrecadaram uma medalha de prata, na canoagem, em K2 1000 metros. De resto, a bagagem nacional veio sem medalhas.

Apesar de ter mantido o número de atletas que levou a Pequim, quatro anos antes, a comitiva portuguesa registou algumas baixas de peso, por lesão. Casos de Nélson Évora, Francis Obikwelu, Naide Gomes e Rui Silva.

Portugal nos Jogos Olímpicos do Rio

Nos Jogos Olímpicos de 2016, a grande novidade é, para já, o regresso do futebol, modalidade em que Portugal já não participava desde 2004, em Atenas.

O segundo lugar no Europeu de sub-21 de 2015 permitiu à seleção, comandada por Rui Jorge, regressar ao torneio de futebol dos Jogos Olímpicos. A seleção nacional vai ser composta por 18 elementos e a Argentina será o primeiro adversário de Portugal.

Balanço da participação olímpica portuguesa 

Até hoje, Portugal já arrecadou quatro medalhas de ouro, todas conquistada no Atletismo. Os campeões olímpicos portugueses são, até agora, Carlos Lopes, na maratona; Rosa Mota, na maratona; Fernanda Ribeiro, nos 10 mil metros e Nélson Évora, no triplo salto.

Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro são ainda duplos medalhados, assim como Luís Mena e Silva, atleta de equitação.

No total, Portugal possui um conjunto de 23 medalhas olímpicas, distribuídas por várias modalidades, como é possível ver na infografia que se segue.

INFOGRAFIAFINAL

Infografia de Eduardo Silva

Artigo editado por Filipa Silva