A 8 de outubro, Quim Machado tinha-se estreado ao comando do Belenenses com uma vitória por uma bola a zero no Estádio do Bessa. Desta feita, repetiu a faceta, só que numa competição diferente (tinha vencido na Taça CTT). Os homens do Restelo puseram fim a uma boa série de jogos do Boavista, graças ao golo de João Diogo no segundo tempo, que ditou o resultado final de 0-1.

Ambas as equipas apresentaram mudanças nos onzes relativamente ao último jogo que tinham realizado para o campeonato: Miguel Leal apostou em Bukia no lugar do castigado Iuri Medeiros, que tinha visto o quinto amarelo em Arouca. O treinador do Boavista colocou no onze titular o reforço Vagner, guarda-redes conhecido pela passagem no Estoril.

Já Quim Machado estreou Edgar Ié no onze inicial como lateral direito, avançando João Diogo para médio mais avançado. O técnico formou uma frente de ataque com Juanto e o recém-chegado da Taça das Nações Africanas (CAN), Abel Camará, em detrimento de André Sousa.

Oásis chamados balizas

A primeira parte do jogo resume-se, facilmente, em dois adjetivos: combativa e inconsequente. Muitos passes falhados aliados a várias perdas de bola no meio campo caraterizaram uma primeira parte, onde as equipas mostraram-se equilibradas entre si.

No entanto, foram os visitantes que acabaram por tomar a iniciativa do jogo. O Belenenses subiu as linhas, pretendendo sair a jogar desde trás. Algo que foi pouco aconselhável: o quarteto defensivo do Restelo somou perdas de bola face à pressão dos adversários. Falhas que resultaram em livres potencialmente perigosos para o lado boavisteira, tendo apenas um deles criado algum perigo – um remate executado aos 7 minutos por Fábio Espinho, que passou ao de leve por cima da barra.

A equipa orientada por Quim Machado acabou por optar por um futebol mais direto. Com bolas destinadas a Camará e a Juanto — jogador que conseguiu criar jogadas de perigo entrelinhas, mas sempre com pouco critério na decisão dos passes –, que rapidamente chegavam às laterais. À passagem do minuto 27, o habitual lateral direito, João Diogo — neste jogo a atuar como extremo –, tirou um cruzamento perigoso ao segundo poste, onde ninguém surgiu para finalizar.

Dois minutos antes, o Boavista tinha conseguido criar uma jogada de perigo, não surgisse o corte de Domingos Duarte, que fez com que Shembri não tivesse tudo para finalizar sozinho na cara de Cristiano.

A partir daí, o jogo tornou-se muito combativo e mastigado a meio campo, com demasiados passes falhados de cada lado. A jogada de maior perigo surgiu aos 30 minutos de jogo, na baliza da equipa da casa, através de um livre direto executado por Juanto. A entrada da bola na grande área não impediu a defesa de Vagner para canto. Este foi o único lance de perigo a pertencer à equipa que registou maior posse de bola. Contudo, ambas as equipas, quase nunca, conseguiram chegar perto das balizas adversárias.

Golo isolado num deserto de ideias

A segunda metade do encontro começou com um ritmo de jogo mais alto: as equipas estavam mais rápidas na circulação de bola, privilegiando os corredores laterais. A equipa boavisteira entrou mais pressionante nesta fase do jogo, mostrando que queria deixar uma imagem diferente do que foi na primeira parte.

Mas um golo cedo, ainda antes de atingido o primeiro quarto de hora da segunda parte, da equipa visitante, fez o Boavista correr atrás do prejuízo. Numa situação de futebol direto, a defesa do Belenenses despachou a bola para as costas do defesa central contrário, Philipe Sampaio. O regressado Camará ganhou a frente e rematou para uma defesa incompleta de Vagner, deixando à mercê de João Diogo, a possibilidade de inaugurar o marcador no Bessa.

Após o golo sofrido, o Boavista, galvanizado pela reação de apoio vinda das bancadas, encostou o Belenenses na grande área, contabilizando uma oportunidade de golo, no decorrer de um pontapé de canto, com um cabeceamento de Anderson Carvalho a sair ao lado.

