Casa cheia para conhecer a iniciativa de Tarantini. O capitão do Rio Ave apresentou publicamente “A Minha Causa”, projeto relacionado com a gestão da carreira de profissionais de alta competição, esta terça-feira, no Auditório Municipal de Vila do Conde.

O médio quer “despertar uma geração de desportistas”, como já tinha adiantado em entrevista ao JPN.

Estatísticas dramáticas

O site de Tarantini apresenta testemunhos de vida e dados científicos “alarmantes” acerca de grandes competições internacionais. Tarantini aponta que 80% dos jogadores da liga de futebol americano (NFL) que se retiram ficam falidos nos primeiros três anos. Ainda nos Estados Unidos da América, 60% dos basquetebolistas da NBA ficam falidos em cinco anos. Situação semelhante acontece a três em cada cinco jogadores da Premier League, após findarem a carreira futebolística.

Sobre a realidade portuguesa, as certezas ainda são escassas. Contudo, Tarantini acredita num “problema real, que merece uma reflexão e intervenção séria e institucional”. E insiste numa estimativa já adiantada ao JPN: “Acredito que 90 por cento dos jogadores que fazem uma carreira ao mais alto nível em Portugal não conseguem ter um pé-de-meia vitalício”.

Tarantini conhece “alguns casos dramáticos de ex-jogadores de futebol que passaram ou estão a passar por dificuldades”. Chegou mesmo a exemplificar o caso do brasileiro Isaías, que se notabilizou no Benfica e agora atravessa dificuldades financeiras, para alertar as novas gerações. “Muitos jovens jogadores pensam que o futebol é um mar de rosas e que vão conseguir chegar lá em cima. Isso é mentira. Só uma pequena parte o consegue”, assume.

A ilusão com a exposição mediática

Tarantini

Tarantini Foto: Diogo L. Magalhães

Antes de se apagarem as luzes da ribalta, Tarantini considera que “os jogadores já têm de ser capazes de preparar o futuro e seguir com a sua vida”. Nem todos conseguem, havendo até “muita gente que tem problemas em dar a cara”.

O capitão rioavista compreende todas estas realidades, mas vai buscar a esperança aos “casos em que o final da carreira foi bem acautelado, nomeadamente com uma via académica ou empresarial”.

O objetivo do projeto apresentado passa por “evitar que os casos dramáticos sejam cada vez mais”. É por isso que Tarantini clama por parceiros que lhe permitam aprofundar este tipo de estudos, encontrando ferramentas e estratégias que alertem jovens atletas e entidades ligadas ao desporto. Pede por “coragem” para combater “a indiferença” em relação a este problema.

É nessa linha, como havia referido ao JPN, que se propõe agir, passando por três frentes: promover palestras com agentes do futebol; realizar entrevistas e pequenos documentários; desenvolver estudos em Portugal sobre esta matéria.

Da inspiração ao estudo, um “problema transversal”

André Leonardo

André Leonardo Foto: Diogo L. Magalhães

A causa de Tarantini tem origem na história do açoriano André Leonardo. O passado ligado ao empreendedorismo, conjugado com a crise económica, levou-o a embarcar numa volta ao mundo de mochila às costas. Objetivo? “Entrevistar pessoas que se levantaram do sofá, foram à luta, não desistiram e conseguiram”, sustenta.

As melhores histórias estão reunidas em “Faz Acontecer”, livro que inspirou o médio rioavista a estudar a gestão de expectativas e o final das carreiras. De resto, um “problema transversal que todas as gerações vão ouvindo falar”, segundo Elisa Ferraz, presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde.

Habituado a viver o balneário verde e branco, Mário de Almeida acha que “o momento do Rio Ave espelha muito o que é o Tarantini e os companheiros dele”. O líder da Assembleia Geral do clube, em representação do presidente António da Silva Campos, lembrou que “há uma vida maior” para lá do futebol, motivo que requer uma “preocupação permanente”.

Há dinheiro, mas falta a mentalidade

Rui Jorge

Rui Jorge Foto: Diogo L. Magalhães

Rui Jorge também esteve presente na apresentação do projeto “A Minha Causa”, que considera ser “um belo princípio para algo maior”. O selecionador nacional de sub-21 confessou a sua experiência como ex-atleta. “Comecei a jogar com nove anos de idade e quando cheguei aos juniores, com dezassete anos, muitos dos meus colegas já tinham saído do futebol e boa parte deles tinha abdicado dos estudos”, disse o técnico aos jornalistas.

O selecionador de esperanças, que já jogou de caravela ao peito, alerta para “uma realidade assustadora que todos devemos lutar”. Para tal, apela à união de esforços, com o intuito de “fazermos algo mais forte e abrangente”. Até porque “alguns jogadores habituam-se a ter dinheiro muito cedo sem terem ainda estrutura mental suficiente para saberem lidar com isso”, remata.

Além de Rui Jorge, várias personalidades do desporto português estiveram na plateia. Desde jogadores à estrutura técnica e diretiva do Rio Ave, passando por antigos futebolistas profissionais, representantes de várias instituições, José Garcia, chefe da missão olímpica de Portugal, e também José Azevedo, ex-ciclista e diretor da equipa russa Katusha.

Artigo revisto por Filipa Silva