Definir barreiras e percecionar atos de violência são os objetivos principais da nova linha que pretende apoiar projetos de combate à violência no namoro. “Muda de Curso: Violência no namoro não é para ti!” surgiu em 2016 e foi apresentado esta terça-feira no Pólo Zero da Federação Académica do Porto (FAP).

Em abril do ano passado, a Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade (SECI), em conjunto com várias federações, associações académicas e algumas organizações não governamentais (ONG), decidiram criar uma campanha promocional que fosse “impactante e disruptiva”, conta Catarina Marcelino, secretária de Estado desta pasta. A ação foi divulgada em festas académicas, outdoors, redes sociais e na comunicação social. Por agora está a ser dinamizada nas cidades onde existem politécnicos e universidades.

Para concretizar o projeto dentro das instituições de ensino superior, a SECI lançou um programa de financiamento. O Estado quer dar oportunidade a organismos das academias para desenvolverem, no próximo ano letivo, ações “criativas, inovadoras e sem barreiras”, sublinha Catarina Marcelino. As iniciativas são levadas a cabo pelos próprios jovens universitários.

Datas:

Prazo de candidatura: 15 de março a 30 de abril

Avaliação dos projetos: 1 a 31 de maio

Execução: ano letivo 2017/18

Regras:

– Financiamento total estimado em 50 mil euros;

– Cada projeto recebe até 5 mil euros, embora o valor dependa do número de candidaturas;

– Os projetos são desenvolvidos por federações e associações académicas;

– Devem apelar à criatividade, podendo originar produtos (peças de teatro, blogs ou sites, entre outros).

“É tempo de agir na prevenção”

Durante a apresentação da linha de apoio, a secretária de Estado da Cidadania e Igualdade referiu que o facto de serem jovens a falarem para jovens foi um fator de sucesso da campanha. Ao mesmo tempo, o projeto teve a capacidade de integrar a sensibilidade das federações e associações académicas. A estratégia nacional da educação para a cidadania “é fundamental e tem que passar por trabalho do pré-escolar ao 12º ano, mas que não pode deixar de fora as universidades”, explicou Catarina Marcelino.

A responsável pela SECI sublinhou ainda que “é tempo de agir na prevenção, para que a legitimação da violência pare”. Em conversa com o JPN, Catarina Marcelino disse que um dos fatores decisivos para o combate à violência, discriminação e estereótipos é o “empoderamento das comunidades e das pessoas”. Mas para “fazer a transformação social”, é necessário “dar competências e capacidade às organizações locais, às universidades e aos municípios para poderem ser agentes de mudanças”, sugere.

O secretário de Estado da Juventude e do Desporto (SEJD) também esteve presente e lembrou que a violência no namoro, apesar de atingir desproporcionalmente as mulheres, abarca uma grande diversidade de relacionamentos. João Paulo Rebelo referiu a necessidade de dar “visibilidade às relações de intimidade entre pessoas do mesmo sexo, ao facto de os rapazes também poderem ser vítimas de uma relação heterossexual, ou ainda a diversas manifestações de violência que não apenas a física”.

O responsável pela secretaria do Desporto e da Juventude referiu que “potenciar programas, rentabilizar recursos e concertar respostas” é o papel do Governo em parceria com a sociedade civil. A par do “Muda de curso”, o secretário de Estado lembrou o projeto “Namorar com Fair-Play”, também de prevenção da violência no namoro. O programa é dinamizado pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e vai ser alargado ao ensino superior, com a realização de projetos-piloto nas universidades.

“Problemática silenciosa”

Ana Luísa Pereira diz ao JPN que “é no sistema educativo que todos os problemas sociais devem ser identificados, debatidos e solucionados”. A presidente da Federação Académica do Porto chama para as federações e as associações académicas a responsabilidade em iniciar “projetos que tenham impacto real na vida dos estudantes”.

No caso particular da violência no namoro, as entidades universitárias atuam como “um agente de transformação social para aqueles que sofrem em silêncio com estes problemas”, indica Ana Luísa. O combate incide “essencialmente na sensibilização”, até pela proximidade aos estudantes, sejam vítimas ou colegas.

A dirigente da FAP acredita que a violência entre namorados “é uma problemática silenciosa”. Por ser discreta e até desconhecida em alguns casos, “é difícil ter certezas quanto ao número de jovens afetados”. Certo é que “a violência tem muitas formas, que deixam marcas e consequências que custam a sarar”, aponta Ana Luísa Pereira.

Texto editado por Rita Neves Costa