Por norma, a pantera está habituada a climas quentes e secos. Neste sábado foi obrigada a abandonar o habitat natural, para enfrentar circunstâncias bem mais adversas. Mas nem por isso esmoreceu. O Boavista foi a Chaves arrancar um empate sem golos e não perde na condição de visitante há dois meses. Dos 28 pontos transmontanos, 18 foram conquistados no Municipal Engenheiro Manuel Branco Teixeira. Ambas as formações vinham de derrotas recentes, mas confirmaram a tendência: flavienses regulares em casa, axadrezados consistentes fora dela.

Correr contra tempo e vento

Há duas jornadas que Ricardo Soares não preenchia a ficha técnica na totalidade. Entre lesionados, suspensões e transferências, as últimas semanas foram agitadas em Trás-os-Montes. A dupla Assis-Battaglia, por exemplo, viajou para Braga. Chegaram Tiba e Bressan, menos rotinados e mais associativos. Apesar deste quadro, os flavienses continuaram a jurar fidelidade ao tradicional 4-4-2, focado na transição ofensiva e em posicionamentos rigorosos sem bola. O regresso de Braga, após castigo, foi a principal novidade no onze azul-grená.

Nos axadrezados, a derrota com o Belenenses terminou uma série de seis jogos sem perder. Para o embate em Trás-os-Montes, Miguel Leal só trocou uma peça: Iuri Medeiros regressou após castigo e ocupou a ala direita do ataque, rendendo o congolês André Bukia. De fora, ficaram o lesionado Henrique e o azeri Agayev, que cumpriu o último dos três jogos de suspensão.

Duelo prometedor entre duas equipas com temporadas acima do expectável. Contudo, o jogo ficou desde logo afetado pelas condições meteorológicas. O campo pesado pela muita chuva que caiu adicionou dificuldades na circulação de bola. Mas foi o vento quem ousou ser protagonista, perante incursões ofensivas mais longas e menos pensadas desde trás. Que o diga Vágner. O guarda-redes brasileiro foi o elemento boavisteiro mais ativo e teve uma tarde inspirada. Pelo chão ou com os punhos, sacudiu toda a ameaça.

À meia hora teve mesmo de evitar um autogolo: Bressan bateu um livre na esquerda, que ganhou um misto de altura, velocidade e efeito. A bola desviou na cabeça de Edu Machado, mas seguia a direção do golo. Valeu uma palmada do ex-Royal Mouscron, a evitar festejos por cima da barra.

A favor do vento, os transmontanos estiveram quase sempre por cima da partida. Tiveram as melhores ocasiões, depois de uma entrada boavisteira mais fulgurante. Concentraram esforços na exploração dos corredores laterais. Pelo meio, Pedro Tiba experimentou várias vezes a meia distância. Tirava quase sempre as medidas certas, mas Vágner dizia presente.

Mais chuva, a mesma tendência

O regresso dos balneários foi menos atrativo. O ritmo de jogo decaiu, com faltas a mais, paragens demoradas e muito jogo direto sem nexo. É certo que o Boavista esteve mais afoito, mas o Chaves continuou a assumir as rédeas. Agora contra o vento. Aos 57’, depois de Renato Santos e Iuri Medeiros terem testado os reflexos de António Filipe, os flavienses voltaram à carga. Fábio Martins apareceu na esquerda e tentou o golo de ângulo apertado. Vágner respondeu com nova defesa apertada.

O tempo passava e a chuva teimava em não dar tréguas. O relvado ficou cada vez mais encharcado e impraticável. Convidava ao erro fácil, pelo que as bolas paradas poderiam tomar um peso crucial no desfecho do encontro. Bressan e Ponck quase confirmavam a tese, mas ficaram pela hipótese.

Ao sexto jogo da era Ricardo Soares, o Chaves somou apenas um ponto. Ultrapassou à condição o Vitória FC (com quem mede forças na próxima jornada) e continua a caminhar com conforto na primeira metade da classificação. Já o Boavista forçou pouco os três pontos e jogou com o relógio. Está em décimo e perdeu pela última vez fora em Paços de Ferreira, a 5 de dezembro. Daí para cá, duas vitórias e três empates em cinco jogos longe do Bessa. Segue-se receção ao SC Braga.

“É preciso um bocadinho de paciência”

Após o ponto somado diante de “um adversário valoroso, com grande qualidade”, Miguel Leal crê que o Boavista “está no caminho certo” para lutar pela permanência. Na zona de entrevistas rápidas da SportTV, o técnico salientou que o “mais importante nesta altura é somar”, pelo que é necessário “um bocadinho de paciência” em relação aos objetivos traçados.

Sobre o mercado de inverno, que encerrou esta semana, Leal confia “nos que já estavam”. Apenas procurou “equilibrar o plantel”, com soluções que conferem “mais tranquilidade”, disse. Já Fábio Espinho sublinhou os obstáculos encontrados no estádio mais setentrional do campeonato. Más condições climatéricas e um “terreno pesado que dificultou a estratégia”, disse aos microfones da SportTV.

“Perdemos dois pontos”

Ricardo Soares considerou injusta a igualdade. “Claramente, perdemos dois pontos, penso que fomos muito melhores desde o primeiro ao último minuto e tivemos muitas oportunidades de golo”, afirmou o treinador flaviense. Ficou um elogio ao “empenho enorme” dos jogadores, “atendendo às características do campo”. Condições que o médio Bruno Braga não deixou de mencionar. “O objetivo era ganhar, mas o terreno não permitiu isso. Fomos a equipa que tentou mais jogar pelo chão”, concluiu.

Ficha de jogo
Competição: Liga NOS (20ª jornada)
Estádio: Municipal Engenheiro Manuel Branco Teixeira, Chaves
Assistência: 2 276 espetadores
Golos: nada a registar
Cartões Amarelos: André Schembri 58’, Lucas Tagliapietra 78’ e Rafael Batatinha 90+2’

Equipa de Arbitragem
Árbitro: Carlos Xistra (AF Castelo Branco)
Árbitros Assistentes: Bruno Rodrigues e Jorge Cruz
Quarto Árbitro: Iancu Vasilica

GD Chaves
Onze inicial: António Filipe; Pedro Queirós, Carlos Ponck, Nuno André Coelho e Nélson Lenho (C); Pedro Tiba, Renan Bressan, Perdigão, Bruno Braga e Fábio Martins; William
Suplentes utilizados: Davidson, Rafael Batatinha e João Patrão
Treinador: Ricardo Soares

Boavista FC
Onze inicial: Vágner Silva; Edu Machado, Philipe Sampaio, Lucas Tagliapietra e Talocha; Idris (C), Fábio Espinho e Anderson Carvalho; Iuri Medeiros, André Schembri e Renato Santos
Suplentes utilizados: Ivan Bulos, Tiago Mesquita e Rochinha
Treinador: Miguel Leal

Texto editado por Rita Neves Costa