Foi porventura uma das semanas mais quentes no reino do dragão. Adrián López, Sérgio Oliveira e Evandro foram riscados das contas de Nuno Espírito Santo, para reduzir o plantel azul e branco. As críticas às arbitragens multiplicaram-se, entre adeptos, jogadores e treinador. Houve mesmo indivíduos com adereços da claque “Super Dragões” que terão, alegadamente, insultado e ameaçado Artur Soares Dias, nomeado para dirigir o jogo do Paços de Ferreira com o FC Porto deste sábado. Pelo meio, uma eliminação da Taça da Liga.

Polémicas à parte, a irregularidade continua a ser o predicado-mor da atual versão portista. No regresso ao campeonato, os dragões juntaram à falta de eficácia uma exibição cinzenta. Não saíram do zero na capital do móvel. Mais ainda, viram o rival Benfica reforçar, horas antes, a liderança do campeonato, agora com seis pontos de vantagem.

Esbarrar em hábitos antigo

A margem de erro era nula para o FC Porto. Ainda mais pressionado pela vitória que o Benfica acabara de obter em Guimarães. Nuno Espírito Santo foi forçado a mexer algumas peças face à derrota em Moreira de Cónegos. Rúben Neves apareceu no lugar do castigado Danilo. Herrera voltou à titularidade, assumiu a braçadeira e trouxe equilíbrio à equipa. Óliver Torres voltou a atuar sobre a faixa esquerda, rendendo Brahimi. Os azuis e brancos andaram entre o 4-1-3-2 e o 4-3-3, mediante as trocas posicionais entre o espanhol e Diogo Jota. Na frente, André Silva substituiu Depoitre, depois de se ter lesionado no regresso das férias natalícias.

Do lado pacense, Vasco Seabra deixou pela primeira vez André Leal no banco. Com oito baixas, a estratégia privilegiou sobretudo a organização defensiva. Equipa montada em 4-2-3-1, com Marco Baixinho perto dos centrais e ordem para arriscar o mínimo à frente. A verdade é que o Paços teve pouca bola no primeiro tempo. Custava sair a jogar e o ataque foi inoperante, pese a mobilidade de Ricardo Valente e a técnica de Whelton.

Os portistas tomaram as rédeas. E, apesar de aparentarem alguma indefinição no último terço, tiveram várias oportunidades claras. Diogo Jota quis mostrar o quanto cresceu desde que abandonou a Mata Real, mas esbanjou dois lances na cara de Rafael Defendi. A desinspiração individual foi o mote para o desperdício coletivo.

O companheiro do lado, André Silva, também ajudou à festa. Perdida flagrante do avançado português na entrada da pequena área, que se atrapalhou com um cruzamento milimétrico tirado por Herrera na direita. Defendi estava batido.

A arbitragem portuguesa está na ordem do dia e Artur Soares Dias tem sido uma das figuras mais badaladas.

O juiz internacional tentou passar despercebido, mas acabou por vacilar. Aos 13’, já tinha perdoado um penálti a Alex Telles. O brasileiro cortou com o braço completamente aberto um cabeceamento de Ricardo Valente. Na outra área, minutos antes, há uma suposta bola no braço de Miguel Vieira, num lance pouco claro.

Entre muitos disparos azuis de meia distância e um ou outro fogacho dos castores, Óliver Torres teve nos pés a derradeira situação da primeira parte. O espanhol tirou a bola a Ricardo, combinou com Corona, mas não teve frieza suficiente para bater Defendi.

Mais atrevimento amarelo, menos engenho azul

Para a etapa complementar, o Paços apareceu mais adiantado e estendido no relvado. Uma postura em nada coincidente com o que se vira até então. Faltou, contudo, argumentos aos castores para materializar o atrevimento em perigo. Do lado portista, movimentos algo previsíveis e pouca criatividade. Haveria quem suspirasse pela técnica de Otávio ou pelos rasgos de Brahimi – e a Taça das Nações Africanas ainda nem começou. Quando os dragões viam uma luz ao fundo do túnel, Defendi aparecia pronto a desligar a candeia.

Que o diga André Silva, que recebeu um passe açucarado de Diogo Jota, mas voltou a ser perdulário perante as luvas do guarda-redes brasileiro. Cada vez mais condicionado pelo tempo, o FC Porto elevou a presença na área pacense. Esgotada a fórmula Jota, Rui Pedro saltou para tentar oferecer apoios frontais a André Silva. O Paços não desarmou e raramente abriu brechas no último reduto. Com uma equipa claramente dimensionada para aproveitar os espaços, Seabra trocou os médios-ala e refrescou o miolo.

