Contam-se pelos dedos as rádios que emitem noticiários a partir do Porto. No Dia Mundial da Rádio, o JPN foi conhecer as rotinas e o lado B da "Manhã Nova" e da "Tarde TSF".

Nos anos oitenta, muitas rádios piratas calaram-se para sempre. Sobraram os projetos novos, fortes e sofisticados, apoiados por grupos económicos de grande dinâmica empresarial. São as maiores consequências da legislação de 1989, na qual o Governo autorizou mais de 300 estações a emitir. A presença do Estado (RDP) e da Igreja Católica (Rádio Renascença) na radiodifusão a nível nacional saiu reforçada. Já no âmbito regional, apenas duas frequências foram concedidas.

Em Lisboa, a Presselivre ocupou a maior frequência com a Correio da Manhã Rádio. Mais a norte, foram atribuídas cinco frequências no Porto: 90.0 (Activa), 91.5 (Press), 94.8 (Festival), 95.5 (Placard) e 98.9 (Nova). Hoje em dia, só a Press (que evoluiu para a TSF), a Nova e a Rádio Festival emitem noticiários a partir do Porto. Muito embora pouco ou nada tenham a ver uma com a outra.

“O Porto não tem força suficiente”

De segunda a sexta, Sérgio Sousa e César Nóbrega acordam o Porto em 98.9. Durante quatro horas, a “Manhã Nova” traz notícias, trânsito, meteorologia, música, rubricas e alguma brincadeira à mistura. “São sobretudo piadas do momento, nada é guionado”, garante Sérgio.

César é do tempo em que as cassetes reinavam no mercado musical. Agora, muitos anos depois, confessa ter “tudo facilitado para fazer o que quiser”. Desde as playlists alteradas em poucos cliques aos programas de edição que permitem emissões infindáveis. Mas nem só de rosas se ornamenta a era do digital. “Trouxe o problema de teres um leitor de mp3 muito grande a tocar e a transmitir em FM”, ideia que Nóbrega lamenta porque “a rádio é outra coisa”.

Tal como muitas rádios locais, a Nova tem a programação noturna e de fim de semana assegurada por conteúdos gravados. Tem, contudo, noticiários mais focados no Porto. Uma exceção à regra, já que a tendência é para a “concentração empresarial e geográfica” em redor da capital. Sérgio Sousa lamenta que a segunda maior cidade do país não tenha “força suficiente”, em termos políticos e de mercado, para contrariar o panorama atual. Fala numa redução da “dimensão e da quantidade dos meios”, potenciado pela existência de poucos grupos de comunicação. No presente e no futuro, “é tudo uma questão de economia”, remata Sérgio.

“Estar no Porto não complica a vida”

Das três rádios de âmbito nacional, só a TSF continua a emitir noticiários num dos horários nobres, a partir do Porto. Tem duas redações separadas por mais de 300 quilómetros, pelo que “vencer a distância” é objetivo diário. Contudo, Artur Carvalho diz que “estar no Porto não complica a vida”. O coordenador da “Tarde TSF” refere que os media “sempre se concentraram”, mas lembra o velho hábito de fazer edições da Invicta “para todo o mundo através da Internet desde 1998”. O lastro existe há muito tempo, embora fosse aconselhável “ter mais gente” para encontrar histórias ao fundo da rua, alerta.

Nuno Miguel Martins diz que é desafiante fazer rádio a partir do Porto, já que a equipa de Desporto está quase toda em Lisboa. “Mas também não é nenhum drama”, conta o jornalista. Há acontecimentos que já estão programados, como as conferências de imprensa. Quando aparece alguma novidade de última hora, o telefone e o email agilizam em segundos o planeamento da edição.

A Internet veio mesmo solidificar “rotinas mecânicas”, refere Ramiro Medeiros. O técnico da TSF lembra que chegou a montar entrevistas com bobines e fitas de material plástico. Agora tem “edições muito mais facilitadas”, também porque consegue “aceder a todos os sons e programas que vão para o ar”. Mas se a Internet calha de falhar, está o caldo entornado.

 

Artigo corrigido às 10h00 do dia 13 de fevereiro. Além da TSF e da Nova, também a Rádio Festival emite noticiários a partir do Porto, considerando as rádios que possuem licença local.