A Casa da Música tem trabalho desenvolvido no sentido de colocar a cultura ao alcance de todos, neste caso a música. A missão é do Serviço Educativo e Jorge Prendas é quem o lidera. O músico, compositor e docente portuense começou a colaborar com o Serviço Educativo da instituição em 2007, como formador em workshops. Em 2010 passou a exercer funções enquanto coordenador.

Docente há trinta anos, Jorge Prendas confessa-se apaixonado pelo ensino, contudo reconhece que “a responsabilidade de estar na Casa da Música não é compatível com essa outra grande responsabilidade”. Assim, apenas exerce a atividade de docência de forma “muito residual”, na Escola Profissional de Música de Espinho.

O Serviço Educativo da Casa da Música nasce antes do próprio edifício, com a criação da sociedade Porto 2001. Quando se tornou coordenador do Serviço Educativo da Casa da Música, como confessa, a sua “identificação era total com esta mais-valia de um serviço que tenta ou que usa música como ferramenta de inclusão”. Programas como “A Casa Vai a Casa” e a “Orquestra Som da Rua” já tinham sido criados, no entanto, Jorge Prendas foi quem iniciou os projetos.

Projetos que incluem

Entre as atividades que visam uma rutura com o elitismo cultural, o compositor destaca o “Ao Alcance de Todos”, uma iniciativa anual, realizada na semana anterior à Páscoa, que inclui workshops, performances e concertos “para comunidades que estão sempre mais ao lado”.

Entre essas pessoas já estiveram uma comunidade cigana, associações de surdos e de cegos, a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral e instituições que juntam pessoas com as mais variadas necessidades especiais, como o Centro Integrado de Apoio à Deficiência (CIAD).

Jorge explica que uma das preocupações passa por não trabalhar essas “comunidades de forma isolada”, caso contrário estariam também a estabelecer diferenças. Assim, o músico procura trabalhar com essas pessoas “sempre num contexto muito aberto, misturando pessoas, diferentes proveniências e backgrounds culturais, sociais, financeiros, usando a música e o palco, como forma de incluir.”

No que respeita às dificuldades emocionais que implicam o envolvimento neste tipo de projetos, Jorge recorda momentos especialmente emotivos.

O coordenador do Serviço Educativo, que conta com mais de 1.300 eventos por ano, afirma a vontade de  “fazer muito mais”. Limitações, existem mas “é com esses meios” que têm de operar.

Assim, sete anos após o primeiro “A Casa Vai a Casa”, o programa foi suspenso, “para dar lugar a um outro projeto, que também tem caraterísticas sociais, que também persegue objetivos artísticos e que também pretende dar oportunidade a pessoas de praticarem a música, de experienciarem a música e de a porem na sua vida”, declara o coordenador do Serviço Educativo.

Coro infantil da Casa da Música

O programa de que Jorge fala é o novo projeto do Serviço Educativo da Casa da Música, um coro infantil que envolve perto de 400 crianças de três escolas públicas, em Matosinhos, no Porto e em Gaia.

“Estamos a desenvolver um projeto artístico, um projeto de oportunidade, porque muitas destas crianças não teriam sequer oportunidade de experimentar a música, de estudá-la”, refere. Às crianças que mostrarem mais interesse, envolvimento e apetência será dada, no fim do ano letivo, a oportunidade de pertencerem ao Coro Infantil Casa da Música, que começará no ano letivo 2017/18.

Assim, o Serviço Educativo trabalha mais uma vez no sentido da sua principal missão que é colocar a música ao alcance de todos, até porque o coordenador diz que todos terão as mesmas oportunidades, nomeadamente crianças surdas ou com necessidades educativas especiais.

Feedback e anseios futuros

Quando questionado acerca do feedback do público, Jorge Prendas assume ser uma lacuna: a falta de sistemas de avaliação dos projetos. Além de considerar que as pessoas não estão preparadas para isso, o coordenador afirma que com tantas atividades a decorrer diariamente, processar dados acerca de todas elas é impensável.

No entanto, de vez em quando são feitas avaliações, nomeadamente através de trabalhos académicos, “que tem servido um bocadinho para nós tomarmos o pulso àquilo que fazemos”, afirma Jorge. Refere ainda que sempre que conseguiram feedback foi positivo.

Sobre o futuro do Serviço Educativo da Casa da Música, o docente expressa o seu interesse em “voltar ao modelo repensado daquilo que foi o ‘A Casa Vai a Casa’. Jorge Prendas revelou ainda uma grande vontade em investir também “numa área de formação para músicos”, algo que ainda não foi possível.