Algumas dezenas de pessoas juntaram-se em frente à estação de metro da Trindade, no Porto, ao final da tarde desta terça-feira, para exigirem mais qualidade nos transportes públicos da cidade. O protesto foi organizado pelo Grupo de Utentes dos Transportes Públicos do Porto. O aumento do preço dos passes mensais e dos títulos de transporte no início deste ano foi também contestado.

Acompanhados de uma faixa branca com a frase “Por mais e melhores transportes públicos”, utentes de várias gerações fizeram-se ouvir junto a um dos pontos mais concorridos do setor dos transportes na cidade do Porto. Se de um lado, fica a estação de metro onde confluem diversas linhas, já no exterior encontram-se algumas paragens de autocarro da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP).

Francisco Araújo e Beatriz Costa, ambos de 17 anos, foram dois dos jovens presentes no protesto desta terça-feira. “Temos amigos que chegam atrasados às aulas, porque o autocarro falhou na região deles”, explica o estudante. Embora se sinta afetado no dia a dia, Francisco não tem as mesmas razões de queixa que os colegas que usam o autocarro. “Como ando mais de metro, os horários não me condicionam tanto”.

Um estudo de 2015 da DECO, aponta a pontualidade como um dos fatores mais satisfatórios junto dos utentes. No que diz respeito ao aumento do preço dos transportes, os dois jovens viram os seus passes mensais serem aumentados, enquanto os apoios foram diminuindo anualmente.

Luís Loureiro, bancário de 58 anos, aponta a precariedade como o principal problema dos transportes públicos do Porto. “Os veículos têm sido insuficientes” para a zona do Grande Porto, acrescenta o utente. As más condições são, na opinião de Luís, as grandes razões para que haja um mau-estar entre os utentes e os funcionários deste setor. “Os motoristas da STCP são constantemente agredidos pelos passageiros, quando não são eles os culpados desta situação”, esclarece.

O bancário utiliza maioritariamente a linha amarela do Metro do Porto, entre o Hospital São João e Santo Ovídio. As avarias nos veículos motivaram algumas situações caricatas. “Já me aconteceu ter de abandonar o veículo numa linha de circulação, para apanhar outro, porque o metro tinha avariado”, afirma.

Para Luís Loureiro, a subconcessão pelo consórcio espanhol TMB/Moventis a vigorar desde meados de 2015, veio piorar o serviço. “Tínhamos uma empresa nacional, a EMEF [Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário] a resolver estes problemas, mas tudo isso mudou”.

O processo de conversão foi revertido pelo atual Governo e a gestão dos transportes voltou para a mão do Estado. No caso da STCP essa gestão foi passada para os seis municípios que integram o Grande Porto. A passagem foi formalmente assinada no dia 2 de janeiro. Falta um visto do Tribunal de Contas para que essa gestão seja plenamente assumida pelas autarquias.

“Os passageiros viajam como sardinhas enlatadas”

Já uma utente de 68 anos, queixa-se do tempo que demora a chegar ao centro da cidade. “Quem vem da Pasteleira para a Baixa, por exemplo, pode demorar muito tempo”, confessa. Como está reformada, reconhece que os seus condicionamentos não se podem comparar com os dos trabalhadores e utilizadores regulares. Porém, admite já ter utilizado o metro, para combater os horários pouco flexíveis dos autocarros.

Maria João Antunes, uma das responsáveis pelo Grupo de Utentes dos Transportes Públicos do Porto, justifica esta ação de protesto com a “crescente falta de manutenção” dos transportes. Segundo a utente, os problemas agravam-se nas horas de ponta. “Muitas vezes só existem três carruagens e os passageiros viajam como sardinhas enlatadas”, diz.

O Grupo de Utentes fez ainda uma comparação da evolução dos preços dos títulos de transporte e confirmou que o aumento não acompanha a inflação, há 10 anos: “uma viagem z3 deveria custar 1,25 euros e não 1,55 como custa atualmente”, diz Maria João Antunes.

Os próximos passos, segundo a responsável, centram-se na preparação de um debate sobre o tema e na realização de protestos semelhantes.