À terceira foi de vez. Depois dos empates com Marítimo e Estoril, Miguel Leal estreou-se a vencer com o Boavista no campeonato. E logo em Vila do Conde, perante um Rio Ave que só saboreou um ponto nas últimas cinco jornadas. Renato Santos abriu a contagem, Gil Dias igualou, antes de Nuno Henrique carimbar três pontos para os axadrezados.

Animação contra o frio

Equipas em sentidos opostos. O Rio Ave começou bem a temporada, mas nos últimos tempos anda desencontrado das vitórias e do futebol positivo. O Boavista parece ter ganho nova vida com a chegada de Miguel Leal. Face ao último fim-de-semana, o treinador das panteras não mexeu no onze. Nuno Capucho apenas trocou de ponta de lança, com Hélder Guedes a render Yazalde.

O 4-3-3 reunia consensos, embora em velocidades distintas: rioavistas pacientes em construção, axadrezados a privilegiarem saídas rápidas em contra-ataque. Nada era novo. Nem mesmo a nortada corriqueira dos Arcos.

O Boavista entrou mais aguerrido, mais pressionante, mais seguro. Nos primeiros minutos quis discutir a iniciativa de jogo, embora sem efeitos práticos. Os da casa sentiram a ameaça, mas atacavam com pouca clarividência. A ligação entre setores raramente existiu, ao contrário da exploração dos corredores laterais. Pelo meio, o Rio Ave contestou um par de lances na área axadrezada. Manuel Mota tirou um fora-de-jogo duvidoso a Héldon e não viu uma carga de Idris sobre Tarantini. Penálti por assinalar no choque entre capitães.

Polémica à parte, o Boavista chegou à vantagem aos 25’. Bola longa e tensa para a ala, toque de calcanhar de André Schembri e corrida desenfreada de Renato Santos. Sem oposição, o extremo fez mira, encheu o pé e rematou colocado ainda fora da área. A bola sofreu um desvio em Roderick Miranda e sobrevoou Cássio, que nada pôde fazer.

Os axadrezados colocavam-se em vantagem, mas por pouco tempo. Gil Dias antecipou-se aos adversários e bateu de cabeça (33’) Kamran Agayev. De cima para baixo, como mandam as regras. Segundo golo do extremo em 2016/17, aproveitando um cruzamento com conta, peso e medida de Pedrinho. O Rio Ave capitalizou o golo até ao intervalo e cresceu. Héldon, Rafa Soares obrigaram o guarda-redes azeri a voar. Antes do intervalo, Roderick cabeceou a centímetros do poste direito. O primeiro tempo foi animado e acabava com repartição de golos e pontos.

Há alicerces, só falta serem coloridos

O figurino mudou na etapa complementar. A chave foi Nuno Henrique. O central já tinha ameaçado duas vezes de cabeça, mas foi de pé direito que encontrou o golo. Canto de Iuri Medeiros, Cássio sacudiu para a frente, nova vantagem axadrezada ao minuto 50. Segundo tento em dez jogos para Henrique, números que igualam a prestação do jogador fafense na última temporada.

O risco tomou conta dos rioavistas, que montaram o cerco à pantera. Héldon esteve perto de marcar. Na resposta, Iuri Medeiros isolou-se mas Cássio, com um pequeno toque, evitou que o marcador dilatasse. Capucho alterou a estratégia e alargou a dianteira com a entrada de Yazalde.

Só que o jogo não melhorou para os visitados. O meio-campo, órfão do sentido posicional de Wakaso, não mais se encontrou. Capucho recuou nas ideias, voltou à formula de partida e trocou Krovinović por Guedes. Médio por avançado, decisão que gerou protestos vila-condenses nas bancadas. É, aliás, um dos principais apontamentos da temporada rioavista: se o 4-3-3 não funciona, o 4-4-2 clássico entra em ação, e vice-versa.

