Duas horas antes do início do concerto dos Pixies, as pessoas já se reuniam à porta do Coliseu à espera da banda, que regressou a Portugal quatro meses depois de atuar no festival NOS Alive, em Lisboa. O objetivo era apresentar o novo disco de originais, “Head Carrier”, com a integração consumada da nova baixista da banda, Paz Lenchantin.

Num Coliseu bem composto, predominaram as velhas gerações, mas ainda se notou a presença de pessoas mais jovens.

Foi um concerto que teve como pontos altos os maiores sucessos da banda, e que arrefeceu especialmente nos momentos em que a banda apostou nas músicas do novo álbum, que claramente ainda não fazem parte das preferências dos fãs.

Os sucessos fizeram a festa

A banda conquistou o público nos primeiros momentos do concerto, com um dos maiores clássicos do seu reportório. Os segundos iniciais de “Gouge Away” teve direito a um arranjo musical diferente. Black Francis e Joey Santiago mantiveram o suspense com os acordes das guitarras. O público ficou ansioso, mas cantou em uníssono quando Francis gritou alto e bom som as duas primeiras palavras da letra que dão o título à música. Estava dado o mote para o espetáculo.

O novo álbum “Head Carrier” começou-se a ouvir com “Classic Masher”, com Black Francis e Paz a juntarem as vozes no refrão, e “Oona”, num registo rock mais comercial. A reação do público não foi tão fervorosa, talvez por ainda não conhecerem bem as músicas novas. É um álbum com músicas mais calmas em relação a trabalhos anteriores da banda, mas “Um Chagga Lagga” foge muito à regra, com a sua bateria acelerada. Funciona bem para agitador de multidão.

A boa relação de Paz Lenchantin com Black Francis notou-se bem em “Bel Esprit”, altura em que a baixista e Francis colaboraram no refrão. “She can’t seem to understand him”, cantou-se. O entendimento é perfeito.

A banda passeou por clássicos como “Monkey Gone To Heaven”, “Wafe of Mutilation”, “Debaser” e “I’ve Been Tired” que provocaram sempre reações nas pessoas, como “moche”, saltos de euforia ou simplesmente um coro de vozes.

Uma das maiores ovações da noite chega com “Where Is My MInd”. Levantam-se as câmaras e as vozes para entoar o tão famoso “oooooooohhhh” daquele que é, talvez, o maior clássico dos Pixies. Quase toda a gente se levanta dos lugares para cantar. Na plateia, as pessoas juntaram-se em círculo para cantarem o refrão. Black Francis pode perguntar onde está a mente dele, mas as vozes estiveram bem presentes no Coliseu.

“Nimrod’s Son” e “Mr. Grieves” são bons exemplos da capacidade que os Pixies têm para agitar o público. Músicas curtas com guitarras agitadas provocaram pequenas explosões de energia. A mesma reação verificou-se quando Santiago tocou os primeiros acordes de “Here Comes Your Man”, que à partida era um dos momentos mais esperados da noite. A alegria é contagiante: algumas pessoas nem olham para o palco, interessadas só em dançar.

Em “La La Love You” e “All I Think About Now”, as lides vocais passam para o baterista David Lovering e para Paz Lenchantin. No primeiro caso, uma das músicas mais dançantes dos Pixies e com o público a acompanhar nos assobios, Lovering repete várias vezes “La la love you, don’t mean baby/ All I’m saying pretty baby” e arranca muitos aplausos no fim. No segundo, Paz canta uma música que foi escrita a pensar na baixista da formação original, Kim Deal, e é possível escutar a voz imaculada do mais recente membro da banda.

“Caribou” não é necessariamente a primeira música a ser mencionada quando o tema de conversa é Pixies, mas é das que funciona melhor ao vivo e mostra todas as qualidades da banda, com uma brilhante progressão de acordes de guitarra acompanhada pela voz de Francis.

Depois do “encore”, ainda houve tempo para ver Santiago brincar com a guitarra em “Vamos” e o público ser engolido por uma nuvem branca em “Into The White”, terminando o concerto de forma psicadélica.

Cuidado com estes FEWS

Uma nota para os primeiros aplausos da noite que foram para os FEWS, a banda que abriu o palco para um público que enchia ainda meia casa. A banda sueca, com origens em Londres, tocou músicas do seu álbum de estreia “Means”.

A sonoridade da banda anda muito pelo rock post-punk e psicadélico, com músicas que dão primazia ao instrumental e guitarras estridentes.