Descobrir novas terapias para a regeneração do osso é o objetivo da investigação de Maria Inês Almeida, 33 anos, uma das quatro premiadas pelas Medalhas L’Oréal.

O projeto faz parte do pós-doutoramento da investigadora, que pretende criar alternativas de tratamento, por exemplo, em doentes com osteoporose ou com fraturas por cirurgias de remoção de tumores. Através da molécula RNA Não-Codificante, seria possível acelerar a regeneração do osso e controlar possíveis inflamações: “Quando temos uma fratura óssea, uma das primeiras reações é inflamatória e nós pretendemos, através destes RNA, controlar essa inflamação, acelerar o crescimento destas células e a sua diferenciação e promover a regeneração”, explicou ao JPN.

No seu trabalho, Maria Inês Almeida fala de duas abordagens de investigação: in vitro, utilizando células derivadas da medula óssea de doentes do Hospital São João e in vivo, em que se avalia a capacidade de regeneração do osso em ratos, fazendo uso das moléculas RNA.

Prémios como a Medalha L’Oréal são considerados pela investigadora como um reconhecimento do papel da ciência e um incentivo para continuar a sua linha de investigação, que conjuga a biologia molecular e a regeneração óssea.

O prémio tem um valor de 15 mil euros para cada uma das investigadoras selecionadas e a equipa de Maria Inês Almeida vai aplicá-lo na continuação da investigação, na divulgação e para levar o trabalho aos resultados que a investigadora pretende obter.

“Nunca tive um contrato de trabalho”

Apesar do reconhecimento e do apoio de iniciativas como esta, a investigadora recorda que o pior problema da área em que labora é a precariedade: “Sou bolseira há mais de 10 anos, ou seja, nunca tive um contrato de trabalho, não tenho qualquer benefício social e, para o Estado, praticamente não existo. Continuar a ser bolseira faz com que esta seja uma vida muito instável”.

Maria Inês Almeida considera que “às vezes a ciência não é assim tão reconhecida pela sociedade” e fala do exemplo das mulheres “que muitas vezes veem a sua carreira científica parcialmente interrompida pela maternidade, por exemplo”, reforçando a importância de apoios como este.

Existem mais projetos em paralelo, mas a investigação premiada é aquela a que dedica mais tempo. Mas não é um trabalho individual. Maria Inês Almeida conta com uma equipa que considera “fantástica” e não esquece os agradecimentos “a algumas pessoas em particular, à Susana Santos e Andreia Silva, que realmente têm ajudado imenso no trabalho desenvolvido. A ciência é muito assim, nós temos de colaborar e ajudar-nos uns aos outros”.

Além de Maria Inês Almeida, foram ainda distinguidas Ana Rita Costa, do Instituto Gulbenkian de Ciência, Patrícia de Carvalho Baptista, do IN+ Center for Innovation, Technology and Policy Research do Técnico e Maria Isabel Mendes Veiga do ICVS – Life and Health Sciences Research Institute, da Universidade do Minho.

As quatro premiadas foram selecionadas entre 80 candidatas, cujos projetos de investigação foram avaliados por um júri presidido pelo investigador e deputado Alexandre Quintanilha.

O prémio foi entregue esta terça-feira, em Lisboa, numa cerimónia presidida por Marcelo Rebelo de Sousa. A iniciativa já conta com 13 edições e apoiou 41 investigadoras na área da ciência.

Artigo editado por Filipa Silva