Numa fase seguinte, o jogo voltou a entrar num momento mais morno, com a bola quase sempre a ser jogada no meio campo, muito longe de ambas as balizas.

Aos 77 minutos, o Belenenses podia ter aumentado a vantagem. Um cruzamento rasteiro de Camará encontrou Fábio Nunes, que de calcanhar fez a bola passar a centímetros do poste direito da baliza de Vagner.

Os axadrezados responderam, três minutos depois, com um cabeceamento de Philipe Sampaio, na sequência de um pontapé livre. Uma grande intervenção de Cristiano permitiu defender para canto. Nos últimos dez minutos de jogo, a equipa da casa apostou no futebol mais direto, com a entrada de Idé Gomes, por troca direta com Schembri, mas sem efeitos práticos.

À passagem do minuto 85, o Boavista teve a possibilidade, através de dois lances de perigo, de empatar o encontro, mas Mbala, extremo que entrou na segunda parte, atirou muito ao lado.

Com a vitória por uma bola a zero, o Belenenses fica a um ponto de distância do adversário desta sexta-feira na tabela classificativa. Regista apenas a segunda vitória no ano civil de 2017, ao contrário do Boavista, que assinalou a primeira derrota da segunda volta. Os axadrezados, desde que voltaram ao principal escalão do futebol português, tinham recebido e vencido os homens de Belém sempre por 1-0. Este ano, o resultado inverteu-se.

“A equipa demonstrou uma grande força”

Quim Machado, em declarações na conferência de imprensa, afirmou que a equipa teve um “grande rigor e concentração” num “estádio onde é muito difícil jogar pelo ambiente”. Dividiu a partida numa primeira parte “não muito bem jogado e por vezes feio”, em contraste com uma segunda metade onde “a intensidade foi alta e a equipa mostrou essa força que tem” — apresentando soluções, entre as quais as entradas de Edgar Ié, ou até de Abel Camará, com pouco tempo de descanso devido à competição da CAN.

O treinador vencedor deu a entender que o futuro de Fábio Sturgeon não deve passar por Belém. Apesar de apreciar um possível contributo do jogador no Belenenses, o internacional sub-21 português “não faz parte das alternativas”.

“Só reagimos depois de sofrermos o golo”

Miguel Leal, técnico do Boavista, caraterizou a equipa, na primeira parte, como “adormecida, sem garra nem determinação e muito nervosismo na qualidade de jogo ofensivo”. Defendeu, no entanto, que a equipa está em crescimento e que “precisa ainda de muita tarimba”, de modo a aguentar a uma pressão trazida pela série de bons resultados.

Os jogadores não estão habituados e esse factor é visto pelo treinador como “pressão emocional que começou a pesar na equipa”. O técnico axadrezado reiterou que enfrentou uma boa equipa. Apesar do resultado negativo, Miguel Leal afirma que “a equipa continua tranquila e vai fazer um excelente campeonato”, pensando jogo a jogo.

Ficha de jogo
Competição: Liga NOS (19ª jornada)
Estádio: Estádio do Bessa XXI, Porto
Golos: João Diogo 56′
Árbitro: Luís Godinho (AF Évora)
Cartões Amarelos: Philipe Sampaio (29′), Abel Camará (59′), Domingos Duarte (63′) e João Diogo (69′).

Boavista FC
Onze inicial: Vagner; Edu Machado, Lucas, Philipe Sampaio, Talocha; Idris (C), Fábio Espinho, Anderson Carvalho, Renato Santos, Bukia; André Schembri
Suplentes utilizados: Mbala (57´),Makhmudov (60´) e Idé Gomes (75´)
Treinador: Miguel Leal

CF Os Belenenses
Onze inicial: Cristiano; Edgar Ié, Domingos Duarte, Gonçalo S., Florent; Vítor Gomes, Yebda, João Diogo, Fábio Nunes; Juanto, Abel Camara (C)
Suplentes utilizados:  Uri Rossel (72´) André Sousa (87´) e Gonçalo Brandão (95´)
Treinador: Quim Machado

Artigo editado por Rita Neves Costa