O presidente da Câmara Municipal do Porto revelou na reunião da assembleia municipal desta segunda-feira, que o artista plástico e pintor Júlio Pomar, irá reconstruir os frescos numa das paredes do Cinema Batalha. Rui Moreira revelou a novidade durante a discussão da proposta que vai permitir que à autarquia alugar o espaço por 25 anos.

O arquiteto responsável pelo projeto de requalificação do Cinema Batalha, Alexandre Alves da Costa, diz ao JPN que “ainda não foi feita nenhuma sondagem”. “Vamos contactar uma pessoa que vai fazer uma peritagem para ver se se encontra [nos murais] alguma coisa. Se encontrarmos, evidentemente, vamos fazer um esforço para recuperar os murais. Se não encontrarmos nada: fica assim ou pede-se ao Júlio Pomar para pintar outro, isso era o ideal”, explicou.

Os murais de Júlio Pomar, alusivos à festa de S. João, foram pintados em 1946 no foyer principal do edifício e numa parede junto ao balcão do cinema. Os frescos, que durante mais de 50 anos permaneceram ocultados nas paredes do Cinema Batalha, podem ter sido irremediavelmente danificados no decorrer de uma intervenção realizada há alguns anos.

O alerta foi dado, em 2006 por Alexandre Pomar, filho do pintor, segundo o qual os técnicos encarregados de determinar se os frescos podiam ser recuperados terão destruído parte dos murais, como explicou Rui Moreira na noite desta segunda-feira. “A última intervenção no Batalha estragou muita coisa e nós teremos que repor”.

O fresco do Batalha começou a ser pintado em 1946 pelo jovem Pomar, na altura com 20 anos e a frequentar a Escola de Belas Artes do Porto. Em Abril do ano seguinte, o artista foi preso juntamente com outros membros do Movimento de Unidade Democrática, de oposição ao regime salazarista.

O Cinema Batalha é inaugurado em 1947 ainda sem os murais concluídos. Apenas em outubro desse ano é que Júlio Pomar pôde concluir as duas obras: o maior com cerca de 100 metros quadrados ocupava parte do foyer principal do edifício e o mais pequeno foi pintado numa parede no andar superior.

Os dois murais do pintor foram mandados tapar sete meses depois, em 1948, pela censura, que lhes apontou desobediências ao regime.

O Cinema Batalha manteve-se encerrado até 2006, quando reabriu como espaço cultural pela Associação de Comerciantes do Porto (ACP). No fim de dezembro de 2010, a ACP acabaria por entregar as chaves do edifício devido a custos mensais avultados.

No Cinema Batalha, a Câmara do Porto planeia criar a Casa do Cinema. O projeto de reabilitação do edifício estará a cargo dos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez.

Em 2012, o Cinema Batalha foi  classificado como Monumento de Interesse Público e fechou duas vezes nos últimos 17 anos.

Texto editado por Rita Neves Costa