Conhecer o percurso de Wandson Lisboa como designer e, sobretudo, como criativo e comunicador não é só falar da sua formação. É também olhar para os diversos projetos que concretizou e que mais marcaram o seu amadurecimento visual.

@wandson, o instagrammer

Wandson inicia a sua jornada no Instagram quase no mesmo dia em que a aplicação é lançada. “A história com o Instagram vem desde o começo”, mas confessa que nem sempre usou a rede social com o mesmo objetivo.

Inicialmente, a intenção era partilhar, sobretudo com a família e amigos, as fotografias do seu dia-a-dia, das suas descobertas. Mostrar-lhes o novo contexto cultural que estava a conhecer. Usava também o Instagram para editar as fotografias que captava. Um uso mais pessoal e banal, que Wandson define como “diário gráfico”, que acabou por dar origem ao universo @wandson.

“Nunca pensei no Instagram de forma lucrativa”, revela. Um começo desprovido de qualquer cunho profissional. Prova disso, é a presença na sua conta, ainda hoje, das primeiras fotos que publicou. “Eu não apago nenhuma das fotos antigas. Estão todas lá, porque isso faz parte do processo.”

Reconhece que esta rede social ganhou uma nova função, numa altura difícil da sua vida. Mais do que um diário gráfico, aquele passou a ser o seu refúgio.

Com uma base de seguidores sólida – tem quase 60 mil -, a intenção era ser identificado por algo seu, que as pessoas reconhecessem e gostassem. Surge então a vontade de criar uma linguagem muito própria, que perdura até hoje. Dessa linguagem fazem parte o fundo branco estourado, os elementos coloridos e os bonecos que remetem para a sua infância. Aquilo que faz é o que o identifica e identifica-se no que faz.

Em 2015, Wandson é reconhecido pelo The Huffington Post como um dos dez “instagrammers” mais criativos do mundo. Um artigo que, apesar de ter apanhado Wandson desprevenido, faz inevitavelmente parte do seu percurso na rede. “Foi um presente! Um reconhecimento gratificante. Aí eu percebi que alguém estava a ver o meu trabalho e a gostar do que eu fazia. A melhor resposta ao que eu faço é essa.”

A partir de então, o número de seguidores cresceu e o peso da responsabilidade aumentou. Pressionava-se a criar e entregar um material de qualidade, que estivesse à altura das expectativas de quem o seguia.

Wandson define genericamente a sua linguagem em quatro palavras: “diversão, motivação, cor e amizade”. “Eu não penso só no Instagram, eu penso para além do Instagram. Eu penso em como posso atingir as pessoas com esta diversão, esta linguagem colorida”, justifica.

O processo criativo mantém-se desde que começou a sua atividade. Tudo começa por uma ideia. Uma ideia que esquematiza através de anotações, explicações e esboços do que pretende. Daí a ter um caderno só para esse efeito, foi um pequeno passo. “É engraçado, porque há fotos minhas que eu olho para o caderno e olho para a foto e estão iguais.”

A formação que tem na área do design assim o dita: “É experimentar antes, para depois executar”. Conta que o expoente dessa primeira fase de experimentação passou pela construção de objetos, no Photoshop, para pré-visualizar o resultado final. Mas admite que é um processo que já não utiliza com tanta frequência.

As suas criações têm como ponto de partida o telemóvel. É com ele que fotografa e edita as imagens. É raro utilizar o Photoshop e pretende continuar com o mesmo processo. “Enquanto eu puder usar o telemóvel… A piada, para mim, está nisso.”

“Tropicalíssimo” & “O Melhor de Sempre”

No dia 26 de setembro de 2014, Wandson é contactado pelo Canal Q. “Fiz um casting, com um amigo meu, que toda a gente me incentivou a fazer. Fiz um vídeo. Gostaram. Pediram para fazer outro. Fiz um vídeo-piloto e esse foi para o ar.”

Esse vídeo-piloto é o primeiro episódio do “Tropicalíssimo” uma rubrica do programa “Inferno”.

Wandson inicia então a sua primeira experiência televisiva, ao lado de Miguel Carvalho. “Fazemos televisão com um telemóvel” era a máxima orientadora da rubrica. Além do mais porque, admite, não tinha acesso a equipamento profissional.

