Equador no campeonato português. Os calendários viram a página e renovam ansiedades e convicções, medos e expectativas. O triunfo portista sobre o Rio Ave (4-2) neste sábado teve um pouco disto tudo. O segredo esteve na eficácia em lances de bola parada. E, claro, na cabeça dos homens mais recuados. Felipe, Marcano e Danilo, todos assistidos com conta, peso e medida por Alex Telles, indicaram o caminho.

Ofuscaram, de resto, os erros crassos cometidos pelos outros colegas mais recuados: uma má leitura de Iker Casillas e um penálti descuidado de Miguel Layún. Rui Pedro desfez dúvidas, reduziu distâncias para um ponto e prolongou a perseguição azul ao líder do campeonato. Desta vez por antecipação, pois o Benfica recebe o Tondela apenas este domingo.

Tranquilidade convertida em sobressalto

Duelo de ex-treinadores no reino do Dragão. Nuno Espírito Santo reencontrou o Rio Ave, clube onde se notabilizou como treinador. Luís Castro regressou ao Porto, depois de ter orientado a equipa B e coordenado a formação azul e branca na última década. O duelo prometia, mas ficou desde logo condicionado nos dois lados.

Maxi Pereira ficou de fora por lesão, levando Miguel Layún ao onze inicial. O internacional mexicano não jogava há quase dois meses e só voltou a pisar o relvado no início desta semana. Otávio está clinicamente recuperado, mas ainda não entrou na ficha de jogo. Brahimi está na Taça das Nações Africanas e as novidades de inverno resumem-se a Kelvin, que esteve cedido ao São Paulo.

Do lado rioavista, Rafa Soares e Gonçalo Paciência, ambos emprestados pelo Porto, não puderam jogar. O estreante Bruno Teles começou no banco. Lionn, Aníbal Capela e Leandrinho continuam lesionados.

Rodeados de equilíbrio e pouco espaço para jogar, os primeiros minutos trouxeram ao relvado um visitante aguerrido. Sem medo de ter a bola, o Rio Ave apostou em defesas subidas e linhas compactas. Muita bola à flor da relva e ordem para explorar as saídas para o contra-ataque, alternando o critério dos médios no miolo com a velocidade conferida pelos extremos nos flancos.

Em abono da verdade, os vila-condenses até foram os primeiros a criar perigo, com Roderick a devolver um cabeceamento de Tarantini por cima da baliza portista. Responderam os visitados com pragmatismo. Primeiro, Corona apareceu isolado, mas rematou mal. Logo a seguir (19’), hostilidades abertas para o raide aéreo à baliza rioavista. Felipe saltou mais alto que todos e desviou com eficácia o cruzamento de Alex Telles, ainda que pareça ligeiramente adiantado. Terceiro golo do central pelo FC Porto – a última vez que tinha celebrado foi em Alvalade, à terceira jornada.

Em vantagem, os dragões serenaram e focaram-se sobretudo nas faixas. Nadjack demorou a acertar o passo. Do outro lado, Pedrinho não durou mais de 20 minutos. O lateral improvisado saiu por problemas físicos e deu lugar ao reforço de inverno, Bruno Teles.

A tarefa portista parecia controlada, não fosse a barra devolver o remate de Diogo Jota. A tranquilidade transformou-se em sobressalto nos últimos minutos da primeira parte. Num lance aparentemente inofensivo, Gil Dias tirou um cruzamento tenso da esquerda. A bola levou a direção do primeiro poste, sem que Casillas contasse. O guarda-redes espanhol, no jogo 50 de azul e branco, hesitou na abordagem. Guedes teve carta branca para silenciar o Dragão (35’).

Com alguma sorte à mistura, o Rio Ave repôs a igualdade. Os portistas ficaram perturbados e impacientes, entre passes falhados, movimentações lentas e pouca frieza ofensiva. Tudo isto perante um adversário cada vez mais solto e confiante, sobretudo quando tinha a bola.

Usar a cabeça para solucionar

A segunda parte do jogo trouxe alterações ao esquema azul. O lesionado Corona deu lugar a André André, que conduziu a equipa do 4-3-3 ao 4-2-3-1. As alterações táticas pediam mudanças imediatas no marcador. Mas foi preciso sofrer durante alguns minutos. Num ápice, Gil Dias semeou o pânico em terrenos alheios. Com a bola colada ao pé direito, foi deambulando pelos defesas contrários.

Tanta passividade coletiva só podia dar em desespero individual. Layún travou com aparato o extremo no limite da área. Chamado à conversão do penálti, Roderick não tremeu (49’). Casillas perdeu a oportunidade de redimir-se. A plateia ficou atónita. E a tarde friorenta ousava ficar gelada demais para as aspirações dos dragões.

Pura ilusão. Nova bola parada cobrada por Telles, novo sucesso de cabeça (55’). Marcano devolveu a confiança às tropas, agora embaladas pelo ânimo redobrado das bancadas. E o ímpeto não desapareceu. Foi já com Rui Pedro no eixo ofensivo que o Porto viria a celebrar a cambalhota no marcador (62’). Novamente com recurso a uma assistência de Telles, que serviu na perfeição a cabeça de Danilo Pereira.

