Jogo grande no Bessa para encerrar a quarta eliminatória da Taça de Portugal. Houve três golos – um para cada lado no tempo regulamentar e um segundo para o Vitória já no prolongamento -, houve espetáculo, mas também muita polémica e conflitos, não estivesse em causa uma rivalidade de longa data em Portugal.

Os treinadores não fizeram grandes poupanças nas equipas. Do lado do Vitória, três alterações: Miguel Silva na baliza, Tozé para jogar com três homens no meio campo e Hernâni no lugar do castigado Marega. Ficaram no banco Hurtado e João Aurélio, habituais opções, especialmente o peruano. Do lado do Boavista, equipa na máxima força para enfrentar os minhotos num grande momento.

Ainda antes do apito inicial de Jorge Sousa, destaque para a homenagem feita pela equipa do Boavista ao seu jogador dos sub-19 Edu, atualmente a enfrentar um cancro.

Primeira parte fraca, segunda frenética

Sob um ambiente bastante quente vindo das bancadas, a partida tardou em aquecer. Mantinha-se o equilíbrio, com algum ascendente vimaranense, mas sem quaisquer chances claras de perigo de ambas as partes.

O jogo aéreo do Boavista era uma ameaça (mais de metade dos golos no campeonato foram de cabeça). Na linha dessa tradição, o lance mais perigoso da equipa da casa surgiu ainda ao oitavo minuto com um cabeceamento a passar por cima da baliza de Miguel Silva. Aos 25 minutos apareceu o primeiro momento do jogo. Cruzamento para a área axadrezada e penálti assinalado por Jorge Sousa a castigar uma mão na bola de Carraça. Soares converteu o castigo máximo a favor do Vitória e abriu o marcador no Estádio do Bessa. Passou a primeira parte sem ocasiões claras de golo. Nota apenas para remates de Iuri, Josué ou Hernâni mas sempre com os guarda-redes contrários atentos.

Na segunda parte começou um novo jogo. A equipa do Boavista entrou com mais intensidade na procura do empate e dominou a partida, rodeando a baliza adversária e não deixando o Vitória construir ataques. Aos 52 minutos deu-se o lance mais polémico da partida. Schembri coloca a bola dentro da baliza, Jorge Sousa anula o golo e marca penálti, mas volta atrás e assinala mão de Schembri por indicação do assistente. Decisão que levantou muitos protestos por parte da equipa e adeptos boavisteiros.

A melhoria da equipa do Boavista foi materializada ao minuto 56, com Schembri a empatar a partida após insistência da equipa no seguimento de um canto.

O Boavista estava por cima do jogo, procurava o segundo golo, e o Vitória não conseguia criar perigo, a não ser através de algumas arrancadas de Hernâni. Destaque para um remate de Renato Santos aos 68 minutos e para um de Edu Machado a passar ao lado da baliza de Miguel Silva, aos 82. Pelo meio, a lesão de Rafael Miranda, que assustou mas acabou por sair sem gravidade aparente, entrando João Aurélio para o seu lugar.

Antes do final dos 90 minutos, a melhor oportunidade pertenceu ao Vitória, com um livre de Bernard quase a entrar direto.

Menção honrosa para Edu Machado, um dos melhores em campo. Não permitiu investidas de Raphinha, e soube atacar, dotado de grande velocidade. Iuri Medeiros também esteve bem, criando perigo através das alas. Bom jogo também de Schembri. Do lado vimaranense, não houve grandes destaques, mas houve boas exibições. Casos de Tozé, Hernâni, Miguel Silva, Rafael ou Soares.

Hurtado saltou do banco para resolver

Ainda na compensação do tempo regulamentar, Lucas viu o segundo cartão amarelo e o consequente vermelho. O Boavista viu-se a ter que jogar o prolongamento com menos um elemento. Isto obrigou a equipa a prescindir um pouco de procurar o segundo golo e concentrar-se mais em segurar as investidas do Vitória e tentar alguns contra-ataques.

O Vitória procurou o segundo golo mas sem arriscar muito. A melhor situação de golo foi aos 107 minutos com Soares a rematar por cima da baliza de Kamran. Ainda antes do prolongamento Pedro Martins tinha lançado Paolo Hurtado. O extremo peruano veio mexer com o jogo e resolveu mesmo a dois minutos do final do prolongamento, ao bater com sucesso um livre direto à baliza do guardião azeri, para a loucura dos quase 4 mil adeptos vimaranenses que vieram ao Bessa desde a cidade berço.

O final da partida ficou marcado pela negativa. Um alegado festejo de Miguel Silva junto da claque do Boavista deu origem a uma confusão no relvado, com Idris a ser expulso pelo meio, por ter dado um soco ao guarda-redes português.

“Bisturi cirúrgico no lugar do apito”

No final da partida, na sala de imprensa, Pedro Martins mostrou-se satisfeito com a prestação da equipa “num jogo complicado e equilibrado”. Quanto à lesão de Rafael Miranda, disse ser muito cedo para saber pormenores, “mas que não será nada de muito grave”.

Para Miguel Leal, “o vencedor podia ter sido o Boavista” e deu os parabéns a “uma equipa que está em crescimento”. O técnico lamentou, ainda, a expulsão de Lucas após “uma grande segunda parte” dos jogadores. Para o treinador da casa, o Boavista foi prejudicado no lance que dá o segundo golo do Vitória.

Mais incisivo foi o presidente da SAD do Boavista,  Álvaro Braga Júnior, com fortes críticas ao trabalho de Jorge Sousa. O presidente deu os parabéns à equipa axadrezada mas apontou diversos erros ao árbitro da partida, afirmando que não existe falta no segundo golo dos vitorianos, que Lucas “não toca no jogador do Vitória” e contestando dualidade de critérios no final do jogo em relação a Miguel Silva e Idris. Para Álvaro Braga Júnior, esteve “um bisturi cirúrgico no lugar do apito de Jorge Sousa”. Revelou, ainda, que pediu ao juiz que não apitasse mais nenhum jogo do Boavista, alegando que o mesmo “é infeliz quando dirige jogos” dos axadrezados.

Ficha de Jogo
Competição: Taça de Portugal (4ª eliminatória)
Cartões Amarelos: Rúben Ferreira (31′), Hernâni (38′), Lucas (48′ e 90′), Rafael Miranda (70′), Henrique (83′), Idris (100′), Hurtado (111′), Miguel Silva (FJ) e Xande Silva (FJ).
Cartões Vermelhos: Lucas (90′) e Idris (FJ)

Equipa de Arbitragem
Árbitro: Jorge Sousa
Árbitros Assistentes: Álvaro Mesquita e Nuno Manso
Quarto Árbitro: Rui Costa

Boavista F.C.
Onze inicial: Kamran, Lucas, Talocha, Renato Santos, Fábio Espino, Carraça, Machado, Henrique, Schembri, Idris (Capitão) e Iuri Medeiros.
Suplentes utilizados: Tengarrinha (62′), Erivelto (76′) e Philipe (92′)
Treinador: Miguel Leal

Vitória S.C.
Onze inicial: Miguel Silva, Pedro Henrique, Josué (Capitão), Rafael Miranda, Hernâni, Tozé, Soares, Rúben Ferreira, João Pedro, Bruno Gaspar e Raphinha.
Suplentes utilizados: Bernard (66′), João Aurélio (81′) e Hurtado (89′)
Treinador: Pedro Martins