As temáticas apresentadas no “Tropicalíssimo” são vastas e nem todas são tratadas com o mesmo tom. Apesar de o humor ser uma constante, há episódios de tom sóbrio e mensagem séria.

A ideia inicial era retratar “o brasileiro a descobrir Portugal”. Um conceito que, na perspetiva de Wandson, não foi bem conseguido. Esta sensação de objetivo não cumprido fá-lo confessar que gostaria de criar um projeto em que apresentaria Portugal. Com o povo brasileiro na mira, a ideia é dar a conhecer o país que o acolheu e, sobretudo, ir além das tradições e dos sítios cliché.

A necessidade de criar um novo conceito resultou na conceção, em 2015, da rubrica “O Melhor de Sempre”, segmento que passou a integrar o programa “Inferno”.

Wandson encara este segundo projeto no Canal Q como uma segunda etapa. Um passo que sentiu a necessidade de dar, após assimilar tudo o que o “Tropicalíssimo” lhe ensinou. Apesar de manter a variedade temática do “Tropicalíssimo”, “O Melhor de Sempre” introduz a novidade do vox pop.

Numa comparação entre os dois projetos, Wandson reconhece que “Tropicalíssimo” estava mais dependente do guião, enquanto “O Melhor de Sempre” valorizava a interação. Segundo Wandson, esta disparidade espelha também a postura dos guionistas: “ ‘O Melhor de Sempre’ é a loucura do Pedro Paulos e o ‘Tropicalíssimo’ é o pragmatismo do Miguel Carvalho”.

Embora, neste momento, não tenha qualquer projeto no Canal Q, admite que a ligação com o canal não foi definitivamente cortada. “Eu não estou no Canal Q, mas eu estou no Canal Q. O Canal Q é uma família. As pessoas são mesmo próximas.”

Livre, Leve e Solto

“Que momento incrível da minha vida”, é a reação de Wandson quando confrontado com perguntas sobre o projeto “Livre, Leve e Solto”.

#LLS é uma sigla. É também a terceira música do álbum “#batequebate” dos D’Alva, cujo videoclipe contou com a participação de Wandson na direção artística.

A história com os D’Alva começa sem qualquer pretensão. Fã da banda, que lhe traz reminiscências da sonoridade da música brasileira dos anos 80, Wandson aproveita o concerto dos D’Alva no NOS D’Bandada para conhecer a banda ao vivo. “Fui o primeiro… Mongo das grades! Primeirinho!” Nessa mesma noite estabeleceu o primeiro contacto com os elementos da banda.

Wandson tem dificuldade em explicar a reação ao convite de Alex D’Alva e Ben Monteiro, mas garante que decorreu em duas fases. Reconhece a primeira fase como a da loucura. O desafio que o projeto representava, aliado à admiração que nutria pela banda, assim o ditaram. No pós-loucura, que representa a segunda fase, surgiu o receio por nunca ter participado em nenhum projeto semelhante.

A construção do “storyboard” é o primeiro obstáculo que Wandson aponta, porque nunca tinha executado um. Para além disso, a única experiência que tinha era a do método que utilizava para criar as suas imagens para o Instagram.

A história do videoclipe da #LLS foi praticamente construída frame a frame, relembra. Recorda também que recorreu ao método com o qual já estava familiarizado: a esquematização e listagem das ideias que iam surgindo.

De “props na bagagem, Wandson ruma à capital para a sua primeira experiência como diretor artístico de um videoclipe. Com um orçamento baixo, a gravação decorreu num único dia. Cansativo, mas de muita aprendizagem, é como Wandson o descreve.

A transição da fotografia estática para vídeo não foi fácil, mas não foi algo que Wandson já não tivesse imaginado. “Eu geralmente penso nas minhas fotografias de forma animada, só que nunca tenho o equipamento, nem as condições necessários para criar o conceito.”

Como designer gráfico, Wandson já estabeleceu parcerias com diversas marcas que o procuram pela linguagem que define o seu trabalho e pela imagem criativa que assina. Marcas como Sumol, NOS Primavera Sound, Netflix, Swatch, Porto Business School, Adágio, Happy Socks, Uber, IKEA. Apesar de todos os projetos que desenvolveu, Wandson confessa que diminuiu as colaborações com marcas para se dedicar à realização de outros projetos.

Artigo editado por Filipa Silva