Num jogo sem golos, Depoitre nem sequer foi aquecer. Nuno preferiu João Carlos Teixeira e Silvestre Varela para a estocada final. Mas o desejo ficou pelo papel. O FC Porto saiu da Mata Real sem golos e com dois pontos perdidos. Foi o sétimo nulo dos dragões esta temporada – para encontrar um registo pior é preciso recuar 23 anos -, e quebrou um ciclo de quatro vitórias seguidas para o campeonato.

O Paços de Ferreira mantém o 13º posto. Na próxima semana, os castores visitam os Barreiros, para defrontar o Marítimo. Já os portistas recebem o Moreirense, carrasco na Taça da Liga.

“Há momentos determinantes e um deles é a eficácia”

Tal como noutras ocasiões, Nuno Espírito Santo lamentou a falta de eficácia portista. “Recuperamos a solidez defensiva. Não permitimos ocasiões ao Paços. Produzimos muito. No jogo há momentos determinantes e um deles é a eficácia. Se tivéssemos conseguido no início, onde tivemos oportunidades claras, tudo mudava. A ansiedade deixa de existir e o jogo é mais linear”, afirmou no final do jogo à SportTV.

O empate deixa os dragões mais distantes do primeiro lugar, mas o treinador diz que ninguém vai baixar os braços. “Estamos dois pontos mais longe do líder, naturalmente afeta-nos, mas consciencializa-nos do trabalho que temos pela frente. Não nos rendemos nunca. O nosso trabalho é levantar-nos rápido, conscientes do que temos de melhorar e partir para a próxima semana mais focados e eficazes”, rematou.

Héctor Herrera reforçou as palavras de Nuno sobre a falta de golos: “Fomos superiores neste jogo e não vale a pena isso se não fizermos golos. Faltou-nos a finalização, isso custa pontos e jogos. Temos de entrar mais concentrados”. O internacional mexicano garante que quando a bola não entra, isso “gera um pouco de ansiedade”. Ainda assim, promete “continuar a trabalhar para conseguir o título”.

“É neste caminho que vamos seguir e ter sucesso”

Também Vasco Seabra ficou mais agradado com a performance defensiva, em detrimento do ataque pacense. “Pontuamos contra uma excelente equipa. O FC Porto teve duas oportunidades na primeira parte, mas na segunda não me recordo de alguma. Em termos ofensivos não estivemos no meio-campo ofensivo como queríamos, mas este é um processo de crescimento. É neste caminho que vamos seguir e ter sucesso”, atirou na zona de entrevistas rápidas à SportTV.

Apesar de ter muitos jogadores indisponíveis, o técnico pacense diz que a equipa não se refugia em desculpas. “Ausências? Nunca nos refugiamos em desculpas. Nem em árbitros, nem em ausências”, referiu.

Já Marco Baixinho disse que o Paços soube sofrer. O médio afirmou que o grupo interpretou “muito bem as ideias do treinador” com um “rigor defensivo [que] foi cinco estrelas”.

Ficha de jogo
Competição: Liga NOS (16ª jornada)
Estádio: Capital do Móvel, Paços de Ferreira

Cartões Amarelos: Rúben Neves (34’), Marco Baixinho (34’), Ricardo Valente (77’), Pedrinho (79’), Barnes Osei (88’), Alex Telles (88’) e André Leal (90+5’)

Equipa de Arbitragem
Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)
Árbitros Assistentes: Rui Licínio e Bruno Rodrigues
Quarto Árbitro: Daniel Cardoso

Paços de Ferreira
Onze inicial: Rafael Defendi; Francisco Afonso, Ricardo (C), Miguel Vieira e Filipe Ferreira; Vasco Rocha, Marco Baixinho, Ricardo Valente, Pedrinho e Minhoca; Whelton
Suplentes utilizados:
Barnes Osei, André Leal e Christian
Treinador: Vasco Seabra

FC Porto
Onze inicial: Iker Casillas; Maxi Pereira, Felipe Monteiro, Iván Marcano e Alex Telles; Rúben Neves, Jesús Corona, ÓIiver Torres e Héctor Herrera (C); André Silva e Diogo Jota
Suplentes utilizados: Rui Pedro, João Carlos Teixeira e Silvestre Varela
Treinador: Nuno Espírito Santos

Artigo editado por Filipa Silva