A história de “Porto” é muito simples. Dois estrangeiros encontram-se na cidade e partilham entre si uma noite de amor, vivendo depois as consequências dessa curta relação. A complementar a história, um dos objetivos de Gabe Klinger, realizador brasileiro, era mostrar a cidade do Porto ao mundo. Mas foi missão falhada. A cidade poderia ter sido melhor explorada: os locais são poucos e quase sempre os mesmos.

Anton Yelchin, ator americano que nasceu na ex-União Soviética, tem neste filme um dos seus cantos de cisne – faleceu em junho deste ano, mas além de “Porto” há outras películas por estrear que contaram ainda com a sua participação. A sua prestação como Jake é notável. Basta olhar para a sua cara de desespero quando, à noite, procura uma mulher com quem se envolver. Finalmente consegue, quando encontra Mati, interpretada pela francesa Lucie Lucas.

O maior problema com “Porto” é a narrativa e a maneira como Gabe Klinger optou por estruturá-la. O filme é dividido em três partes da história das duas personagens: Jake, Mati e os dois juntos. O erro de Klinger foi colocar a terceira parte no fim, quando deveria ter sido este o início da história. A única forma desta decisão do realizador ter funcionado seria se o filme tivesse acabado na cena com as duas personagens a conversarem sobre a noite que tiveram, e não alongar a história ao ponto de voltarmos a uma cena que já tínhamos visto na primeira parte.

A segunda parte teria sido, de facto, a melhor escolha para acabar o filme, pois é aqui que descobrimos o verdadeiro estado emotivo de Mati e por que é que se decide envolver com Jake.

E como algumas cenas se repetem, também algumas conversas são repetidas, sem contribuir para o avanço do enredo. É uma pena, pois Larry Gross, que escreveu o argumento com Gabe Klinger, poderia ter optado por estender outros diálogos que pareciam interessantes, mas que acabam abruptamente.

A edição também deixa algo a desejar, com cortes de imagem repentinos. Muitas vezes, passamos de uma imagem nítida para outra que está desfocada e com um formato de imagem diferente.

O ponto mais forte do filme é o trabalho de Wyatt Garfield na fotografia. O cinematógrafo americano é exímio, neste filme, a dar vida à cidade do Porto. A iluminação está bem conseguida, e tem um efeito reconfortante, como são exemplo as cenas em interiores, à noite. Nota especial para o plano que está no início da terceira parte, em que Garfield coloca a câmara apontada à fachada do Café Ceuta: linhas e iluminação fazem destes os melhores segundos de imagem de “Porto”.

Artigo editado por Filipa Silva