A direção do Boavista garante não ter sido informada oficialmente do pedido de insolvência da Somague, avançado esta quinta-feira pelo Sapo24. Em causa, de acordo com o portal de notícias estará uma dívida superior a 50 milhões de euros referente à renovação do Estádio do Bessa em 2003. O grupo empresarial terá entregue o processo no Juízo de Comércio do Tribunal de Gaia.

Em comunicado, o Boavista nega ter recebido qualquer citação oficial e diz que foi a Somague quem não cumpriu o estipulado. Os axadrezados socorrem-se do Processo Especial de Revitalização (PER) a que se apresentaram em 2012, para afirmar que o valor reclamado pela Somague nesse processo foi de 29 milhões de euros, acrescido de juros.

No final do processo, ficou acordado que os credores, incluindo a Somague, perdoariam os juros e reduziriam o valor das hipotecas sobre o património do clube.

“Tal valor foi reduzido nos termos do processo, votado pela esmagadora maioria dos credores, para 18.694.119,40 Euros, com perdão da totalidade de juros vencidos e vincendos. Não fazem como tal qualquer sentido os números fantasiosos constantes da dita ‘notícia'”, sustenta o Boavista.

Segundo o Sapo24, a Somague – na pessoa do seu diretor de marketing e comunicação, Luís Garcês – confirmou o pedido de insolvência e justificou-o alegando que o emblema histórico da cidade do Porto falhou consecutivamente as datas de pagamento desde a renovação do estádio em 2003 até ao presente.

Um litígio com 13 anos

Em 2005, perante graves problemas financeiros, a SAD do Boavista recorreu a um Plano Extrajudicial de Conciliação, no qual deu como garantia o Estádio do Bessa para salvar o futebol profissional do clube. A Somague ficou com a primeira hipoteca e esteve perto de comprar o estádio em 2008, quando o equipamento esteve em hasta pública fruto de dívidas do histórico portuense ao fisco. Na altura, esta venda foi impedida pelos sócios, através de uma impugnação judicial.

Em 2010, quando o clube militava na segunda divisão, a Somague fez o primeiro pedido de insolvência do Boavista, reclamando uma dívida de 34,5 milhões de euros. Nesse mesmo ano, a empresa siderúrgica JCV Alves apresentou um pedido idêntico, no valor de 106 mil euros.

No ano de 2012, sem ter ainda saldado a dívida de renovação do estádio, o Boavista apresentou-se a um Processo Especial de Revitalização (PER), no sentido de reduzir os juros associados à dívida e o valor das hipotecas sobre o património do clube, como é o caso do estádio. A Somague alega que o Boavista voltou a não cumprir o pagamento, enquanto que os axadrezados acusam o grupo empresarial de faltar ao acordo do PER.

Em 2014, a SAD apresentou-se a um Sistema de Recuperação de Empresas por Via Extrajudicial (SIREVE), um plano estratégico com intervenção do Governo para reestruturar o clube no sentido de garantir a sobrevivência das suas atividades, ao mesmo tempo que os credores veem as suas exigências minimamente satisfeitas. Este plano exige um acordo entre a empresa e os seus credores, desde que representem pelo menos um terço do total das dívidas da empresa. A Somague é um dos principais credores do Boavista.

A utilização do estádio do Bessa por parte do histórico da cidade do Porto pode estar em risco mas o futebol profissional não sofrerá consequências diretas, já que o processo foi colocado ao clube e não à SAD.

O Boavista referiu ainda na nota pública estar disponível para dialogar com a Somague.

Artigo editado por Filipa Silva