Está no quinto ano do curso na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e lidera, desde o dia 8 de janeiro, a estrutura que representa os cerca de 12 mil estudantes da área em Portugal.

Ana Rita Ramalho é a nova presidente da Associação Nacional dos Estudantes de Medicina (ANEM) e olha para o ano de 2017 como um ano de oportunidade para clarificar alguns aspetos relacionados com a formação médica em Portugal.

No centro dessas possibilidades está o novo Regime Jurídico do Internato Médico, aprovado por decreto-lei em 2015. O diploma inclui mudanças importantes, mas nem todas são para avançar.

A extinção do Ano Comum, por exemplo, que está prevista no documento, não deverá chegar a concretizar-se. A sua extinção pressupunha que o 6º ano, o último do curso, seria profissionalizante. O grupo de trabalho que estudou a questão entendeu que o grau de profissionalização desejado não é ainda uma realidade nas escolas médicas, pelo que concluiu pela necessidade de um Ano Comum.

A provável continuação do Ano Comum foi, aliás, assumida também pelo secretário de Estado adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, em novembro do ano passado, facto aplaudido pelos estudantes.

Mas há questões em aberto, como aquela relacionada com a nova Prova Nacional de Acesso ao Internato Médico, o exame realizado pelos estudantes antes do Ano Comum e que é determinante no acesso à especialidade que cada um pretende.

Neste capítulo, a nova legislação prevê: um novo modelo de prova, a ser aplicado em 2018; a possibilidade de ser exigida uma classificação mínima para realizar o exame; e, por último, a diminuição do peso da prova no acesso à especialidade.

A ANEM vê com bons olhos o desenho de uma nova prova, mas é “frontalmente contra” a exigência de uma classificação mínima para aceder ao Internato Médico.

A estrutura está também satisfeita com o facto da nota final de curso passar a contar 20% na ordenação dos candidatos a uma vaga de especialidade, embora não concorde com a mudança das regras “a meio do jogo” – para a ANEM o estudante devia saber desde o primeiro ano que a sua média ia ser considerada para efeitos de acesso ao Internato.

O que também ainda está a ser estudado é um método de equiparação estatístico das classificações finais de cursos entre as diferentes escolas médicas, para garantir “equidade no acesso”.

A ANEM já deu a sua contribuição e enviou uma proposta de normalização estatística ao Ministério da Saúde, do Ensino Superior e para a Administração Central dos Serviços de Saúde no início de janeiro.

Ana Rita Ramalho explica: “Em virtude das diferentes metodologias de avaliação e das diferentes fórmulas de cálculo da Classificação Final de Curso, existem diferenças significativas e estatisticamente demonstradas nas mesmas entre os estudantes das oito Escolas Médicas portuguesas”.

Na proposta da ANEM, que recebeu o aval da Ordem dos Médicos e das oito Escolas Médicas, “o estudante, em vez de ser seriado com base na sua classificação absoluta, passa a sê-lo tendo em consideração o quanto a sua classificação se desvia da média dos seus pares”, explica ainda a dirigente.

Candidatos à OM dão prioridade à formação

A Ordem dos Médicos vai a votos esta quinta-feira. A associação agora liderada por Ana Rita Ramalho quis saber como se posicionam os quatro candidatos em questões relacionadas com a formação médica.

“Consideramos que a formação médica deve ser uma prioridade dentro da atuação da Ordem dos Médicos e ficámos muito satisfeitos pelo facto dos quatro candidatos se reverem nesta posição”, declara a estudante do Porto.

Tal como a ANEM, a maioria dos candidatos ao lugar até aqui ocupado por José Manuel Silva defende uma diminuição do número de vagas nos cursos de medicina. A estrutura que representa os estudantes de Medicina formalizou uma proposta nesse sentido em março do ano passado.

A proposta, lamenta Ana Rita Ramalho, não teve repercurssão prática. “Lamentamos que não exista ainda vontade política para olhar para a génese desta problemática, condicionada pela errada perceção de uma falta de médicos, quando o que há é uma má gestão dos mesmos”, explica.

A problemática do excesso de vagas nos cursos de Medicina ganhou nova dimensão com o facto de, desde 2015, haver mais candidatos que vagas de especialidade.

Nesse ano foram 114 os médicos sem vaga, em 2016 foram 158 e “se não tivesse havido um número elevado de desistências, durante o processo de escolha de vagas, o número de médicos sem acesso a especialidade teria sido muito mais elevado”, garante a presidente da ANEM.

Ana Rita Ramalho inicia agora um mandato de um ano. A normalização das classificações finais de curso, a implementação da nova Prova De Acesso ao internato Médico e a continuidade do Ano Comum estão entre as prioridades da ANEM ao nível da Política Educativa.

No que respeita aos estudantes, a dirigente dá o exemplo de duas atividades através das quais a ANEM se propõe “capacitar” os estudantes de medicina em áreas menos exploradas no percurso académico: o Programa Nacional de Educação Não-Formal e o Educação para Todos.

Em 2017, conclui, a ANEM “privilegiará uma postura de prevenção e intervenção, no combate às eventuais incertezas que poderão estar presentes no futuro dos estudantes de Medicina”.