Estudo prévio concluído na Primavera. Além da operação sobre a ponte, a ecopista implicará a reabilitação do ramal Campanhã-Alfândega e ainda uma ligação Campanhã-Parque Oriental.

A Direção Municipal de Urbanismo da Câmara do Porto está a finalizar um estudo que tem em vista a construção de uma ecopista sobre o tabuleiro da Ponte Maria Pia, inativa desde 1991, numa ligação entre Vila Nova de Gaia e a Estação de Campanhã.

Além deste troço, de aproximadamente um quilómetro, está também prevista a reabilitação do ramal que fazia a ligação entre a Estação de Campanhã e a Alfândega do Porto, o qual tem um extensão de aproximadamente 3,9 quilómetros.

Os técnicos camarários querem ainda estender a ecopista a oeste, numa ligação entre a Estação de Campanhã e o Parque Oriental da cidade,  numa distância a rondar os dois quilómetros.

Trata-se de “um projeto partilhado com a Câmara de Gaia”, de acordo com o vereador do Urbanismo Manuel Correia Fernandes, que explicou o projeto ao JPN, juntamente com o diretor municipal do Urbanismo, José Duarte.

Uma ecopista, dois troços

A ecopista em estudo pela CMP tem dois troços distintos. Um é aquele que liga Vila Nova de Gaia a Porto-Campanhã. Um troço até 1991 integrado na Linha do Norte que foi desativado quando a operação na Ponte Maria Pia passou para a Ponte de São João.

O segundo troço, tem início em Campanhã e segue, pela escarpa e pelo interior da terra, até à Alfândega. Passa abaixo da Ponte Dona Maria – é neste ponto que a câmara pretende ligá-los – segue pelas Fontaínhas, Guindais, Ribeira e vai desembocar no atual parque de estacionamento da Alfândega.

Essa linha esteve aberta entre 1888 e 1989. Tem cerca de 3,9 quilómetros de comprimento e três túneis. O mais extenso deles tem mais de um quilómetro e encontra-se no final do percurso, a chegar à Alfândega. A linha serviu exclusivamente para o transporte de mercadorias mas perdeu relevo com a abertura do Porto de Leixões (para onde a linha prossegue a partir de Campanhã).

O estudo prévio deve ficar pronto na Primavera do próximo ano. As câmaras municipais têm depois de negociar com a Infraestruturas de Portugal, proprietária da ponte, a concessão de utilização. Uma vez que a Ponte Maria Pia está classificada como monumento nacional desde 1982, vai ser ainda preciso o aval da Direção Geral do Património Cultural.

Os responsáveis autárquicos mostram-se otimistas, uma vez que, asseguram, as entidades que têm uma palavra a dizer no processo têm sido envolvidas.

Por outra parte, frisa José Duarte, “a intervenção que está prevista na Ponte D. Maria é absolutamente minimalista. Deverá ser feito um tabuleiro em madeira em cima do existente e lateralmente haverá uma proteção para que as pessoas não passem, ou não tentem passar, ao espaço marginal da linha férrea, será em vidro ou grade muito leve de modo que de fora ninguém se possa aperceber que houve uma intervenção na ponte para que ela passasse a ser pedonal”.

O projeto está orçado em 5,5 milhões de euros, sendo uma fatia considerável destinada a meios mecânicos nos quais residirá a grande inovação deste projeto.

Plano de 2004 não se concretizou

A ideia de transformar o tabuleiro da ponte numa ecopista não é de agora.  Em 2004, chegou mesmo a ser assinado um protocolo entre o Ministério das Obras Públicas e as câmaras do Porto e de Gaia nesse sentido. O processo não avançou.

Também se chegou a propôr a recuperação da linha da Alfândega, entre Miragaia e General Torres, para transporte destinado sobretudo ao turismo, em elétrico ou metro, e houve até quem tivesse defendido a mudança da ponte para o centro da cidade. “É uma ponte que ninguém quer ver desaparecer”, resume Correia Fernandes.

