O reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, está “inteiramente de acordo com a posição assumida pelo ministro” da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, sobre a praxe académica e realça a “obrigação moral” das instituições em dar resposta “aos excessos cometidos no seio” destas práticas.

Em declarações, por escrito, enviadas ao JPN, o responsável recorda que essa foi uma das motivações que levou à organização de “uma sessão de receção que envolvesse não só toda a Universidade do Porto, mas também todas as grandes instituições” da cidade – a qual foi organizada no ano passado e que regressa este ano -, não deixando a tarefa de integrar os estudantes “nas mãos de outrem”.

Quando questionado acerca da posição da UP perante a praxe académica, Sebastião Feyo de Azevedo reitera ser, a par da instituição, “completamente” contra “excessos de qualquer ordem, físicos ou psicológicos”, que se possam praticar “ao abrigo de qualquer tipo de praxe académica”.  No entanto, ressalva que não pretende atingir “qualquer tipo de iniciativas de estudantes que visem a integração dos novos estudantes”.

O reitor refere ainda que “tendo em conta as normas legais vigentes”, lhe parece difícil que “as universidades tenham a possibilidade de agir disciplinarmente” no combate aos excessos da praxe quando esta ocorre fora das suas instalações, e atribui tal responsabilidade aos agentes da Justiça.

Ainda assim, Feyo não descura a importância de “uma fortíssima sensibilização dos caloiros, com a mensagem de que de forma alguma são obrigados a participar” na praxe, em conjunto com “alternativas de integração” promovidas pelas associações de estudantes.

A outra face da moeda

Em contraponto, Daniel Freitas, presidente da FAP, afirmou, em conversa com o JPN, que as declarações do ministro “não são novas” e que tanto o Ministério, como a maioria parlamentar que o suporta, têm usado este tema para “abafar” a discussão de outras problemáticas do Ensino Superior.

Entre estas encontram-se o abandono escolar, o financiamento às instituições e a atribuição de bolsas, temas de tratamento urgente, segundo o presidente da FAP, mas que “infelizmente não são a prioridade da agenda”. A praxe “é um tema espetacularmente apetecível para inverter prioridades”, conclui.

Em resposta às críticas à praxe académica expostas na carta, Daniel Freitas alerta que “não se pode tomar o todo pela parte, por alguns maus exemplos condenar toda a atividade em si”. Relembra, também, que há diversas ações de integração, por parte da praxe, que são “positivas” e que “não recorrem à violência e à humilhação”, como o voluntariado, recolha de alimentos e viagens culturais.

Tal como o ministro do Ensino Superior, o presidente da FAP concorda com a importância do envolvimento das instituições e dos representantes estudantis eleitos na receção dos novos estudantes, mas adianta que já há respostas a esse nível.

O “Projeto FEUP” da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto ou o “IULCOME”, do ISCTE-IUL, e outras atividades, ao nível cultural e criativo, da autoria das associações de estudantes são alguns dos exemplos de integração por parte das instituições dados pelo presidente da FAP.

“Se pode haver mais [respostas], se podem ser melhores ou diferentes? Com certeza”, afirma. No entanto, ressalva que “não se pode crer que o facto destas atividades existirem seja um combate à praxe académica. São duas realidades, podem perfeitamente coexistir e o trabalho deve ser feito para encontrar objetivos comuns”.

O JPN contactou também Tomé Duarte, do Conselho de Veteranos do Porto, que não quis prestar declarações sobre a matéria.

Receção aos novos estudantes marcada para 15 de setembro

A reitoria da Universidade do Porto sublinha ter-se “adiantado” ao ministro quando, no ano passado, inaugurou um novo modelo de receção aos estudantes.

A receção aos novos alunos está, este ano, marcada para o dia 15, e volta a começar em frente à Reitoria, na Praça dos Leões. Todos os estudantes vão receber um kit de boas-vindas no qual estão incluídas ofertas que lhes permitirão nesse dia e no seguinte visitar vários espaços emblemáticos da cidade, da Sé Catedral aos Clérigos, passando pela Casa da Música e pelos jardins e Casa Museu de Serralves.

A sessão de receção começa às 14h00.

Artigo revisto por Filipa Silva