Quem passa pela estação de metro da Trindade não fica indiferente ao grande mural que ali se ergue. Com a assinatura de Mr. Dheo, poucos saberão que aquele foi o primeiro projeto  oficial de arte urbana aprovado pela Câmara do Porto. “Foi um mural marcante”, refere o artista que lamenta agora que o projeto esteja “um bocadinho parado”.

A iniciativa teve início em 2014, quando a Câmara do Porto e a empresa municipal Porto Lazer convidaram Hazul Luzah e Mr. Dheo a pintarem numa das paredes do parque de estacionamento da Trindade. A par deste evento, realizou-se ainda a exposição de StreetArt no AXA Porto, que contou com cinco mil pessoas na noite de inauguração.

“Foi uma coisa nunca antes vista em Portugal e que não se esperava no Porto por ser novidade”, refere o “graffiti writer”. “Acho que o projeto morreu um bocadinho na praia. Teve esse boom e depois, à semelhança da nossa realidade, as coisas morrem e deixam-se arrastar”, considera o artista.

Com uma visão crítica sobre a forma como “as coisas” estão a ser encarada atualmente na cidade do Porto, Mr. Dheo refere que “o projeto de arte urbana não está a ser bem conduzido”. A afirmação, diz ao JPN, baseia-se na descrença que tem perante os concursos públicos, que, refere, são uma “forma fácil” das empresas obterem aquilo que pretendem. “Tens designers bons, sedentos de uma oportunidade, que vão concorrer e tentar a sua sorte”, num contexto em que “não estão a ser valorizados nem bem pagos para o trabalho criativo que fazem”, considera.

Embora não se reveja na forma como a arte urbana está a ser conduzida no Porto, Mr. Dheo refere que a estratégia também tem os seus méritos: “não deixa de ser positivo, porque as coisas estão a crescer”.

No panorama nacional, o cenário é idêntico: “Comparativamente às grandes metrópoles, evoluímos muito lentamente. Parece que estamos sempre um passo atrás daquilo que se faz.”

Com os murais em branco noutras paragens, os artistas portugueses têm apostado no mercado estrangeiro, obtendo daí grande reconhecimento. “Há artistas que de repente saltam para a ribalta e são símbolos do país, e há outros que realmente fazem as coisas acontecer, trabalham e têm visibilidade [no estrangeiro] e cá não são reconhecidos”.

“Na nossa área é mais difícil e acho que tens três ou quatro artistas que estão no circuito mundial”, refere Mr. Dheo que já tem planos futuros em cidades como o Dubai e Miami.

Contudo não deixa de referir que, para ele, é a cidade do Porto a que mais importa. É lá que “tem significado deixar a minha obra”, conclui.


Artigo editado por Filipa Silva