Na corrida contra o marcador, Ronan foi a última aposta. Mas foi em croata que se escreveram as derradeiras hipóteses do Rio Ave: ao minuto 77’, Krovinović atirou ao lado; aos 82’, obrigou Agayev a defesa apertada. Pouco acerto e mais protestos ao cair do pano. Yazalde caiu num lance com Philipe Sampaio, que substituiu o lesionado Nuno Henrique. Já nos descontos, golo anulado a Héldon por fora-de-jogo. Ambas pareceram decisões acertadas.

Não está fácil a vida de Nuno Capucho em Vila do Conde. Sete jogos consecutivos sem vencer, entre campeonato e taças. A última vitória em tempo regulamentar já tem quase dois meses. O momento é de crise e justifica os lenços brancos espalhados pelos Arcos no final do jogo.

Com este resultado, o Boavista ultrapassou o Rio Ave. Tem 13 pontos, mais dois do que o adversário desta ronda, e vai para os compromissos internacionais na primeira metade da classificação. Os alicerces estão criados. Falta pintá-los e enfeitá-los, como sublinhava Miguel Leal na antevisão.

Na próxima jornada, os vila-condenses deslocam-se ao Sado. Os axadrezados recebem o Sporting.

“A pantera começa a rugir”

Miguel Leal realçou a importância da vitória nos Arcos. “Esta vitória foi boa, mas valeu pelos pontos. O campeonato é uma maratona e temos de ir somando”, disse na zona de entrevistas rápidas da SportTV. O treinador boavisteiro assume que há muito trabalho pela frente, mas tem total confiança nos seus jogadores: “Do ponto de vista defensivo as coisas estão mais ou menos.

No ataque temos ainda de melhorar, perdemos muitas bolas. ninguém consegue por uma equipa jogar à sua maneira em 21 treinos. Estamos numa fase de conhecimento mútuo e estamos a crescer. A pantera começa a rugir”, rematou. Renato Santos reforçou as palavras de Miguel Leal, alertando que a equipa “não pode adormecer” nos próximos duelos.

Do lado rioavista, Nuno Capucho foi parco em palavras. “Já transmiti à minha equipa que tenho um prazer enorme em treinar estes jogadores. O que é que o Rio Ave fez de mal para nos acontecerem estas coisas? Jogamos bem, trazemos pessoas ao estádio, não sei qual é o problema das pessoas que colocam estes entraves ao Rio Ave”, afirmou o técnico dos vila-condenses, visivelmente insatisfeito com a arbitragem de Manuel Mota.

Tarantini destacou o “mau momento”, sublinhando que “o Rio Ave é muito mais do que aquilo que tem feito este ano”. À SportTV, o capitão lamenta a falta de eficácia: “é incrível a quantidade de vezes que nós vamos à baliza deles e não fazemos”.

Ficha de jogo
Competição: Liga NOS (10ª jornada)
Estádio: Arcos, Vila do Conde
Golos: Renato Santos (25’), Gil Dias (33’) e Nuno Henrique (49’)
Cartões Amarelos: Alhassan Wakaso (43’), Talocha (74’), Philipe Sampaio (90+1’), Kamran Agayev (90+3’) e Héldon (90+6’)

Equipa de Arbitragem
Árbitro: Manuel Mota (AF Braga)
Árbitros Assistentes: José Gomes e Pedro Fernandes
Quarto Árbitro: Vítor Ferreira

Rio Ave FC
Onze inicial: Cássio; Pedrinho, Marcelo, Roderick Miranda e Rafa Soares; Alhassan Wakaso, Tarantini (capitão) e Rúben Ribeiro; Gil Dias, Hélder Guedes e Héldon Ramos
Suplentes utilizados: Yazalde, Filip Krovinović e Ronan
Treinador: Nuno Capucho

Boavista FC
Onze inicial: Kamran Agayev; Edu Machado, Nuno Henrique, Lucas Tagliapietra e Talocha; Idris (capitão), Carraça e Fábio Espinho; Iuri Medeiros, André Schembri e Renato Santos
Suplentes utilizados: Tengarrinha e Philipe Sampaio
Treinador: Miguel Leal