Esta terça-feira foi a vez de Rui Moreira apresentar o filme que mais o marcou na infância. No terceiro dia do IndieJúnior do Porto, o autarca partilhou a obra “O Meu Tio” de Jacques Tati e fez as delícias de muitos. Miúdos e graúdos assomaram ao Teatro Rivoli para um serão de cinema em família e com muitas gargalhadas.

No início da sessão, o presidente da câmara considerou que a organização de um festival de cinema dedicado aos mais pequenos na cidade do Porto é “uma iniciativa notável” e convidou todos os presentes a deixarem-se surpreender pela obra do realizador francês. É um “daqueles filmes que ficam, e ficam porque são obras-primas”, garantiu.

O autarca salientou o caráter atual da narrativa de Jacques Tati, “um filme que tem quase 60 anos mas parece que podia ter sido feito ontem” e que por não ser “tipicamente infantil” é acessível a todas as idades.

A trama do filme, “Mon Oncle”, o título original, contrasta a simplicidade orgânica da vida quotidiana com a ameaça da industrialização e da mecanização. “No fundo, o que o Jacques Tati faz é retratar um bocadinho o perigo de transformar as pessoas em autómatos, se começarem a viver no meio de coisas muito mecânicas”, concluiu Rui Moreira, comparando o fenómeno à popular caça ao Pokemon. “Eu acho que este filme nunca passou de moda e por isso continua a ter graça”.

As peripécias do Sr. Hulot, personagem principal interpretada pelo próprio Tati, fizeram as delícias tanto dos mais pequenos, que viam pela primeira vez como dos mais crescidos que reviviam memórias de infância. Uma plateia que misturou gerações e partilhou gargalhadas quase constantes.

Nesta que foi a primeira edição do festival internacional de cinema infantil e juvenil, a secção intitulada “O Meu Primeiro Filme” convidou várias personalidades da cidade do Porto e escolherem e apresentarem um filme marcante da infância de cada um.

Miguel Valverde, da direção do evento, explicou ao JPN que um festival como o IndieJúnior é essencial no contexto televisivo atual, em que a necessidade de preencher a programação leva à repetição “non stop” dos mesmos episódios, de onde as crianças “não retiram muito mais experiência do que aquela primeira que tiveram”.

Por outro lado, “o que acontece no cinema muitas vezes é exatamente o oposto”, já que “os filmes estão criados com um tipo de linguagem que permite que à medida que se vai vendo, há sempre oportunidade de crescer, há sempre oportunidade de aprender qualquer coisa […] e na realidade contribui para um desenvolvimento do conhecimento do mundo e do próprio conhecimento pessoal da criança que é muito útil estimular”, justificou o diretor do festival.

O objetivo do IndieJúnior é proporcionar toda a experiência de uma sala de cinema onde “a criança tem a oportunidade de estar ao escuro, rodeada de outras pessoas, com as quais sente que há uma vibração que partilha”, e que vai para “além do que é que é ir a uma sessão de cinema normal”.

“Nós queremos que as crianças tenham espírito crítico”

A iniciativa de criar a secção “O Meu Primeiro Filme” no festival permite uma partilha de experiências de diferentes gerações, o que, na perspetiva de Miguel Valverde, “é muito interessante que miúdos mais novos possam ver os filmes que os pais e os avós viram e percebam que aquilo que o avô sentiu quando tinha a idade deles é igual independentemente da geração”.

Quanto à seleção das personalidades portuenses a participarem nesta secção, o diretor do festival disse que Rui Moreira foi uma escolha óbvia, pelo contributo que teve no desenvolvimento cultural e artístico no Porto, e por ser uma pessoa que “claramente tinha tido uma experiência boa de cinema, uma experiência memorável”.

Mas “este festival de cinema pretende ser abrangente e lidar com diversas realidades” lembrou Miguel Valverde, e “a experiência de um autarca é completamente diferente da experiência do diretor artístico do FITEI [Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica]”.  Gonçalo Amorim vai apresentar o filme “Os Goonies” na próxima quinta-feira, “que é um filme de aventuras que qualquer criança gosta”.

O diretor admitiu que não foi fácil escolher e que a lista de possibilidades era extensa, mas ficou a promessa de que nas próximas edições do IndieJúnior pode-se esperar mais novidades. “Acreditando que o festival vai crescer e cimentar-se, então temos uma escolha imensa e outras pessoas completamente diferentes para partilharem filmes”.

Texto editado por Rita Neves Costa