O mundo acordou esta terça-feira com a confirmação da morte de Vitaly Churkin, embaixador russo nas Nações Unidas (ONU). A notícia foi avançada por diversos media internacionais, sendo também apontada a causa de morte: problemas cardíacos. O falecimento ocorreu esta segunda-feira, em Nova Iorque.

Churkin era o representante permanente da Rússia na ONU desde 2006 e o embaixador com maior tempo de serviço no Conselho de Segurança da organização. O diplomata russo era tido como um dos homens mais leais a Vladimir Putin, presidente da Rússia e era também um acérrimo defensor da política internacional do seu país, cada vez mais criticada no seio da organização em dossiês como o da Crimeia ou da Guerra na Síria.

As reações não se fizeram esperar, tanto do lado russo como da comunidade internacional. Do lado do governo da Rússia, em carta dirigida aos familiares, Putin mostra grande pesar pelo sucedido, destacando o profissionalismo de Churkin e a sua “profunda inteligência e extraordinária energia”. É também destacada a sua capacidade de defender a posição da Rússia consistentemente por mais de dez anos, por muitas vezes em situações bastante tensas.

Do lado da comunidade internacional, o embaixador britânico nas Nações Unidas, Matthew Rycroft, foi o primeiro a pronunciar-se sobre o assunto, destacando a perda de um “gigante diplomático”. A representante dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, enalteceu a capacidade que Churkin tinha para defender as posições do seu país, apesar de nem sempre terem os mesmos pontos de vista.

Casos da Rússia nas Nações Unidas

O falecimento de Vitaly Churkin surge numa altura em que a Rússia está envolvida em diversos assuntos polémicos, destacando-se as acusações de manipulação nas eleições americanas e francesas e os bombardeamentos sobre Aleppo, atingindo forças rebeldes mas também edifícios civis, como o hospitais.

O rol de acusações não acaba aqui, sendo a Rússia também acusada de envolvimento numa tentativa de golpe de Estado ocorrida em Montenegro em outubro do ano passado, com o suposto objetivo de impedir a entrada desta nação na NATO. As suspeitas foram lançadas pelas autoridades montenegrinas que afirmaram que a conspiração havia sido orquestrada por nacionalistas russos.

O “fiel cumpridor das ordens de Putin”

José Milhazes, antigo correspondente da SIC em Moscovo, contactado pelo JPN, dá destaque ao facto de Churkin ser “um homem que se formou na diplomacia soviética”, de ser “um fiel cumpridor das ordens de Putin”, alguém “que defendia de forma bem argumentada e por vezes até ardente, as posições de Moscovo em momentos difíceis, como por exemplo na anexação da Crimeia”.

A opinião é partilhada por Manuel Loff, diretor do curso de mestrado em História, Relações Internacionais e Cooperação: “Era um homem já com um grande passado diplomático que era particularmente fiel ao presidente Putin e elogiado pelos seus colegas. Os outros embaixadores, designadamente dos países com representação e direito de veto no Conselho de Segurança, toda a gente o descreve como um homem eficaz na defesa interesses russos”, declara ao JPN.

O autor de “As Minhas Aventuras no País dos Sovietes”, recentemente publicado pela Oficina do Livro, não antevê que a morte do diplomata tenha quaisquer consequências ao nível da política externa da Rússia: “Ele faz parte de uma hierarquia rígida e, por isso, não será por ele que a Rússia vá mudar uma ou outra posição. Ele pode só embrulhar as posições russas em declarações mais sofisticadas, menos sofisticadas, contactar com os outros parceiros do Conselho de Segurança, de uma forma mais aberta ou não mas, em princípio não haverá mudanças de fundo”.

Manuel Loff tem a mesma posição: “Ele será subsituído identicamente por um diplomata de carreira russo que seguirá as mesmas passadas do Churkin”, conclui.

Artigo editado por Filipa Silva