Raúl Batista, autor de uma tese de Mestrado em Planeamento e Projeto Urbano, das faculdades de Arquitetura e Engenharia da Universidade do Porto, defendida em 2015, debruçou-se sobre “O Aproveitamento de Antigas Infraestruturas Ferroviárias em Meio Urbano”, usando as ecopistas como exemplo.

Nesse trabalho, estudou justamente o caso da ponte Maria Pia e do Ramal da Alfândega. Do lado das oportunidades, e tal como a autarquia, viu a promoção da chamada mobilidade suave e o reaproveitamento de infraestruturas já existentes e patrimonialmente valiosas para a cidade.

Identificou também problemas – como “sinais evidentes de degradação” em várias infraestruturas, “perigos possíveis” na circulação pedonal e muita “vegetação espontânea”.

Manuel Correia Fernandes assente “é preciso fazer uma intervenção nalguns sítios para a proteção de pessoas”, colocando por exemplo barreiras laterais nas encostas e iluminando os túneis.

“Efeito” Guindais

“O Porto tem este problema, de ter uma cidade baixa, e depois de ter uma cidade alta, com todas as dificuldades que aconteceram ao longo da história para vencer isto”, conta o vereador do Urbanismo. A resposta encontrada pela autarquia, há mais de um século, foi contratualizar com uma empresa a Parceria dos Elevadores do Porto. A ideia era ajudar a contornar a dificuldade de transporte de pessoas, e sobretudo de mercadorias, entre a zona ribeirinha e a zona alta da cidade, onde se encontravam os maiores aglomerados populacionais.

O primeiro elevador foi inaugurado nos Guindais, em 1891, e foi um sucesso. Mas ao cabo de dois anos, registou-se um acidente grave que só por sorte não causou mortes. O elevador foi desativado e o susto da população foi tal que não se construiu mais nenhum dos previstos. O elevador, agora funicular, só viria a ser reaberto em 2004. “Vamos da ponta da Ribeira à Praça da Batalha em 3 minutos. Isto é fantástico. Agora a ideia é multiplicar estas ligações”, diz ainda Correia Fernandes que dá por exemplo e objetivo a reativação dos elevadores da Ponte da Arrábida.

A Câmara prevê também recuperar acessos pedonais ao ramal já existentes e usados sobretudo por residentes. “A ideia é fazer com que isto entre no sistema de mobilidade da cidade. Entre no sistema de uso comum dos residentes e não apenas turístico”, resume Correia Fernandes.

Quatro níveis para subir

O grande desafio passa pelos acessos à ecopista vencendo os vários desníveis da encosta. E aí a aposta da Câmara do Porto passa pelos meios mecânicos, como se disse. Quais? “Os estudos feitos mostram que o mais adequado são escadas rolantes”, explica-nos José Duarte. As localizações exatas destes equipamentos estão ainda a ser estudadas por uma empresa a quem a Câmara entregou a tarefa.

A ideia é ligar a Avenida Gustavo Eiffel (cota de 5 a 7 metros) à cota da linha Campanhã-Alfândega (cerca de 30 metros), daí passar à ponte Maria Pia (à volta dos 60 metros) e por fim ao Largo Padre Baltazar Guedes (uns 20 metros acima) em frente ao Colégio dos Salesianos.

Por baixo deste colégio passa o antigo túnel de ligação da Ponte Maria Pia à Estação de Campanhã.

Os meios mecânicos vão consumir a maior parte do orçamento destinado ao projeto: cerca de 2 milhões de euros. A ecopista da Ponte Maria Pia e do ramal Campanhã-Alfândega vem responder a uma das demandas da Área de Reabilitação Urbana de Campanhã, cuja operação foi apresentada há cerca de uma semana: promover a mobilidade suave nesta zona da cidade.