Cercado de homens, o internacional português foi o homem mais decidido do meio-campo azul e branco. Sem bola, criou os maiores obstáculos às investidas rioavistas. Com bola, marcou presença assídua na construção do perigo. Um mês depois, Danilo voltou a desenhar uma reviravolta no Dragão, tal como aconteceu na receção ao Desportivo de Chaves. O golo coroou uma exibição em crescendo.

Nos últimos minutos, o Rio Ave ameaçou o empate. Gil Dias tentou aproveitar a adaptação de Herrera como lateral direito. Marcelo esteve a centímetros do golo. Mas seria Rui Pedro a fechar as contas (89’). De cabeça, pois claro. O avançado concluiu o trabalho individual de João Carlos Teixeira, a última aposta de Nuno. E agitou as redes do topo sul, as mesmas onde tinha encontrado a felicidade frente ao Sporting de Braga.

Só ao cair do pano, o Porto sentiu que tinha o jogo na mão. Mérito para a recuperação da equipa no segundo tempo, além da desafiadora postura rioavista. A equipa de Luís Castro soube provocar e aproveitar os erros adversários. Terminou o encontro com mais posse de bola e faturou duas vezes, dado que nenhuma equipa tinha registado esta época no Dragão.

O FC Porto não perde frente ao Rio Ave há 26 jogos. Segue com duas vitórias consecutivas, após um mau arranque de ano civil, e desloca-se no próximo sábado ao Estoril. Já os vila-condenses seguem numa espiral negativa de resultados. Aliás, a era Luís Castro já conheceu melhores dias. A equipa não ganha para a liga há um mês e recebe na ronda seguinte o Braga.

“Faltou-nos controlar melhor o jogo”

À semelhança de outros duelos, o FC Porto sofreu para levar os três pontos. “Num jogo de futebol e em todos os momentos, nunca estamos relaxados. O sofrimento faz parte, quando não se está com o resultado que pretendemos, assim como estamos atentos quando o resultado é favorável”, disse Nuno Espírito Santo em conferência de imprensa.

O técnico sublinhou a cambalhota no marcador, numa “demonstração de grande caráter e ambição”. Mas reconheceu que o FC Porto tem de crescer na gestão dos noventa minutos. “Faltou-nos controlar melhor o jogo. Depois de estarmos em vantagem, temos de ser mais agressivos, mais pressionantes e criar muito mais. Há um momento importante que é a reação da equipa adversária, temos de estar preparados para isso”.

Os portistas continuam a ser a defesa menos batida do campeonato, apesar dos dois golos sofridos este sábado. Nuno apelida os erros como “situações pontuais”. Já Iván Marcano diz que “sempre que sofremos, há falhas”. Na zona de entrevistas rápidas à SportTV, o defesa preferiu “focar no positivo”, referindo que “demos a volta frente a uma boa equipa”.

“Fomos uma equipa que procurou sempre um resultado positivo”

Os vila-condenses já vão em quatro jogos sem vencer na Liga NOS, mas Luís Castro relativizou a crise de resultados. “Depois de um jogo como este dizer que o Rio Ave está num mau momento seria um atrevimento. A nível de resultados talvez não, mas em produção tem sido satisfatória, mesmo sabendo que temos de ser mais eficazes. Mas não estamos em crise”, atirou em conferência de imprensa.

O técnico destacou a capacidade do Rio Ave em jogar “no campo todo e em todos os corredores”. “Fomos uma equipa com coragem que procurou sempre um resultado positivo. Estamos tristes pela derrota, mas motivados para continuar no nosso caminho”, apontou.

Mesmo com um sabor amargo, Tarantini considera que os vila-condenses deram “provas de qualidade em jogo jogado”. Aos microfones da SportTV, o médio lamentou que “as bolas paradas tenham marcado o encontro”.

Ficha de jogo
Competição: Liga NOS (18ª jornada)
Estádio: Dragão, Porto
Assistência: 43 328 espetadores
Golos: Felipe 19’, Iván Marcano 55’, Danilo Pereira 62’ e Rui Pedro 89’; Hélder Guedes 35’ e Roderick Miranda 49’
Cartões Amarelos: Miguel Layún 44’, Eliseu Nadjack 53’ e Alex Telles 64’

Equipa de Arbitragem
Árbitro: Jorge Sousa (AF Porto)
Árbitros Assistentes: Álvaro Mesquita e Nuno Manso
Quarto Árbitro: Manuel Oliveira

FC Porto
Onze inicial: Iker Casillas; Miguel Layún, Iván Marcano, Felipe e Alex Telles; Óliver Torres, Danilo Pereira, Héctor Herrera (C) e Jesús Corona; Diogo Jota e André Silva
Suplentes utilizados: André André, Rui Pedro e João Carlos Teixeira
Treinador: Nuno Espírito Santo

Rio Ave
Onze inicial: Cássio; Eliseu Nadjack, Roderick Miranda, Marcelo e Pedrinho; Felipe Augusto, Tarantini (C), Gil Dias, Rúben Ribeiro e Héldon; Hélder Guedes
Suplentes utilizados: Bruno Teles, Filip Krovinović e Ronan
Treinador: Luís Castro

Artigo editado por Rita Neves Costa