O Espaço Mira recebeu esta quarta-feira ao final da tarde uma sessão de debate público acerca da reabilitação da freguesia de Campanhã. A sessão permitiu que os cidadãos apresentassem propostas de alteração ao plano municipal, que planeia obras que vão durar de 10 a 15 anos no valor de 75 milhões de euros.

Espalhados por diferentes componentes, entre as quais, espaços públicos, espaços verdes, rede viária, mobilidade suave (ciclovias, ecopistas, passeios) e equipamento, Campanhã tornar-se-à mais “amigável” para os portuenses. Mas o maior investimento vai ser no património já edificado e na recomposição dos tecidos urbanos, estimando-se um gasto de mais de 50 milhões de euros nesta área de intervenção.

Na plateia, Paulo Barros Vale, reflete sobre a pouca atenção dada à zona de Campanhã nos últimos anos. “Há décadas que se falava que era preciso alguma estruturação definitiva desta zona esquecida da cidade. O Porto está dividido numa zona ocidental mais rica, numa zona oriental mais pobre e esquecida e muito se falou, mas muito pouco se fez até agora. Isto pode alterar completamente esta dicotomia que existe dentro do Porto”, explica.

Objetivos da requalificação

No debate desta quarta-feira foram esclarecidos cinco eixos estratégicos — a atividade económica, a mobilidade sustentável, a qualificação do ambiente urbano, a sustentabilidade ambiental e a inclusão social e cidadania ativa –, dez projetos estruturantes e 39 ações, contidos no projeto.

Melhorar as condições habitacionais e de bem-estar dos residentes são os principais objetivos da requalificação. Outros alvos do plano camarário para Campanhã são a dinamização de atividades económicas, a renovação da imagem da zona e a implementação de um modelo de intervenção integrado, eficiente e participado.

Isabel Martins do Departamento Municipal do Planeamento Urbano diz que a requalificação não se restringe à área de Campanhã, envolve também alguns espaços circundantes. “Entretanto, estamos a desenvolver novos trabalhos de limitação de áreas de reabilitação urbana, também fora deste espaço mais central, na zona ocidental (Foz Velha e Lordelo)”.

Debate Público em Campanhã

Quais os passos seguintes?

O vereador do pelouro do Urbanismo, Manuel Correia Fernandes, explicita qual a próxima etapa na captação dos recursos financeiros. “Vamos ter de arranjar esses 75 milhões [de euros] e para isso é necessário que não só a Câmara Municipal do Porto, como as empresas municipais,  as juntas de freguesias, os cidadãos e as suas instituições não só façam força nesse sentido, como tomem iniciativas”, afirma.

Correia Fernandes diz que é necessário fazer um apelo aos privados para intervirem no território de reabilitação urbana e sublinha que “os incentivos e benefícios de caráter fiscal e outros são muito significativos”. E acrescenta: “O Estado reduz o IVA de 23% para 6% em tudo quanto são intervenções que tenham a ver com reabilitação. Por isso, isto é um esforço que a sociedade faz”.

Debate Público em Campanhã

Realojamento é prioridade

O arquiteto da Sociedade Portuguesa de Inovação, João Semblano, responsável pelo projeto, resume a operação de requalificação em “oito ações prioritárias: a reabilitação do edificado da zona da Lomba, das zonas de Formiga, Agra e China, dos espaços edificados de Noeda e Navega, dos conjuntos habitacionais em frente à estação de Campanhã e na Rua Justino Teixeira,  da área situada entre a Rua Pinto Bessa e a Avenida 25 de Abril, a análise de edificações classificadas como ilhas, valorização de terrenos municipais e a conceção de um programa de realojamento”.

O arquiteto abordou um ponto que gerou discórdia na plateia: o realojamento de “400 famílias num espaço de sete anos. Este número corresponde a cerca de 50% do número de famílias atualmente a residir em ilhas, em edifícios hoje devolutos, a preservar e a reabilitar principalmente no Bonfim”.

Alguns cidadãos alertaram para a desvinculação das populações durante o futuro processo de realojamento. Rui Fernandes, cidadão presente na plateia, refere que os novos habitantes “deviam ser de classe média e classe alta para promover mistura e não haver pessoas que venham de outros lados complicados”. O interveniente concluiu: “O lado oriental já tem sido massacrado que chegue”.

Projeto intermodal será apresentado na sexta-feira

Cristina Pimentel, vereadora da Mobilidade, esclarece que o Terminal Intermodal de Campanhã  é “um terminal rodoviário” e o projeto será tornado público na próxima sexta-feira. A vereadora admite que “o terminal não será suficiente para responder às necessidades que a cidade tem nessa matéria, mas é um primeiro passo do qual a cidade carecia há muitos anos”.

Texto editado por Rita Neves Costa